Em uma clara demonstração de que a crise financeira está apenas começando, a bolsa de valores de São Paulo fechou o dia 12 de março com -14,76% no índice que mede o volume dos negócios realizados na bolsa, o Ibovespa. O pânico foi tamanho que obrigou a realização do “circuit breaker”, mecanismo que interrompe os negócios em caso de grande instabilidade, duas vezes ao longo do dia. Desde sua fundação, esta também foi a primeira vez que a bolsa de São Paulo fechou 3 vezes na mesma semana.
Com as operações abertas às 10h, em 25 minutos o Ibovespa já registrava retração de 11,65% nas negociações, o que levou a primeira suspensão de 30 minutos. A reabertura foi seguida por uma queda ainda mais forte, de -15,43% e o dólar sendo negociado acima dos R$5,00, o que levou a nova suspensão das operações na B3, desta vez por uma hora. A situação do mercado de ações só não foi pior graças ao anúncio do banco central americano, que prometeu salvar o sistema financeiro com US$1,5 trilhão. Ainda assim, a retração de -14,76% foi a mais violenta desde setembro de 1998. O dólar também terminou o dia cotado a R$4,78, a maior desvalorização da moeda nacional desde o surgimento do real.
A exemplo da B3, quase todas as praças financeiras do mundo registraram fortes quedas. O índice pan-europeu STOXX 600 fechou as operações com -11,48%, a maior queda diária da história do índice. Inglaterra (-10,87), Alemanha -(12,24%), França -(12,28%), Espanha -(14,06% )e Itália (-16,92) fecharam com forte prejuízo, a exemplo dos EUA, que também tiveram de acionar o “circuit breaker” para a bolsa de Nova Iorque, que viu sua pior queda desde o crash de 1987, -11,18%, atingindo 20.919 pontos, o pior volume desde agosto de 2017.
Analistas tem creditado a onda de pânico ao anúncio feito pelo governo americano de suspender vôos da Europa para os Estados Unidos porém cumpre destacar que meesmo o anúncio da ajuda superior a 1 trilhão de dólares feito pela administração Trump não parece ter surtido efeito efeito para os capitalistas. Na medida em que a economia real se encontra seriamente ameaçada de uma paralisia inédita na história do capitalismo (a exemplo da Itália que sequer consegue dar um fim digno aos cadáveres produzidos pela expansão descontrolada do coronavírus), o problema não é só liquidez mas todo o conjunto da economia sob a qual se assenta a especulação. Nas palavras do economista Nouriel Roubini, “medidas fiscais e monetárias não ajudam quando você não tem segurança de alimentos e água”. Com as atividades econômicas reais paralisadas em um contexto de crescimento explosivo da dívida global, a análise do economista vai sendo confirmada pelo desenvolvimento da crise, que não é só fiscal mas de todo o sistema capitalista, com efeitos especialmente catastróficos para os países atrasados, como o Brasil.