Recentemente, o presidente do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Juliano Medeiros, afirmou em seu twitter, que o “site do PCO” possui mais matérias falando mal do PSOL do que do Bolsonaro. Por conta disso, ele concluiu que o Partido da Causa Operária seria “a definição de quinta coluna”, fazendo referência à terminologia utilizada por stalinistas quando queriam denunciar que algum elemento esquerdista era infiltrado do fascismo.
A afirmação é absurda e até cômica, se formos levar em consideração quem está falando e contra quem está sendo dita. O PCO, ao contrário de Juliano Medeiros e do PSOL, falou “Fora Bolsonaro” desde o fim de 2018, antes até do 2º turno das eleições. Naquele momento, estava claro que as eleições eram completamente fraudulentas e que o candidato do PT, Fernando Haddad, iria sofrer uma derrota. Era importante já criar um movimento no sentido de levar as pessoas às ruas e pedir a derrubada do governo golpista, considerando ainda que as eleições haviam sido totalmente ilegítimas.
De lá para cá, o PCO organizou diversos atos pelo “Fora Bolsonaro” em todo país, chegando a mais de 200 manifestações, contando por baixo. O PSOL, por outro lado, não fez nada disso. Ele embarcou simplesmente na “onda” do “Fora Bolsonaro” quando, no começo desse ano por conta de atritos com o governo Bolsonaro, pareceu que a burguesia iria levar adiante a sua derrubada, o que não aconteceu. Posteriormente, o PSOL e toda a esquerda pequeno-burguesa desistiram do “Fora Bolsonaro” e regressaram à política do “fica Bolsonaro”, que estão levando adiante desde que ele foi eleito.
No entanto, em um passado mais distante, o PSOL deu diversas demonstrações de sua verdadeira natureza. Alguns de seus quadros mais importantes deram declarações de relativização ou até de negação total do golpe de estado em 2016. Além disso, partiram para um boicote de qualquer manifestação popular que pudesse surgir no sentido de combatê-lo. Se colocando, assim, ao lado do imperialismo e da direita, contribuindo para colocar o país e a população na situação em que se encontra hoje.
“Os líderes do PT estão tentando convencer – e alguns setores foram convencidos – de que há uma ameaça à democracia, ao estado democrático de direito. Quando na realidade não é isso” – Luciana Genro em 2016
A afirmação feita por Luciana Genro em pleno processo de impeachment fraudulento de Dilma Rousseff demonstra a sua total cegueira política de não enxergar o que estava pela frente. Ela também é autora da célebre exaltação “Viva a Lava Jato!” ou da tese de que “Sérgio Moro não é um fascista”. Hoje, com o desenvolvimento da situação, percebe-se o quão atrapalhada e confusa foi a sua análise.
“Dilma e Temer defendem a mesma política” – Vereador Babá, ao comentar o impeachment de Dilma Rousseff
O vereador suplente do Rio de Janeiro, João Batista Oliveira de Araújo, conhecido como Babá, fez a afirmação até depois de Dilma ter sido derrubada. Mesmo tendo visto, como todos do país, a conspiração e articulação golpista executada pela burguesia e pela direita junto com os poderes legislativo, judiciário e elementos do executivo, Babá ainda teve coragem de afirmar que a política levada adiante por Michel Temer seria a mesma de Dilma Rousseff.
Hoje, todos veem com clareza o absurdo da afirmação. Mas mesmo na época, poderia se fazer o questionamento: Se a política é a mesma, por que todo o desgaste político e econômico com o processo golpista para trocar de presidente às pressas? Por acaso deram o golpe por uma picuinha pessoal?
“Em 2015, os bancos lucraram 60% a mais do que no ano passado, e o agronegócio vem sendo beneficiado com a desvalorização do real. A crise é da classe média e dos trabalhadores. Por isso, e por realizar uma política social tímida, Dilma não é uma ameaça para o mercado. Hoje, toda a hostilidade da mídia é contra Eduardo Cunha” Nildo Ouriques, em 2015
Nildo Ouriques, líder catarinense da tendência Revolução Brasileira do PSOL, mostra a sua análise totalmente fantasiosa nessa fala retirada de uma entrevista de 2015. Segundo ele, Dilma não iria ser derrubada porque não incomodava a burguesia e o capital. O grande problema seria o então deputado Eduardo Cunha, que era o articulador de todo o processo do impeachment dentro da Câmara dos deputados.
Estes são apenas alguns exemplos de citações de importantes quadros do PSOL, se posicionando com relação ao problema do golpe de estado. Existem diversos outros que poderiam ser aqui explorados como quando Marcelo Freixo afirmou que “a pauta Lula Livre não unifica a esquerda” ou quando Gilberto Maringoni afirmou que o governo Dilma Rousseff era “indefensável”.
Esses posicionamentos totalmente equivocados e confusos tiveram um papel importante no sucesso da derrubada do governo do PT e contribuíram para que houvesse uma demora muito grande para a esquerda reagir à ameaça golpista que vinha se formando. Além disso, muitos desses quadros mantêm essas posições até hoje, como Nildo Ouriques, que segue afirmando que não houve golpe em 2016.
Uma esquerda que vive com uma mentalidade totalmente direcionada às eleições e à obtenção de cargos dentro do governo burguês falha em analisar a situação política real e acaba por atrapalhar a mobilização popular, que é o único meio realmente efetivo para enfrenter o golpe de estado.