Nessa terça (5), o general golpista Sérgio Etchegoyen, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo ilegítimo de Temer, deu entrevista a uma coluna do Estadão e, ao correr para negar a possibilidade de um golpe militar, o general reforçou a participação das forças armadas como moderadoras do regime político golpista.
Etchegoyen disse:
“Achar que tem risco [de golpe militar], a cada vez que tem generais reunidos, é menosprezar a nossa democracia. Cada vez que tem esse tipo de pensamento, estamos destruindo a democracia que nós construímos com tanto empenho.”
Talvez com isso, algum desavisado que não conhece a história do país, poderia ser levado a acreditar que não foram os militares que deram o golpe de 1964 ou o de 2016, ou seja, que os militares, quando necessário, não são os primeiros a acabar com a decadente democracia burguesa.
Na linha de um absurdo cinismo, o general continuou:
“Com as todas as turbulências que passamos desde 2014, por que que a cada curva a gente tem que duvidar que não somos uma democracia confiável?”
Oras, a história de 2014 para cá é justamente uma sucessão de fatos em que os militares foram decisivos para a desestabilização e derrubada do governo eleito de Dilma Roussef-PT. Isso, somado a todas as atrocidades cometidas na ditadura de 64 é o que faz as pessoas desconfiarem, com razão, de todos os passos dos militares.
No entanto, não fica por aí. Em uma entrevista dada um dia antes, na segunda (4), ao falar sobre o ato dos bolsonaristas, o general golpista afirmou coisas escatológicas, como:
“As pessoas achavam que valia a pena a violência. Mas no momento em que a disputa política permitir violência, é barbárie, é a lei do mais forte. É absolutamente inaceitável. Não há dúvida quanto a isso, devemos entender bem o que aconteceu.”
O golpe de Estado só pôde ter sido efetivado por meio da garantia que os militares, os profissionais da violência, deram à investida da burguesia para alterar o regime político. Logo, quando diz que “as pessoas têm o direito de se expressar”, a fala do general não passa de uma farsa. Pois, em seguida, ele usa a pandemia para se colocar contra o direito de as pessoas se manifestarem. “Com as circunstâncias de coronavírus, aglomerações do tipo são temeridade”, afirmou o militar.
Esse episódio é um exemplo clássico de que, ao afirmar algo que está em total desacordo com a realidade, a pessoa nega a própria fala. A fala do general, confrontada com a atuação das forças armadas nos últimos anos, é uma afirmação justamente do contrário. Como exercício de raciocínio, pode refletir-se que todas as afirmações feitas na entrevista são o contrário do que dizem.
Assim, todas as vezes em que os militares se reúnem, é preciso acompanhar e denunciar suas articulações, que claramente são uma ingerência sobre a vontade popular, como ocorrido em 2016 com a derrubada de Dilma e em 2018 com a prisão e cassação de Lula.