Com a pandemia do covid-19, um dos fatores determinantes da letalidade é a demora no atendimento em UTI’s. Em decorrência, o problema se agrava para os trabalhadores, isso se dá porque as unidades de saúde ficam muito longe da periferia. Segundo a pesquisa da ONG Viva Rio, mais de 70% das pessoas sequer procura tratamento, o que tem relação direta com a falta de assistência do poder público.
Dessa forma, uma pesquisa da ONG Viva Rio e da MN Estatística revela que, nas comunidades e periferias fluminenses, os efeitos da Covid-19 são agravados pela falta de assistência de saúde. Assegura que do total de vítimas fatais do novo coronavírus nessas áreas, 20% morreram em suas próprias casas e, destas, 75% sequer procuraram ajuda médica.
A situação em todo o Estado do Rio de Janeiro, segundo boletim divulgado neste domingo, dia 24, já são 3.993 mortes pelo coronavírus, com 37.912 infectados, 3.379 a mais que no sábado.
Contudo, nas regiões abrangidas pela pesquisa, os dados — coletados entre 9 e 16 de maio, a partir do cadastro de 32.037 famílias que recebem cestas básicas do projeto SOS Favela em 332 comunidades e 29 municípios — mostram que há pelo menos um caso de pessoa infectada em 8,8% dos domicílios.
Dos doentes que morreram sem receber assistência médica, 11,9% moravam na Baixada, 11,6% na capital, 9,5% em São Gonçalo, 3,3% em Niterói e 3,1% no interior. Ainda de acordo com o levantamento, metade dos moradores de favelas e periferias da capital e da Baixada vivenciou a morte de pessoas próximas com suspeita de coronavírus. E, considerando também os casos que não resultaram em morte, foi possível verificar que 75,5% dos contaminados não buscaram atendimento em unidades de saúde públicas.
Outro aspecto constatado foi que a maioria dos infectados tinha entre 25 e 59 anos, fazendo parte de um grupo que precisa se locomover de casa para o trabalho regularmente. O antropólogo Rubem César, que participou da pesquisa, observa que o vírus levou um tempo para atravessar o Túnel Rebouças, mas hoje os piores indicadores se encontram na Zona Norte:
— “São pessoas que trabalham para a classe média que mora nas áreas que foram infectadas primeiro, como a Barra e a Zona Sul, trazendo o vírus de fora do país. Quando a pandemia começar a diminuir nas cidades, ela vai aumentar nessas regiões”.
O que mascara o escândalo ainda maior e uma revolta da população é a subnotificação. Ou seja, pelo menos 40.700 famílias já tiveram um morador com diagnóstico positivo para Covid-19. Na favela Tavares Bastos, no Catete, o mototaxista Fábio Alves da Silva, de 45 anos, começou a passar mal em 4 de maio e, no dia 15, foi internado no Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, com 50% dos pulmões comprometidos.
Portanto, a subnotificação é um fator preocupante. No Parque da Cidade, na Gávea, vive o motorista escolar Waldir Cavalcante, de 54 anos, que passou três semanas isolado no quarto após ter os sintomas da doença, sem diagnóstico fechado, como ele, outros tantos.