No último domingo (12), o ex-presidente da Bolívia, Evo Morales afirmou que o povo tem o direito de se armar para se defender. Em entrevista a Reuters, ele afirmou que
“Na Bolívia, se as forças armadas estão atirando no povo, matando o povo, o povo tem o direito de organizar sua segurança… Em alguns momentos (esses grupos) foram chamados de milícias, em outros foram chamados de segurança sindical ou polícia sindical e, em alguns lugares, é chamado de guarda comunal. Não é novo.”
Evo Morales ratificou assim áudio divulgado pela rádio Kawsachun Coca Tropico e mostra um desenvolvimento do seu posicionamento político depois da postura capitulado adotada diante do golpe de Estado na Bolívia.
Morales venceu as eleições, no entanto, aceitou a auditoria do Ministério das Colônias, a Organização dos Estados Americanos (OEA), teve seu governo sitiado por milícias de extrema direita nas ruas e acabou coagido pelas forças armadas a renunciar. Até este ponto, não apenas não esboçou nenhuma reação, como só repetiu pedidos de paz e de acordos com os próprios golpistas e o imperialismo que os financia.
Daí para o exílio, a perseguição continuou, em dezembro, o governo golpista de Jeanine Áñez emitiu um mandado de prisão para Morales por acusações de sedição e terrorismo. E agora em janeiro, com o ex-presidente na Argentina, foi emitido um mandato de captura para que ele não possa participar de eventos nos outros países sul-americanos.
Apesar de toda a moderação, vacilação e capitulações seguidas de Evo Morales, que resultaram em sua derrubada sem qualquer luta por parte de seu governo e partido. Ao defender o direito do povo a autodefesa, o ex-presidente faz um movimento importante à esquerda. Dá suporte político aos setores combativos da população da Bolívia, de maioria indígena, que, desde o princípio, travou nas ruas a luta contra o golpe militar e em defesa de seu mandato. Reforça na prática os setores mais avançados, sobretudo de El Alto, de onde partiu a mais enérgica resistência aos golpistas e onde os trabalhadores se organizaram em comitês de autodefesa. Também estimula o setor mais a esquerda de seu próprio partido, o MAS (Movimento Al Socialismo), que diferente das renúncias dos parlamentares, manteve-se nas ruas contra os golpistas.
Após diversos apelos à paz e a acordos com os golpistas e o imperialismo, após tantas agressões, ameaças e assassinatos de indígenas, talvez Evo Morales tenha se dado conta que para sobreviver enquanto liderança política e enquanto pessoa, será necessário organizar a população boliviana, única capaz de derrotar o golpe.
Este Diário, que cobriu e denunciou o golpe militar na Bolívia desde o início; defendeu e impulsionou a mobilização do povo contra os golpistas e em defesa do mandato de Evo Morales; chamou a construção de comitês de autodefesa contra a extrema direita e os golpistas; sempre esclareceu que o direito a autodefesa do povo é um direito democrático elementar, o único capaz de de garantir todos os demais direitos.
Neste sentido a posição do ex-presidente Evo Morales, que expressou seu acordo do direito dos trabalhadores se defenderem da agressão estatal do governo golpista da Bolívia e das suas milícias fascistas, é um avanço contra toda a direita e o imperialismo na América latina e deve ser defendida por toda a esquerda.