Arte em meio à quarentena
Em meio à pandemia do vírus Corona (COVID19), uma série de profissionais tem se encontrado sem condições de desempenhar suas atividades, entre eles a classe artística, que em grande medida depende da concentração de pessoas em shows musicais, peças de teatro ou apresentações nas ruas.
Uma coisa é certa, a expressão artística sempre acha seus caminhos. No Brasil, a exemplo do que já ocorre na Europa, vários shows musicais começaram a ser transmitidos pela internet. Se por um lado, trata-se de uma ótima opção de lazer para quem tem condições de se manter em quarentena, por outro, esta opção só é viável para artistas já conhecidos, com público estabelecido, e mesmo assim sem retorno financeiro suficiente e garantido.
Neste cenário, como ficam os artistas menos conhecidos, com menos estrutura de divulgação? Como farão os artistas de rua para não passarem fome?
Para expressar as angústias que permeiam o meio artístico diante das proibições da realização de eventos, o compositor pernambucano Juliano Holanda divulgou estes versos em sua página no Instagram:
“E se vier um vírus/ E colocarem máscaras/ E se queimarem arquivos/ E fabricarem facas/ E se lhe derem gritos/ E te matarem vivo,/ Se te fecharem portas,/ Se te negarem abrigo/ Cuidem-se/ E cuidem dos seus amigos.”
Ações estatais não atendem aos artistas que mais precisam
Alguns editais para shows online estão sendo preparados, por exemplo pelo Governo do Rio Grande do Sul e pela Prefeitura de São Paulo, com o Festival Janelas de São Paulo, porém tendem a contemplar artistas já consagrados e talvez apenas alguns poucos artistas com menos recursos.
A solidariedade entre artistas tem despontado como uma estratégia inicial, diante de um cenário que não foi previsto. No entanto, estas ações não têm o potencial de atingir amplamente os milhares de artistas espalhados pelo território nacional.
É preciso que o Estado arque com estes prejuízos oferecendo uma ampla quantidade bolsas e não restringindo as verbas públicas a alguns poucos. Além disso, o acesso a estas verbas precisa ser facilitado para atingir os que mais precisam delas.
O Estado precisa cumprir o seu papel social neste momento crítico. É hora de abrir os cofres para socorrer a população durante a restrição dos eventos sociais.
Os artistas precisam se organizar para cobrar ações efetivas do poder público em nome da própria sobrevivência. É tempo de ampliar as ações de solidariedade no sentido de organizar a classe artística em prol de políticas de assistência ampla e pública para os mais afetados.