É comum as pessoas verem o futebol apenas pela parcela que aparece na televisão e na imprensa burguesa. Entretanto, isso não passa da mínima parte do esporte. Enquanto os grandes astros ganham dinheiro o bastante para que, pelas próximas 5 gerações, sua família tenha uma vida confortável, a quase totalidade dos jogadores vivem com pouco mais de um salário mínimo mensal. A quase totalidade dos jogadores profissionais e amadores (que, no interior do Brasil, é praticamente profissional) é de origem operária, sendo, muitas vezes, os principais provedores de recursos dos seus lares. Nos clubes menores não há academias para treino físico, os gramados são verdadeiros pastos e há pouca ou nenhuma seguridade para os atletas em caso de lesões ou fim dos seus vínculos. Como noticiado desde o inicio da pandemia neste Diário, jogadores estão ficando sem contratos ou tendo estes suspensos. Isto, sem contar com os que estão com salários atrasados pelos mais diversos motivos. A maioria terá de procurar formas de conseguir seu sustento, seja cortando cabelo, lavando carros, entregando comida, etc. A situação econômica causada pela crise capitalista, acelerada pela pandemia, abala profundamente todos os setores, inclusive o futebol. Afinal, assim como o futebol faz parte da cultura, o futebol profissional faz parte do capitalismo. Os salários, as transferências e os contratos de patrocínio e transmissão estão regidos pela lógica capitalista. Logo, a deterioração do capitalismo afeta profundamente o futebol profissional. A relação entre capitalismo e futebol profissional fica clara pela velocidade que as federações aprontaram o retorno do futebol na Europa. Nem mesmo a pandemia havia sido “controlada”, já haviam protocolos mil para o retorno das atividades. Até mesmo o ridículo “aquecimento com máscara” foi visto em jogos da Bundesliga. No Brasil, os clubes maiores estão com graves problemas financeiros. Parte deles está a fechar acordos com os jogadores para parcelar seus vencimentos. Outra parte simplesmente já sabe que não terá capacidade de honrar seus compromissos. Para os clubes pequenos, a paralização dos campeonatos, sem o apoio necessário, tornou inviável sua operação. Não é exagero afirmar que parte dos clubes menores não retornarão às atividades após a pandemia. Assim, tem-se que parte da cultura popular, da história vinculada a estes clubes, em alguma medida, também se perderá. Os atletas serão jogados na crescente massa de desempregados do país. Se tornarão, como já está acontecendo durante este período, em trabalhadores informais ou de serviços análogos à escravidão.
