A política de luta contra o coronavírus organizada pela direita no Brasil está chegando ao fim. Em diversos locais, já se abandona a quarentena e as regras do isolamento social. Em São Paulo, maior cidade do país e local com o maior índice de casos e mortes de coronavírus do Brasil, já se está discutindo a reabertura de restaurantes e bares, serviços que nada têm de essencial. Em diversas outras cidades e Estados, a situação é semelhante.
O que é mais curioso sobre esse fato é que a política de reabertura se dá em pleno pico da pandemia. O número de infectados pelo coronavírus no país já passa a marca de 1 milhão e segue crescendo em ritmo absurdo, com cerca de mil mortes por dia. O país está atrás apenas dos Estados Unidos, que é o mais atingido pela pandemia no mundo. Mas, se levarmos em conta a subnotificação praticada pelos governos brasileiros, já podemos estimar que o Brasil está em primeiro lugar no número de casos e de confirmados.
Neste momento, é necessário fazer uma retrospectiva sobre a atuação das diferentes forças políticas do país com relação à pandemia de Covid-19. Desde o princípio, estava muito claro para todos que Bolsonaro representava a política de ignorar qualquer recomendação e qualquer medida de proteção à saúde da população. Defendia que não se devia parar as atividades econômicas nem por um momento, deixando que todos se infectassem com o vírus e que morresse quem tivesse que morrer.
Porém, uma parte da esquerda pequeno-burguesa caiu na ilusão de que, em oposição a essa política de Bolsonaro, estava a direita tradicional, representada pelos governadores dos Estados, mais especificamente por figuras igualmente aberrantes como João Doria e Wilson Witzel. Devido a uma demagogia que essa direita fez com a classe média, criou-se a ilusão de que ela seria uma direita consequente, preocupada e até “científica”, fazendo uma propaganda da política do “fica em casa” e atacando Bolsonaro quando lhe era conveniente.
No entanto, quando se observa o conteúdo real da política desses governadores, fica claro que nenhum deles impôs nenhuma luta ao coronavírus. A quarentena realizada por eles foi e segue sendo uma verdadeira farsa. Enquanto setores de uma classe média privilegiada ficaram em casa propagandeando a política da direita tradicional, a quase totalidade da classe trabalhadora – que representa a maioria da população brasileira – teve que continuar trabalhando.
São pessoas que tiveram de prosseguir tomando transporte público, tendo que se aglomerar em fábricas, supermercados, atuando nos correios e tudo mais, sem que houvesse, da parte dos governos, quase nenhuma medida de auxílio a eles durante a pandemia. Uma boa parte dos trabalhadores dos transportes se infectou com a doença. Além dos funcionários de hospitais, que não possuíam EPIs e quase nenhuma assistência do governo, nos correios muitos também morreram e o mesmo vale para todos os setores da classe trabalhadora que não tiveram o privilégio de “ficar em casa”.
Também é criminosa a ausência de investimento em leitos de UTIs, em novos hospitais, na contratação de agentes de saúde e, principalmente, de testes, que deveriam ser oferecidos massivamente para toda a população. Os exames do coronavírus só são oferecidos para quem vai atrás deles e tem condições de pagar por eles.
Agora, a quarentena vem chegando ao fim e o saldo dessa política genocida, da parte do governo federal e também dos governos estaduais, está aí para quem quiser ver. O país está no topo dos índices de contágios do mundo e sem nenhum sinal de diminuição. A esquerda também tem culpa nisso, por ter se omitido enquanto a direita atacava e matava a classe trabalhadora. A única forma de acabar com essa situação e oferecer alguma esperança de reação para o povo é por meio da luta política, com mobilizações verdadeiras de rua, pelo “Fora Bolsonaro” e por um programa verdadeiro de luta contra o coronavírus e contra a direita criminosa, que segue assassinando o povo com uma política deliberada de genocídio.