Nesta semana, logo após o encerramento da apuração do 2º turno das eleições municipais, a imprensa burguesa lançou uma série de matérias fazendo um balanço de que o PT teria sido o maior derrotado destas eleições e atribuindo ao ex-presidente Lula e à presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann, a responsabilidade pelo que considerou o pior desastre eleitoral do Partido nas eleições. Vários elementos da direita e da esquerda – do golpista vice-presidente, general Mourão, ao senador da Bahia, Jaques Wagner – declararam que é necessário “renovar” o PT afastando-o da influência de Lula. A manobra é clara, culpar Lula e garantir que ele não seja candidato, para que o PT chegue desarmado nas eleições de 2022.
O secretário de comunicação do PT, Alberto Cantalice, por exemplo, propôs uma espécie de aposentadoria compulsória do ex-presidente. Uma desrespeito asqueroso ao ex-presidente:
“O PT tem várias lideranças: [Fernando] Haddad, Camilo [Santanta] (homem de Ciro Gomes no Ceará), [Jaques] Wagner, [os governadores] Rui Costa, Wellington Dias e Fátima Bezerra
. Vários senadores. O Lula já deu muito para o partido. É hora de abrir espaço”, afirmou Cantalice.
Já o senador da Bahia, Jaques Wagner, foi tão ou mais agressivo:
“A gente não pode ficar refém. Eu sou amigo irmão do Lula, mas vou ficar refém dele a vida inteira? Não faz sentido.”
O grau alto do tom reacionário permitiu que o petista se alinhasse com ninguém mais, ninguém menos do que o vice-presidente golpista, general Hamilton Mourão, que disse:
“O PT tem que se reinventar. Tem que se libertar de acreditar que o Lula resolve tudo. O Lula é passado, eles tem que buscar novas lideranças.”
Esse foi o tom que permeou a imprensa capitalista durante a semana. Colunistas despejaram uma enorme virulência contra Lula e Gleisi (a ala lulista do PT), muito semelhantes ao tom utilizado em 2016 para derrubar a presidenta Dilma Rousseff (PT). Um exemplo disto foi um artigo publicado na Folha de São Paulo, na coluna de Thaís Oyama.
“Entre abrir espaço para o crescimento de novos nomes, e fortalecer o partido e a esquerda, e manter o seu como única opção, mesmo com prejuízo do partido e da esquerda, Lula sempre escolheu ficar ao lado dele mesmo.”
Além de responsabilizar Gleisi e Lula pela que considera a pior derrota que o PT sofreu, a jornalista venal da imprensa burguesa exibe de onde vem a fala de Jaques Wagner:
“A cabeça de Gleisi não vale uma missa. Mas talvez seja tarde demais para cortar a de Lula. Há 40 anos, o PT é refém do ex-presidente. Agora, como disse Wagner, quer se libertar dessa prisão. A questão é o que sobrará do partido se conseguir.”
Uma mais reacionária que a outra, é até difícil distinguir por quem foi proferida cada declaração. O que mostra que se trata de uma campanha reacionária, que tem a mesma origem, independente do interlocutor. Aqui, Alberto Cantalice, Jaques Wagner e outros esquerdistas que entraram na onda, somam-se ao general de extrema direita, Hamilton Mourão, à Folha de SP. Paulo, O Globo, Estadão, Sérgio Moro e a tantos outros que apoiaram o golpe de Estado de 2016, a prisão e cassação de Lula e a fraude eleitoral de 2018.
Isto deixa claro que não se trata de uma coincidência. Jaques Wagner, o grande “amigo e irmão” de Lula, segundo ele mesmo, não está dando um tiro no escuro, está declarando guerra dentro do PT contra Lula, ou seja, contra a ala lulista, o setor mais proletário e popular do Partido.
A fonte da campanha contra Lula e Gleisi é a burguesia e sua imprensa. Estadão, O Globo, Folha de S. Paulo foram os principais artífices da empreitada, Cantalice e Wagner cumprem neste sentido o papel de chamar os demais setores da direita dentro do partido a se agruparem contra Lula e Gleisi. É daí também que vem a proposta de setores autointitulados da esquerda do PT, como Breno Altman, de pedirem a antecipação do Congresso do PT para “renovar” sua direção, leia-se derrubar a presidenta Gleisi, que representa uma direção lulista, indicada pelo próprio Lula.
A participação de integrantes do PT na crítica a Lula, neste caso, só mostra que a burguesia está jogando duro dentro do PT para colocar a ala lulista sob o controle da ala direita, representada por elementos que defendem a aliança com a direita golpista, como é o caso do PT da Bahia, de Wagner e do governador Rui Costa, que se aliou com o DEM.
Essa ofensiva pós eleições dá uma noção do que foi a fraude eleitoral, que levou o PT a pela primeira vez desde 1985 não eleger nenhum prefeito de capital! Além disso, nas cidades em que o Partido foi para o 2º turno, houve uma verdadeira guerra contra seus candidatos.
Marília Arraes, no Recife, enfrentou uma campanha de características genuinamente bolsonaristas, como a demagogia com os evangélicos e a ideia de que era preciso “impedir a volta do PT”, vindas da “frente ampla democrática”, da coligação que ia do MDB ao PCdoB, liderada pelo PSB.
No Rio de Janeiro foi ainda pior. Com a candidatura de Benedita da Silva boicotada pelo PSOL, pelo PCdoB e pelo PDT (que lançaram candidaturas próprias) as chances do Partido ir ao 2º turno não se concretizaram e a frente ampla conseguiu fazer com que o PT apoiasse a candidatura de Eduardo Paes, do DEM, partido da ditadura militar, e um dos principais responsáveis pelo golpe de Estado de 2016, que derrubou Dilma Roussef (PT).
Se foi assim nas eleições municipais, é possível entender o que estará em disputa até 2022. Essas declarações encomendadas pela direita golpista, mostram que para fechar o golpe de Estado é preciso colocar o Lula sob um ostracismo político, como ocorreu nos outros países latino-americanos, Cristina Kirchner, Evo Morales, Rafael Correa, Manuel Zelaya, etc.
Diferente do que Jaques Wagner disse, a burguesia e a ala direita da qual o senador faz parte, querem colocar o maior candidato de esquerda do País, o único que tem chances numa disputa eleitoral com a direita em 2022, a reboque da direita golpista. Isto para que o PT seja derrotado e num 2º turno entre a direita e Bolsonaro, seja levado a apoiar um candidato como João BolsoDoria (PSDB), fechando o golpe de Estado através das institituições.