Carros de luxo, mansões, festas, grandes estádios, patrocínios milionários. Essas são as imagens que vêm à cabeça da maioria das pessoas quando se fala de futebol profissional. Não é para menos que o sonho de se tornar jogador de futebol seja coisa comum para garotos de comunidades mais carentes.
Entretanto, esse sonho torna-se realidade apenas para uma ínfima parcela. No Brasil, pro volta de 4% dos jogadores ganham acima de R$ 5 mil por mês (Pluri Consultoria, 2019). Mais de 82% recebem menos de um salário mínimo (idem). Então, há um abismo entre entre os jogadores (e clubes) no futebol. E esse fenômeno não é somente no Brasil, mas em todos os países onde o futebol atingiu o “pleno” profissionalismo.
Além da diferença de salários, há a diferença absurda de infraestrutura entre os clubes. Enquanto alguns clubes contam com modernos centros de treinamento e fisioterapia, outros alugam academias de bairro para que seus jogadores possam fazer o fortalecimento muscular. Tem-se aí o reflexo claro de como o capitalismo age também no futebol. Equipes menores são rapinadas pelos clubes maiores, seja pelo bom e velho “apito amigo” quanto pelo assédio descarado a jogadores e treinadores, que são vendidos por meros “trocados de bala”.
A crise do capitalismo junto com o COVID-19 escancaram ainda mais os efeitos dessa desigualdade. Apenas na Série A do Campeonato Carioca, 250 jogadores já estão sem contrato. Em São Paulo, 34% dos jogadores estão ou estarão sem contrato nos próximos meses.
O Santo André, que, este ano, já venceu os milionários São Paulo e Bragantino, além de empatar com o Corinthians em Itaquera, foi dizimado pela falta de ação da CBF e da FPF. O clube perderá 21 de 26 jogadores inscritos por fim de vínculo ainda em abril. Hoje, o Ramalhão é o clube com melhor pontuação do campeonato, junto com Palmeiras, porém vence este nos critérios de desempate.
Caso se confirme a perda de boa parte desses jogadores, o campeonato paulista deste virará uma grande marmelada, onde os pequenos são impossibilitados de qualquer coisa se não o fracasso.
Somado ao aspecto esportivo, tem-se também o aspecto do trabalho. Como dito anteriormente, a maioria absoluta dos jogadores recebem salários iguais ou menores que o salário mínimo e logo ficarão sem remuneração alguma. Eles se juntarão aos milhões de desempregados no país. Sem assistência financeira e de saúde e de emprego.
A situação atual mostra que o futebol, não apenas no Brasil, mas no mundo, é, assim como sistema capitalista, construido sobre uma estrutura frágil, feita para alimentar alguns poucos enquanto outros “comem o pão que o diabo amassou”. Ao invés de buscar soluções para o problema imediato, clubes, federações, empresários, imprensa e patrocinadores perdem tempo fazendo especulações se o campeonato brasileiro deve ter 38 rodadas, se deve-se aproveitar a “oportunidade” para adequar o calendário do futebol brasileiro ao Europeu ou se o Liverpool deve ser declarado campeão do campeonato inglês.
O problema prático neste momento é como manter o emprego e renda dos jogadores e funcionários dos clubes com menos condições financeiras. Estes são trabalhadores e têm direito a toda assistência nesse momento de crise. Por isso, cabe aos profissionais do futebol se mobilizarem imediatamente, assim como as demais categorias que estão perdendo sob forte ataque da burguesa, para garantirem sua sobrevivência.