Nesta quarta (5), o Diário Causa Operária Online (DCO) entrevistou o petroleiro Deyvidi Bacelar. Um dos 5 dirigentes da Federação Única dos Petroleiros (FUP) que ocupam o prédio da Edise, sede da Petrobras no Rio de Janeiro. Integrante da comissão permanente de negociação com a Petrobras, Bacelar falou com exclusividade ao DCO. Trouxe dados da ampliação do movimento, que alcançou 17 plataformas de petróleo e já passa dos 19 mil trabalhadores em greve. Também sobre a perseguição do governo Bolsonaro, através da direção da Petrobras e do Judiciário golpistas, que tentam estrangular o movimento através de intimidações operacionais e multas contra a greve. Confira a primeira parte da entrevista.
DCO: O Tribunal Superior do Trabalho (TST), através do ministro golpista Ives Gandra Jr., direitista conhecido inimigo dos trabalhadores, fixou multas de R$ 250 a 500 mil reais e determinou que 90% da categoria trabalhe durante a greve! Típica medida ilegal que inviabiliza o próprio direito de greve, como a categoria recebeu a notícia?
Deyvidi Bacelar: É verdade. O TST através do ministro Iven Gandra, apesar de ter respeitado decisão última do SDC, decisão do dissídio do ano passado, uma votação apertada por sinal (4 a 3), pra gente. Ele coloca efetivo que de fato inviabiliza o movimento paredista, porém, as condições que ele estabeleceu são bem difusas. Além disso coloca uma multa muito vultuosa. Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e os Sindipetro NF (Norte Fluminense), ES (Espírito Santo) e BA (Bahia), 400 mil reais de multa para cada. Para os demais, 250 mil para cada, totalizando mais de 4 milhões por dia.
É bom lembrar, a alguns anos atrás, em 2015, um operador da REDUC, o Cabral, ele faleceu em um acidente de trabalho, num tanque que infelizmente não foi inspecionado seu teto – normalmente o operador sobe no teto do tanque para fazer atividades, tarefas operacionais -, Infelizmente devido a uma fraude no processo de inspeção de equipamentos, com relação à espessura do teto do tanque esse operador caiu no tanque e morreu, literalmente cozido. Num tanque que tinha produto numa temperatura de 70º. Esse trabalhador faleceu, sua viúva entrou com ação judicial, pedindo indenização, obviamente. E a Petrobras, pasmem, ofereceu 80 mil reais pela indenização da morte deste trabalhador. No processo judicial, a Justiça do Trabalho determinou uma indenização de 500 mil reais.
Agora, veja só. Para a Petrobras a vida de um trabalhador vale 80 mil. Para o Judiciário vale 500 mil e, ao mesmo tempo, para o ministro Ives Gandra, é razoável para ele estabelecer uma multa diária de 4 milhões e 500 mil reais para para os 13 sindicatos e à federação. É uma escrecência, decisão que nos assusta, porque a gente fica em dúvida se de fato nós estamos num Estado Democrático de Direito ou não.
A categoria recebeu essa notícia, mas como nós temos uma greve legal, não abusiva, o direito constitucional de realizar a greve, nós continuamos a greve. A orientação da FUP e seus sindicatos foi essa e a categoria está em greve. E por sinal greve que vem ampliando a adesão das pessoas a cada dia. Já chegamos a mais de 50 unidades no Brasil, com petroleiros de mais de 13 estados participando. Tendo em vista que os sindicatos que não fazem parte da nossa federação aprovaram a greve e estão participando conosco.
DCO: Segundo a FUP, em seu 4º dia, a greve alcançou 18 mil trabalhadores e 30 unidades do Sistema Petrobras em 12 estados. Este balanço numérico, muito expressivo, mostra a disposição de luta da categoria, que é um setor de ponta do movimento operário brasileiro. Qual o balanço da greve que você, como dirigente ocupado na sede da Petrobras, faz neste momento?
Deyvidi Bacelar: De fato esse número ele vem subindo a cada dia, entramos no quinto dia de greve. Já estamos agora com cerca de 50 unidades do Sistema Petrobras, com paralisação de atividades e grevistas. Esse número cresceu expressivamente por conta da adesão de trabalhadores e trabalhadoras das plataformas, já são 17 plataformas em greve, em torno então de 19 mil trabalhadores e trabalhadoras. A categoria ela se viu desafiada a entrar nesse movimento por conta dos ataques que ocorrem desde 2016, quando nós temos aí o governo Temer assumindo a presidência do país e o controle desta e de outras estatais.
O balanço é muito positivo, nós que estamos aqui na ocupação, da sede da Petrobras no Rio de Janeiro, especificamente na sala de reunião 01 no quarto andar. Nós entendemos que a categoria está disposta para a luta, para garantir a suspensão dessas demissões, garantir a suspensão das medidas arbitrárias que foram impostas principalmente para as áreas operacionais, disposta a defender seus empregos, mas principalmente defender a mudança de política de preços da Petrobras, que tem implementado uma série de alterações que visam a venda de ativos da Petrobras.
Este exemplo foi claro na FAFEN Paraná, que por conta justamente da mudança da política de preços ela teve um insumo básico, que é o resíduo asfáltico), com seu custo alterado. Um preço que era passado da REPAR para a FAFEN, a um preço de custo, agora, desde 2016, é passado a um preço de mercado, o que fez com que esses custos subissem e então a planta fechasse em prejuízo nos anos subsequentes. Então tem tudo a ver com a política de preços implementada em outubro de 2016.