O Vermelho, jornal na internet ligado ao PCdoB, trouxe, em sua edição do último dia 17 de março, uma coluna assinada por Cesar Augusto de Mello, consultor jurídico da Força Sindical. Sendo um elemento ligado a essa entidade sindical patronal, não é de se estranhar que a defesa que faz de uma política de colaboração entre patrões e empregados.
A conclusão da coluna diz o seguinte: “É muito importante que, nesse momento de dificuldades e renúncias por parte de todos, que empregados e empregadores ajam com sensatez na busca de uma solução em consenso quanto aos problemas que surgirão dos reflexos da pandemia que afeta o planeta.” E qual seria a solução de consenso proposta pelo consultor jurídico da Força Sindical e do PCdoB?
Uma delas é o banco de horas: “os trabalhadores não prestarão seus serviços por um determinado número de dias e não terão prejuízo quanto aos salários, entretanto, retornando ao trabalho, trabalharão duas horas extras diárias até compensar as horas que deixaram de trabalhar e nessa condição não receberão por essas duas horas”. Augusto de Melo quer que o trabalhador que eventualmente seja obrigado a se afastar por conta da pandemia trabalhe duas horas por dia de graça no retorno ao trabalho. O banco de horas é uma “pegadinha” inventada pelos patrões para fazerem o empregado trabalhar de graça sem perceber, já que teoricamente não há desconto de salários.
Vamos pensar um pouco como funcionaria isso na prática. Se um trabalhador ficar 40 dias fora porque não teve escolha, terá que trabalhar duas horas a mais por dia sem receber nada por esse tempo extra. Ou seja, se um companheiro tem sua jornada de 14 horas até as 22 horas, ele terá que trabalhar até meia-noite ou entrar ao meio-dia. Só o trabalhador sabe o quanto essas duas horas fazem a diferença para a sua qualidade de vida, e sem receber nada por isso.
Em suma, o que propõe o consultor jurídico da Força Sindical e do PCdoB é que o trabalhador pague pela crise que não foi causada por ele, mas pelo descaso total dos capitalistas e seus governos.
O colunista propõe ainda férias coletivas aos funcionários. Essa proposta é igualmente fazer com que o trabalhador pague por essa crise. O trabalhador será obrigado a usufruir das férias no momento em que ele estará obrigado a fazer quarentena ou, pior ainda, quando estiver doente.
Essas são algumas das propostas que, segundo o consultor jurídico da Força Sindical e do PCdoB, seriam uma “solução de consenso”. Na verdade, quando alguém fala em “união” entre trabalhadores e patrões pode ter certeza que o que está sendo preparado é um ataque aos trabalhadores.
Não existe esse consenso. Ou os trabalhadores, através de suas organizações, chegam a uma política independente para enfrentar a crise, ou os capitalistas irão atropelar os trabalhadores.
Por maior que seja a gravidade da crise a luta de classes não deixa de existir. Na realidade, quanto maior a crise social e econômica – na qual estamos adentrando – mais aguda é a luta de classes e maior a necessidade da classe operária e de todos os explorados de levarem adiante uma política que supere a crise em oposição aos capitalistas.
Guardadas as proporções, o comportamento dos que defendem esta política de “unidade nacional” em nome da superação da crise é o mesmo daqueles setores que traíram a classe operária ao apoiar a Guerra Mundial que colocou milhões de trabalhadores para morrerem pelos capitalistas.