O jornal golpista Folha de São Paulo irá veicular uma campanha publicitária em “defesa da democracia”. Inspirado na campanha das Diretas Já, que ocorreu entre 1983 e 1984, a qual o jornal foi um dos principais articuladores, o filme vai ao ar neste sábado (27) na Globo, que foi grande entusiasta da ditadura militar naqueles tempos, no intervalo do Jornal Nacional. Ao ressuscitar a campanha das Diretas Já, o jornal golpista trouxe de volta também seu slogan daquela época, adaptado, porém, ao novo momento: o “use amarelo pelas diretas Já” de outrora, tornou-se agora “use amarelo pela democracia”.
O monopólio de imprensa prepara também o projeto “O que foi a Ditadura”, um curso de 4 aulas, que começa neste domingo (28). O curso online será ministrado pelo jornalista da Folha Oscar Pilagallo e será direcionado principalmente às novas gerações, que não tiveram a amarga experiência de viver a Ditadura Militar de 1964. Esse movimento da Folha e da Globo constitui sem dúvida uma das operações políticas da burguesia mais cínica e nefanda.
Dois dos mais importantes apoiadores e cooperadores da Ditadura Militar, articuladores do golpe de 2016 e que levaram Bolsonaro ao poder – apenas para destacar algumas participações desses em operações criminosas contra o povo – como a Folha dos Frias e a Globo dos Marinhos, quererem passar por defensores da “democracia”. É um acinte contra a esquerda nacional e toda a população trabalhadora. Tal movimento não mereceria menos que o desprezo e o ódio legítimo da população por tamanha infâmia, porém essa manobra é parte de uma política de um setor da burguesia golpista, denominada frente ampla, que já cooptou um setor da esquerda pequeno-burguesa e que pode causar tamanha confusão.
É preciso esclarecer em primeiro lugar que estes monopólios não defendem democracia alguma, seja lá o que essa palavra possa significar na cabeça de cada um, mas apenas os seus próprios interesses, ou seja, da burguesia que representam e do regime burguês em geral. Assim, tanto a Folha, quanto a Globo não somente apoiaram como sustentaram e até participaram da ditadura de tipo fascista que se estabeleceu no País em 1964. A Folha da Tarde, que era parte do que é hoje a Folha de S. Paulo, era conhecida como o diário oficial da Oban, já que o jornal publicava não poucas vezes notas saídas diretamente das salas de tortura. A empresa dos Frias, inclusive, emprestava carros para os agentes da repressão cometerem seus mais terríveis crimes. O editorial de O Globo de 2 de abril de 1964, cinicamente intitulado “Ressurgia a democracia”, o qual saúdam o novo regime mostra o grau de vinculação deste monopólio com a ditadura. Em 1984 o monopólio dos marinhos, pela pena do dono, reconhecem que “participaram da revolução”.
Aliás é importante notar que essas empresas somente chegaram a ser os grandes monopólios que são hoje devido a íntima ligação com o regime militar, como órgãos quase que oficiais da Ditadura. Mas não é preciso recuar tanto para observar a atividade criminosa destes monopólios contra o povo brasileiro, basta dizer que foram eles e a burguesia que eles representam, os que organizaram o golpe de Estado que depôs a Presidenta Dilma Rousseff, que apoiaram a Lava-jato, a prisão de ex-presidente Lula e que foram os responsáveis pela eleição de Jair Bolsonaro e por todos s retrocessos trabalhistas e democráticos.
Ou seja, a burguesia tradicional, dita civilizada, pode ser tão bárbara quanto a extrema-direita na sua luta contra os interesses populares, não possuem nenhuma devoção especial pelo regime parlamentar ou pelas liberdades democráticas, sacrificam com extrema facilidade todo o ideário democrático no altar de seus próprio interesses, do lucro, de seu patrimônio. É uma lição fundamental: a burguesia tradicional não é nem democrata e nem fascista por princípio, mas se utiliza de um ou de outro na defesa do seu próprio interesse.
O que a Folha e a Globo realizam se liga à política da frente ampla, cujo sentido não é se contrapor ao fascismo, como pensam alguns incautos, mas tão e somente que este setor da burguesia possa utilizar-se da esquerda, do movimento popular pelo fora Bolsonaro para que com essa força possa influir de maneira mais decisiva junto ao governo fascista de Jair Bolsonaro, exercendo ainda maior controle sobre ele.
De outro lado a manobra serve para, utilizando a esquerda, revitalizar junto ao povo a imagem muito negativa de um grupo de criminosos políticos como a Folha e a Globo, dentre outros, apresentando-se como inimigos do fascismo, democratas etc., isso validado pela esquerda frenteamplisa. Nada mais vergonhoso para a esquerda. Também a frente ampla pretende exercer um controle sobre a mobilização popular para que não tome grandes proporções e nem radicalize-se, o exemplo disso é a tentativa da esquerda frenteamplista, como Guilherme Boulos, de enterrar as manifestações de rua e o enfrentamento com a extrema-direita. Aí a similaridade com a Diretas Já que foi um movimento bem sucedido da burguesia para conter a mobilização revolucionária das massas que existia na época pela derrubada da Ditadura, o resultado foi a eleição de um representante da ditadura como primeiro presidente eleito, uma grande derrota do movimento popular.
A rejeição à frente ampla não se dá por principismo, mas por que trata-se de um engodo, é uma operação da burguesia para derrotar os trabalhadores; todo o povo brasileiro, para garantir seus interesses e inclusive preservar o governo Jair Bolsonaro da mobilização das massas, dar opções aos capitalistas golpistas para uma possível troca de presidente caso acreditem necessário etc, tudo para impedir a vitória popular. O engodo fica evidente quando esse setores da frente ampla, Globo e Folha, querem apresentar-se defensores da democracia, quando são os piores inimigos do povo a décadas. Os frenteamplistas de esquerda farão vista grossa e corroborarão com a farsa? Fica a questão.
O movimento farsesco da Folha e da Globo serviu contudo para elucidar uma questão: já sabemos de onde saíram as pessoas de amarelo que apareceram nas manifestações da esquerda recentemente.