Nessa semana o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, deu uma entrevista ao programa Roda Viva.
No primeiro ponto da entrevista, ele lançou uma ferradura no PT e um cravo no golpe. No golpe, ele apenas cita o ocorrido. Mas segundo ele, foi o PT que fundou no Brasil o “oportunismo político” e foi “o pai do bolsonarismo”. O primeiro argumento do foi que o PT que fundou o carreirismo da esquerda no Brasil, o que é jogar areia nos olhos de quem ouve isso, um revisionismo histórico grosseiro, como a quase totalidade das figuras da política burguesa não fossem, como o próprio Ciro Gomes, carreiristas profissionais.
A defesa do fascismo
A entrevista se constitui numa campanha lavajista contra a esquerda, usando de uma distorção política e história de causar náuseas a qualquer ouvido atento. Após algumas perguntas sobre a epidemia rapidamente desviadas, ele foca no principal: a greve de PM’s no Ceará. Ovaciona seu irmão como “herói” por passar em cima de um piquete, alegando legitima defesa, contra “milicias” do Ceará, em tom de desespero.
O tom desesperado da resposta demonstra a fragilidade do argumento. Que não passa de uma desculpa esfarrapada de defender seu irmão que perdeu o controle do aparato de repressão do seu “reinado”, no interior do Ceará, e com uma retroescavadeira quis recuperar seu trono. Chegando a escancarar o caráter fascista da ação, dizendo que no seu caso ele roubaria a arma dos policiais e quem atiraria era ele. Isto é, retroescavadeira é coisa de vice-rei, ele que é o rei mesmo enfrenta greve no crivo da bala, bravateia.
O coronel é “fica Bolsonaro”
Interrogado sobre a questão do impeachment do Bolsonaro, o “ministro”, assim chamado pelos entrevistados da imprensa golpista, enrola infinitamente. Vai do “fora FHC” ao “fora Dilma”, numa posição esdruxula dizendo que foi contra ambos. De novo, um “morde e assopra”. Para ele, não é possível de apoiar a derrubada de um governo neoliberal eleito por uma fraude gigantesca e manobras criminosas da burguesia e outro eleito por uma pressão da população, embora diga em certo ponto que a eleição da Dilma foi um “estelionatário eleitoral”. Faltou dizer que a Dilma foi derrubada apenas pelo motivo errado.
Depois da típica enrolada de um político profissional, e na resposta com criticas bem moderadas ao governo, praticamente carinhos, ele diz: nesse momento, sou contra. Isto é, nesse momento em que a crise do coronavírus, com uma mortalidade jamais vistas na história desse país em curto prazo, o oligarca admite vergonhosamente: deixa o homem trabalhar.
Uma “defesa” demagógica da Venezuela
Em certo ponto, Gomes diz defender a Venezuela contra a direita golpista daquele país. Pressionado pelos jornalistas e não querendo responder, afirma que a oposição da Venezuela é golpista, mas que o presidente eleito pelo povo venezuelano, Nicolas Maduro, é um ditador. Uma tentativa bem desconcertada de tentar jogar para os dois lados, e ficar do lado da direita.
Com uma saída rápida, para não decepcionar seus patrões imperialistas, disse preferir falar da crise do coronavírus, que na realidade pouco falou a respeito.
Direito ao aborto: uma luta “identitária”?
Quando questionado sobre os costumes, ele tocou num ponto extremamente político. Questionado sobre direitos democráticos da população, como direito ao casamento homossexual, direitos iguais ao negros, etc. ele escutou a palavra aborto. O “coronel” ficou vermelho de raiva.
Segundo ele, o direito ao aborto das mulheres é uma insulto à “moral brasileira” e que é uma “luta identitária”, que serviria a direita neoliberal ganhar a eleição, e não ele que é super progressista. Em um rápido deslize, ele deixa de novo a máscara cair, mostrando sua face conservadora e reacionária.
Aqui é necessário dizer duas coisas fundamentais: primeiro que o defesa do aborto é uma questão fundamental na luta das mulheres pela sua emancipação social, é a pedra de toque de quem não quer defender verdadeiramente a mulher na sua luta pela sua libertação social e quem não, porque é a forma concreta em que a mulher decida sobre sua própria vida, e não ser jogada ao status de escrava do lar. Deve ser uma defesa incondicional, parte de um programa verdadeiramente democrático, e não uma questão de conveniência eleitoral. Segunda, que dizer que essa luta histórica das mulheres é uma luta identitária, é de um cinismo e uma demagogia sem precedentes. É uma tentativa de diminuir a luta das mulheres e defender o lixo conservador e reacionário que defende.
O “programa” para crise do coronavírus de Ciro, também é uma campanha eleitoral
Sobre o problema da crise do coronavírus, que o Ciro disse tanto querer debater na entrevista, ele fala extremamente pouco, e faz apenas demagogia eleitoral. Álcool em gel, papelzinho, leitos novos, etc. O “ministro” acha que o Brasil é o seu gabinete parlamentar. Seu “programa” para a crise é tão inócuo, raso e verdadeiramente idiota, que cria uma dificuldade de fazer uma crítica detalhada: porque não há o que criticar, não há proposta alguma, apenas uma demagogia eleitoral rasteira.
Além de se valer da crise para desviar de toda pergunta, não diz absolutamente nada.
É necessário denunciar o caráter direitista de Ciro Gomes e sua política da direita golpista, com o mar de demagogia que sai de seu discurso. E essa entrevista é um prato cheio para esclarecer essa confusão que permeia setores da esquerda.