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Polêmica com Jones Manoel

Rev. Permanente: a luta do marxismo contra o revisionismo stalinista

A teoria da Revolução Permanente é a defesa concreta do marxismo nos dias de hoje.

No momento em que nosso partido se prepara para sua 3ª Escola Marxista, que tratará o tema da revolução permanente, chegou a nosso conhecimento um vídeo publicado por Jones Manoel, youtuber e militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro). O vídeo, que tem o nome Revolução permanente ou socialismo num só país: 80 anos de uma falsa polêmica, foi publicado no dia 3 de março do ano corrente em sua conta do YouTube.

Como se pode deduzir pelo título do vídeo, o tema central da discussão é a teoria da revolução permanente, elaborada pelo revolucionário Leon Trótski com base no balanço de sua experiência nas três revoluções russas. O que chama a atenção particularmente nesse caso é que Jones Manoel, muito longe de se propor a explicar a teoria, veio a público questionar a sua validade, sendo que esse debate já foi superado pela própria experiência da classe operária mundial.

A teoria da revolução permanente, que já havia sido inicialmente discutida no balanço que Trótski fez da Revolução Russa de 1905, se consolidou como uma arma fundamental dos marxistas contra a teoria revisionista do socialismo em um só país, apresentada principalmente por Nikolai Bukharin e Josef Stalin. A “teoria” do socialismo em um só país, foi uma teoria de ocasião formulada em 1924 para justificar a ascensão da política contra-revolucionária da burocracia stalinista que usurpou a tradição da revolução de 1917 e o partido Bolchevique em nome da consolidação dessa casta reacionária. Sobre a oposição entre as teorias, Jones Manoel diz o seguinte:

Após a derrota do grupo do Trótski no 15º Congresso do Partido em 1927 é que o debate foi ganhando ares mais caricaturais de ambas as partes — e ambas as partes têm proporções de máquinas políticas diferentes, o Stalin e o Bukharin controlavam a máquina maior porque ficaram com o Estado e o Partido, e o Trótski tinha uma máquina muito menor, evidentemente. (…) Stalinistas falam: ‘Trótski era contra construir o socialismo, ele defendia entregar de volta ao czar’ — Trótski, evidentemente, nunca falou isso. Trotskistas falam: ‘Stalin era contra a revolução mundial, então ele defendia a tese do socialismo em um só país e a União Soviética abandonou o internacionalismo.

Diante das considerações feitas pelo pecebista, chegaríamos à conclusão de que a disputa entre Trótski e Stalin era não mais do que uma disputa pelo controle do Partido Comunista. Ou seja, ou a teoria da revolução permanente e a teoria do socialismo em um só país não teriam validade ou ambas teriam validade mas não se oporiam. Quaisquer umas das alternativas revela uma posição idealista e, portanto, antimarxista.

Em poucos anos, Trótski saiu da condição de comandante máximo do Exército Vermelho para a de inimigo número 1 do regime soviético. Sua família inteira foi perseguida, ele mesmo, assassinado em outro continente e seus apoiadores, perseguidos em todo o mundo. Ao mesmo tempo, responsabilizava Stalin por uma série de erros que levariam a derrota da classe operária em todo o mundo e conseguiu reorganizar uma série de elementos que abandonaram a Terceira Internacional. Conceber que um conflito dessas dimensões, que envolveu exércitos, partidos e um Estado inteiro se deu por causa de uma disputa individual pelo controle da União Soviética seria inadmissível. Seria o mesmo que considerar que milhões de pessoas se organizaram em torno de Stalin e que um grande número de pessoas vêm se organizando em torno do programa da Quarta Internacional apenas porque se convenceram, abstratamente, de suas ideias.

O abismo que se abriu entre Trótski e Stalin tem a mesma origem que todos os conflitos fundamentais da sociedade: a luta de classes. Qualquer outra tese seria, portanto, creditar à luta das ideias como o motor da história. Desse modo, ao invés de recorrer à absurda afirmação de que o debate entre Trótski e Bukharin-Stalin é uma polêmica inexistente, seria preciso responder à seguinte pergunta: a que classe interessa a teoria da revolução permanente e a que classe interessa a teoria do socialismo em um só país?

Essa resposta pode ser dada pelo próprio Trótski em suas teses sobre a revolução permanente:

Para os países de desenvolvimento burguês retardatário e, em particular, para os países coloniais e semicoloniais, a teoria da revolução permanente significa que a solução verdadeira e completa de suas tarefas para alcançar a democracia e a emancipação nacional só é concebível por meio da ditadura do proletariado, que  assume a liderança da nação oprimida, acima de todas as suas massas camponesas.

(…)

Quaisquer que sejam as primeiras etapas episódicas da revolução nos diferentes países, a aliança revolucionária do proletariado com os camponeses só é concebível sob a direção política da vanguarda proletária organizada como partido comunista. Isso significa, por outro lado, que a vitória da revolução democrática só é concebível por meio da ditadura do proletariado, que se baseia em sua aliança com os camponeses e resolve, em primeiro lugar, as tarefas da revolução democrática

A teoria da revolução permanente estabelece claramente que a ditadura do proletariado é o único regime capaz de levar a revolução socialista adiante. Isto é, mesmo que a tomada do poder precise se dar através de uma aliança com setores do campesinato, é a classe operária quem deve dirigir todo o processo revolucionário. Deste modo, os interesses que são defendidos por Trótski são os da classe operária em sua luta implacável pela completa destruição do modo de produção capitalista. E, sendo a classe operária a classe dirigente, a revolução terá, naturalmente, uma perspectiva internacionalista, uma vez que as reivindicações da classe operária só estarão atendidas com a revolução socialista mundial — isto é, definitiva.

A teoria do socialismo em um só país, por outro lado, estabelece o processo oposto. Ou seja, que, nos países atrasados, haveria uma etapa de revolução democrática conduzida por uma aliança com setores burgueses e, por fim, uma revolução socialista. Mesmo na Rússia, em que o poder já havia sido tomado pela classe operária, os defensores da teoria do socialismo em um só país se mostraram incapazes de formular uma política que colocasse a classe operária como classe dirigente: na ausência de um programa para a classe operária, defendiam uma política contra-revolucionária que não visava liquidar as demais classes sociais. E na medida em que isso não foi feito, as condições para que a classe operária russa impulsionasse uma revolução mundial ficavam ainda mais difíceis.

Confundir tais teorias só serve, obviamente, para jogar lama na teoria da revolução permanente, que é, como vimos, a defesa dos interesses da classe operária e, portanto, do marxismo. Ao fazer isso, Jones Manoel acaba por desencavar o revisionismo stalinista, que, muito mais do que servir para que o grupo de Stalin permanecesse no poder, serviu de justificativa para inúmeros desastres políticos, como as frentes populares, que se comprovaram um tremendo crime contra a revolução mundial e que estão sendo insistentemente trazidas a debate na atualidade por iniciativa da burguesia.

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