A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-IBGE) identificou que 9,7 milhões de trabalhadores ficaram sem remuneração, o equivalente 11,5% da população ocupada em maio de 2020 que era de 84,4 milhões de trabalhadores do país. No total cerca de 19 milhões foram afastados do trabalho.
Outro impacto identificado foi o rendimento efetivo dos trabalhadores (R$ 1.899), que ficou 18,1% abaixo do rendimento habitual (R$ 2.320). Pela pesquisa de maio, apenas 38,7% dos domicílios do país receberam algum auxílio monetário do governo relacionado à pandemia, sendo o valor médio de R$ 847.
Somamos a isto o fato de que a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano já é negativo, – 9,1%, segundo informa o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), mecanismo insuspeito perante a burguesia. Em abril a projeção era de -5,3%. O Banco Central prevê algo em torno de -6,54%. De todo modo, uma recessão profunda e que deixará cicatrizes por um bom tempo.
Os golpistas não esperavam um tombo tão rápido em suas perspectivas para a economia. Suas apostas eram no aprofundamento das políticas neoliberais levando a privatização a todos os setores que ainda não haviam experimentado esse vilipendio financeiro contra o patrimônio publico.
A empolgação inicial foram as chamadas reformas emergenciais, como a da Previdência e a Reforma Trabalhista, agenda que devido à resistência da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) em levar adiante culminou no golpe parlamentar que a destituiu e abriu caminho para a fraude política que vivemos atualmente.
A ilusão de uma economia futura que será impulsionada pelas medidas neoliberais ainda persiste, entretanto. A política do ministério da Economia comandado por Paulo Guedes, um pupilo da lógica Pinochetista, é conduzida com esmero pelo Congresso Nacional com ambas as casas controladas pelo Democratas (DEM) nas figuras “republicanas” e “científicas” de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. O centrão de direita com quem a esquerda pequeno burguesa quer se aliar em nome da democracia.
O mais recente dos ataques foi o novo Marco Legal do Saneamento que na prática abre caminho para a privatização dos serviços de fornecimento de água potável e de tratamento de esgoto no país. O projeto de lei de relatoria do PSDB na figura de outro sensato político republicano, Tasso Jereissatti, foi aprovado sem maiores dramas pelo Senado Federal.
“O Parlamento brasileiro poderia ter tomado outras posturas, mas está sendo guiado pelo Executivo. Por exemplo, em março tivemos falta de álcool gel. Então tinha-se que aumentar a demanda da matéria-prima no mercado. Um país que tem governo sabe que somos o maior produtor de álcool etanol do mundo. Preventivamente, o presidente da Câmara de Deputados poderia ter chamado esse setor e dizer que, por estarmos vivendo uma situação excepcional, era preciso aumentar a produção. E ainda em março, ninguém se perguntou se os trabalhadores da linha de frente tinham equipamentos para combater a Covid-19. Por que não se convocou a indústria têxtil para que organizasse a confecção de máscara, de luvas? Por que ficamos esperando para ver se China teria condições de fabricar? A indústria brasileira não responde porque não foi chamada para enfrentar a crise. Precisamos de um governo que olhe para frente, para que nos coloque em um novo impulso industrial”, diz o economista Márcio Pochmann.
A privatização da economia nacional seguirá adiante no que depender dos congressistas e das “lutas” do estilo mímico conduzido por alguns parlamentares de esquerda, mais preocupados com a repercussão eleitoral de seus atos do que em frear verdadeiramente a quebradeira e a entrega do patrimônio dos brasileiros às multinacionais imperialistas.
Enquanto isso, o governo Bolsonaro injeta dinheiro público nos bancos, que lucram bilhões todo ano, mesmo em meio a uma crise que fabrica miseráveis e mortos em escala industrial. “Há alguns dias, o presidente do Banco Central liberou R$ 1 trilhão para os bancos para evitar a quebradeira. Mas essa é uma ação política. É possível financiar o Estado de um modo diferente, pela emissão de moeda. Essa é a Teoria Quantitativa da Moeda, em que se entende que, ao se emitir moeda, cria-se poder de compra para a população. Os Estados Unidos e boa parte dos países da Europa fazem o mesmo. Eles aumentam a emissão da moeda e não aumentou a inflação. Além disso, precisaríamos fazer uma reforma tributária para valer no país, tirar tributo dos mais pobres para que o rico pague mais imposto, mudando a composição da carga”, completa Pochmann.
Mas para a turba golpista não é necessário dar uma resposta aos desvalidos. Estes apenas enxergam oportunidades de lucro onde a desgraça cresce como planta daninha. É para isso afinal que derem um golpe e farão o que for necessário para manter o poder, trabalho este facilitado em grande medida pela paralisia das entidades dos trabalhadores que deveriam ser a força impulsionadora de uma campanha de massas capaz de evitar o desastre iminente.
O futuro que os golpistas querem é um lugar onde tudo seja privado, caro e inacessível para a maioria da população que hoje depende de serviços públicos para ter o mínimo de dignidade. Um retrocesso humanitário sem precedentes que, disfarçado de liberalismo econômico, levará o povo trabalhador à miséria absoluta.