O carnaval é a maior e mais tradicional festa do povo brasileiro. Para ser preciso, é um período de festas populares. Não à toa, há um lema no Brasil que diz “o ano só começa depois do carnaval”. Mas diferentemente das festas de final de ano, que costumeiramente ocorrem em casa ou clubes fechados, a tradição do carnaval está na rua e nas grandes aglomerações populares que se concentram nos milhares de blocos existentes pelo país afora.
Justamente por ser uma festa popular, o carnaval, assim como o futebol, são fenômenos de massas e portanto, sofrem a influência direta das tendências políticas da classe operária. No futebol há um enorme esforço por parte da burguesia, através do controle desta sobre o legislativo assim como as verdadeiras máfias que controlam as federações de futebol, para inibir as manifestações políticas do povo nos estádios. Há desde uma censura aberta contra as torcidas, contra jogadores etc até uma verdadeira “caça às bruxas” contra as torcidas organizadas. E mesmo assim, os eventos futebolísticos acabam ecoando de uma maneira ou de outra os essas tendências políticas. Um exemplo disso ocorreu no Chile, semana passada, quando se iniciou uma nova onda de protestos no país contra o regime político após o atropelamento e assassinato de um torcedor do Colo-Colo por um caminhão da polícia. Dias depois, uma partida foi suspensa devido à invasão de campo da torcida do Coquimbo Unido com a seguinte faixa: “Ruas com sangue, campos sem futebol”.
O Carnaval, por sua vez, sempre foi um espaço propício para eclosão de manifestações políticas populares. Isso ocorreu em diversos momentos da história nacional, como nas mobilizações pela derrubada da Ditadura Militar e também ocorreu nos últimos anos como uma reação ao golpe de Estado implementado pela burguesia e pelo imperialismo. Já no governo golpista de Temer essa tendência se mostrou claramente através de gritos de “Fora Temer”, na criação de diversos blocos, assim como em desfiles de escolas de samba. No governo golpista de Bolsonaro, empossado através de uma fraude eleitoral, essa tendência política do carnaval aumentou ainda mais. No carnaval do ano passado foram entoados em quase todos os blocos de rua do país o grito de “Ei Bolsonaro, vai tomar no …”. Assim como foram utilizadas diversos tipos de fantasia para avacalhar o presidente.
O carnaval é tão popular, que as festas de “pré-carnaval” e “pós-carnaval” mobilizam grandes públicos em muitas cidades. E mesmo nessas festas, já se manifestou essa tendência política do povo. Em São Paulo, se encerrou nessa sexta-feira (31 de Janeiro) o Festival Verão Sem Censura, que contou com a apresentação de diversos blocos de carnaval e já foi em si, um ato político de protesto contra a censura aplicada pelo governo Bolsonaro contra qualquer tipo de arte de conteúdo crítico ou contrária ao governo. “Vamos dar a volta no globo, a terra não é chata não. Dar a gargalhada no Bozo [apelido dado a Bolsonaro]. Carnaval na contramão” diz trecho da música deste ano do Bloco Tarado Ni Você. Ze Ed, vocalista do Tarado, entoou: “quem não pula é fascista” e faz discurso contra Regina Duarte, que aceitou assumir a Secretaria de Cultura esta semana. Já no bloco do Charanga, o estandarte deste ano traz escrito ” Charanga Antifascista” e a bandeira símbolo.
Essas manifestações no pré-carnaval não são um acaso. Elas revelam que está para eclodir no carnaval uma enorme onda de protestos contra o governo do fascista Bolsonaro e contra o retrocesso levado adiante pelos golpistas que ameaçam os direitos e as condições de vida da população.