No último dia 30, o ministro da saúde do Reino Unido, Matt Hancock, anunciou em sua conta oficial no Twitter nova medida de restrição no norte da Inglaterra, na região metropolitana de Manchester e condados vizinhos, após a confirmação de novos casos de infecção pelo novo coronavírus.
Essa nova medida proíbe as visitas entre pessoas de casas diferentes e tornou-se polêmica, pois o ministro a justificou afirmando cinicamente que a própria população local é culpada do reaparecimento de contaminados por não respeitarem o isolamento social.
Logo na sequência a esta infeliz declaração, vários internautas moradores da região afetada e órgãos de imprensa criticaram nas redes sociais as contradições do governo britânico nas medidas preventivas. Para eles, enquanto o governo decide impedir pessoas de lares diferentes de se encontrar em casas, bares e restaurantes, podendo apenas serem frequentados por pessoas que vivem numa mesma residência, ele autoriza diversos outros estabelecimentos comerciais a permanecerem em funcionamento, além de academias de ginástica e espaços religiosos, atendendo ao interesse de setores médios e grandes da burguesia que viram seus lucros caírem ou se perderem em decorrência da pandemia.
Para o cinismo ficar ainda mais descarado, o governo do país anglo-saxão vai atender ao pedido dos capitalistas adotando uma política que literalmente vai matar ainda mais os trabalhadores britânicos com a doença, à despeito do posicionamento contrário da comunidade científica, que a considera precoce. A partir do dia 1° de agosto, as cerca de 2 milhões de pessoas que o governo considerava como integrantes do grupo de risco da pandemia passam a não possuir mais tal status, devendo assim voltar ao trabalho. Ou seja, o governo reabre o comércio, já que para este a economia não pode parar, obrigando dessa maneira os trabalhadores a saírem de seus lares para trabalhar, a aglomerarem-se no transporte público e nos locais de trabalho, onde são maiores as possibilidades do vírus circular e contaminar as pessoas. Ao mesmo tempo joga neles a culpa pelo novo surto da doença por “desrespeitarem” o isolamento social, como vem ocorrendo praticamente no mundo inteiro. Tal política contraditória vem sendo criticada por sindicatos e diferentes alas da oposição, sobretudo pelo Partido Trabalhista.
O novo normal é o que existe de mais velho: a classe trabalhadora devendo arcar com o prejuízo financeiro da burguesia, a única novidade sendo os trabalhadores morrendo de coronavírus após serem explorados para salvar o lucro dessa classe parasitária. A campanha do #fiqueemcasa, levantanda por parte da direita e endossada pela esquerda pequeno-burguesa cai por terra, não passando de ilusão, desconexa da realidade vivida pela classe operária, que em vários lugares teve que continuar trabalhando. Tal fracasso e ilusão ficaram evidentes na mudança de slogan do governo Boris Johnson para o combate à pandemia, de “Fique em Casa, Proteja o NHS, Salve Vidas” para “Fique Alerta, Controle o Vírus, Salve Vidas.”
Até o momento da redação desta matéria, o Reino Unido tinha um balanço de mais de 300 mil contaminações e mais de 46 mil mortes, o maior número em toda a Europa.