Na última quarta-feira (19), ganhou as páginas dos principais órgãos da imprensa burguesa a notícia de que o governo golpista de Jair Bolsonaro estuda redução no programa de assistência social do Auxílio Emergencial. O programa, que prevê o pagamento de R$600 a trabalhadores informais, desempregados e população de baixa renda se encontra sob ataque no valor do auxílio e no alcance, que atualmente chega a somente 66 milhões de brasileiros, embora tenha quase 100 milhões de inscritos.
Bolsonaro quer diminuir o valor repassado aos mais pobres, valor este que já é extremamente baixo. E também quer entregar esse auxílio, rebaixado, para um número ainda menor de brasileiros. Ou seja, apenas 66% dos que necessitam do auxílio o estão recebendo, e Bolsonaro quer diminuir ainda mais esse percentual, diminuindo também o valor repassado. Quer que o povo morra de fome, simplesmente isso.
Além da notícia em si, há uma coisa que deve ser destacada, assimilada com muita clareza sobre esta ameaça à população e que diz respeito às política nacional. Isto por que o caso traz novamente à tona o apoio fundamental ao regime de Bolsonaro por Rodrigo Maia (DEM-RJ), o que coloca mais concretude à limitação da política de frente ampla.
Para o golpista do DEM e um dos principais articuladores da burguesia no cenário atual, “nós (os parlamentares) temos responsabilidade”, o que, naturalmente, não se traduz em um mínimo de preocupação com as condições de penúria na vida de dezenas de milhões de brasileiros, pobres e vivendo em situação ameaçadora em tempos de pandemia. A responsabilidade aqui, é meramente para com os rendimentos da burguesia, o que se verifica, por exemplo, na contradição entre a ameaça de cortes no auxílio destinado a milhões de trabalhadores o pacote trilionário que o regime político prontamente entregou a um reduzido número de capitalistas, tão logo a crise apareceu.
Em outras palavras: a “responsabilidade” que Maia diz ter é para com os banqueiros. É a chamada “responsabilidade fiscal”, que só é levantada quando se trata de fechar a mão para o povo, enquanto abre para os capitalistas. Maia está dizendo que não há condições de manter o auxílio emergencial, porque o governo não teria dinheiro. Mas, contraditoriamente, tem muito mais dinheiro para entregar aos sanguessugas da nação.
Sem nenhuma surpresa, a mesma posição se encontra com Bolsonaro, que sob os termos de uma erudição visivelmente menor, diz que pretende “desmamar” os trabalhadores pobres, duramente atingidos pela política econômica empreendida pelo regime bolsonarista, alegando para justificar este ataque, o custo de aproximadamente R$50 bilhões por mês com os pagamentos, o que seria muito alto segundo o governo. Claro que é uma canalhice. Ainda que o auxílio fosse prestado durante 12 meses, o valor dispensado não seria superior a R$600 bilhões, menos da metade dos mais de R$1,3 trilhão dados aos banqueiros.
Contudo, vê-se que embora a linguagem seja diferente, a política é exatamente a mesma: esmagar mais e mais a classe trabalhadora em defesa de uma burguesia opulenta, que consome infinitamente mais do que os recursos destinados a trabalhadores ameaçados pela crise econômica e sanitária, sem deixar nada além de destruição e morte ao povo brasileiro.
O auxílio emergencial já é extremamente limitado como programa de mitigação da crise. Ligeiramente superior a uma cesta básica na maioria das capitais brasileiras, o valor é insuficiente para as necessidades básicas da população, que aumentaram sob a ameaça do COVID-19. Contudo, muito pior é o fim de qualquer tipo de auxílio aos trabalhadores, severamente empobrecidos após anos de política econômica de arrocho contra o proletariado.
Isto evidencia a impossibilidade de acordo com a direita, seja qual setor dela for. No fundamental, os distintos campos da burguesia estão todos unidos na selvageria contra os trabalhadores e o amplo conjunto da população, cuja defesa de seus interesses depende de uma política totalmente independente da burguesia e da mobilização de suas próprias forças.