Escrevemos essa coluna há poucas horas do primeiro turno das eleições municipais
A campanha confirmou, no fundamental, toda a análise e os prognósticos que fizemos antes do início do processo eleitoral.
Foram, na sua organização e funcionamento do processo eleitoral, as eleições mais antidemocráticas, das últimas décadas, não só pela “base legal”, por serem as primeiras que ocorrem sobre a vigência da “reforma” eleitoral ultra reacionária, aprovada em 2017, logo após o golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff (em 2016), além de outras normas antidemocráticas como a chamada “lei da ficha limpa” que, entre outras questões impuseram:
- que 1/3 dos partidos devidamente registrados na justiça eleitoral não tivessem sequer um segundo de empo de propaganda eleitoral “gratuita” no rádio e na TV (dentre eles o PCO);
- que 1/3 dos partidos com representação parlamentar no Congresso Nacional dispusessem apenas de segundos nessa mesma propaganda;
- que partidos decadentes e tradicionais da direita (amplamente repudiados nas eleições anteriores) abocanhassem a maioria desse horário eleitoral, em uma política monopolista e casuística;
- o indeferimento de inscrições e outras formas de “cassação”, sob as mais variadas formas, de cerca de 15 mil candidaturas, algumas delas às vésperas das eleições, com o judiciário golpista realizando uma “pré-seleção” de quem o povo poderia votar;
Além disso, a ditadura nas eleições a favor dos candidatos da direita impôs:
- a proibição de quase todo tipo de atividades, inclusive da realização de atos de campanha pública propriamente como se deu em cidades como Salvador, Recife, Fortaleza e no estado do Amapá, claramente para impedir a mobilização de setores da esquerda;
- a violenta manipulação e fraude das pesquisas eleitorais em favor não só dos candidatos da direita golpista que a burguesia e sua venal imprensa capitalista desejavam eleger como também dos candidatos da esquerda defensora da frente ampla com os golpistas, como no caso de Boulos, do PSOL – em São Paulo – e da ex-chefe de Polícia do governo Cabral e candidato do PDT no Rio de Janeiro, Martha Rocha.
Tirando proveito do gigantesco genocídio promovido com a pandemia, na qual os governos da direita (e não apenas o de Bolsonaro) já levaram à morte quase 170 mil brasileiros, a burguesia golpista tratou de garantir uma eleição a toque de caixa, praticamente sem campanha, sem debates etc.
Não faltou, é claro, o show de cinismo dessa direita que, diante da situação de verdadeiro genocídio e caos econômico e social no País (mais de 50% de desemprego, inflação crescente, recorde de fome etc.), se dedicou à política ilusória de prometer dias melhores, quando sabem que a situação tende a piorar para a maioria do povo e quando preparam novos ataques para logo depois das eleições.
Para essa operação reacionária a direita, representante dos setores mais poderosos da burguesia nacional e do imperialismo, os verdadeiros pais do golpe de Estado, contaram com a prestimosa colaboração de setores da esquerda burguesa e pequeno burguesa defensora da frente ampla com essa direita contra o PT “lulista” e contra qualquer possibilidade de uma política própria, independente da esquerda, dos trabalhadores diante da situação. Esses setores usaram e abusaram da “imitação” da direita, com candidaturas reacionários – incluindo candidatos dos órgãos de repressão -, centenas de coligações com os partidos da direita e extrema direita (até mesmo com bolsonaristas), apresentação de promessas eleitorais descabidas, recebimento de financiamento de elementos da direita, apoio a candidatos de partidos burgueses (contra os candidatos de seus próprios partidos) etc. etc. etc.
Em tais condições, armou-se um resultado no qual as principais máquinas políticas da burguesia (PSDB, DEM, MDB, PSD e sua “sublegendas”) devem conquistar cerca de 80% das capitais e, pelo menos 2/3 dos governos municipais, visando também preparar uma nova etapa do golpe de Estado, com a retomada do poder político por este “centrão” em 2022, por meio de uma candidatura tipo “Joe Biden”, ou seja, de um genuíno representante da direita, apoiado pelos bancos e grandes monopólios, que seja apresentado como um “democrata”, um candidato do “bem” contra o “malvado” Bolsonaro.
Buscaram criar as bases para a política de buscar submeter todo o povo brasileiro aos planos da burguesia, “levantando a bola” de setores da esquerda que apoiam a frente ampla e mantendo o ataque ao ex-presidente Lula e aos setores a ele ligados no PT, e à toda esquerda classista. Ao mesmo tempo, em que impuseram um maior “controle” sobre o governo improvisado de Bolsonaro, do qual foram os verdadeiros pais.
Contra os ataques da direita e a política reacionária e capituladora da maioria da esquerda, o PCO – duramente atacado pela direita e pela esquerda frente amplista, fez uma campanha politicamente vitoriosa, erguendo em todo o País, uma verdadeira tribuna de luta pelas reivindicações populares diante da crise, opostas e irreconciliáveis, com os interesses da burguesia; denunciou o processo fraudulento e colocou como eixos centrais – para superar a defensiva geral da esquerda e das direções do movimento operário – a defesa da unidade em torno da luta pelo fora Bolsonaro e todos os golpistas, pela restituição dos direitos políticos de Lula e por sua candidatura presidencial, única capaz de unificar as organizações de luta dos explorados e tirar a esquerda da divisão e defensiva atuais.
Desta forma, manteve o crescimento de seu trabalho político, de sua militância de sua influência política entre parcelas importantes dos trabalhadores e da juventude.
Esta política vai além das eleições, representa uma perspectiva política real para os explorados diante da crise histórica do capitalismo, para o que é preciso – mais do que nunca – fortalecer o desenvolvimento em curso do PCO, principal embrião do partido operário, revolucionário e de massas, no Brasil.