Há exatos cem anos, em 10 de dezembro de 1920, nascia, na Ucrânia, Chaya Pinkhasovna Lispector, ou Clarice Lispector, nome que adotou definitivamente no Brasil. De família judaica, seus pais fugiram da Rússia durante a Guerra Civil e Clarice chegou ao Brasil com apenas dois anos de idade. Por isso mesmo, a escritora, declarava-se brasileira.
Inicialmente, os pais de Clarice e duas irmãs suas se instalaram em Maceió, mudando-se para logo para Recife onde Clarice cresceu e perdeu a mãe com apenas oito anos de idade. Aos 14, a família muda-se para o Rio de Janeiro, onde finalmente se estabiliza. Clarice ingressa com 19 anos na Faculdade de Direito mas desenvolve mesmo o gosto pelas letras, passando a traduzir artigos.
Seu primeiro conto conhecido, “Triunfo”, foi publicado na revista Pan em 25 de maio de 1940, antes da escritora completar 20 anos. Já nesse conto, a escritora apresentava um tema que seria recorrente em sua obra, descrevendo os pensamentos de uma mulher, no caso uma mulher abandonada pelo marido.
O primeiro romance “Perto do Coração Selvagem” apresenta já a técnica de escrita que faria de Clarice uma escritora comparada a James Joyce e Virgínia Woolf, técnica que ficou conhecida como fluxo de consciência, que foi desenvolvida nos romances posteriores da escritora. Tal técnica também a aproximou de alguns surrealistas brasileiros.
Clarice Lispector é hoje a escritora brasileira mais traduzida no mundo e muito badalada nos meios acadêmicos. Não há dúvida sobre seu talento de escritora. A badalação, no entanto, não vem desse talento. A escritora tem sido usada principalmente por seus temas tratando dos sentimentos femininos.
É recorrente em seus livros os desabafos da mulher, seja ela burguesa seja ela trabalhadora, como é o caso da personagem Macabeia, do que é o seu mais famoso livro, “A hora da estrela”, de 1977. A novela conta a história da personagem, uma empregada de datilografia, cuja única fonte de informação e conhecimento é o rádio e essas descobertas e o sentimento de Macabeia vão sendo apresentados pela autora no desenrolar da historia.
Embora seja uma questão importante do romance, a preocupação central do livro não é a denúncia social da exploração daquela mulher, ainda que se possa notar o problema pela própria situação da personagem, mas uma espécie de aura sentimental que decorre dessa situação. O ângulo um tanto quanto idealista de seus livros acaba sendo um chamariz para os meios acadêmicos pequeno-burgueses, afeitos a filosofias desse tipo.
Seu romance “A Paixão segundo G.H.” talvez seja o mais significativo da técnica do fluxo de consciência e traz ainda elementos do existencialismo. Trata-se de um monólogo em primeira pessoa com as reflexões de uma mulher de classe média que, após demitir a empregada, tendo que arrumar a casa, filosofa sobre uma barata que esmagou na porta de um guarda-roupa.
Lispector é uma das principais escritores da geração de 40 do modernismo brasileiro.
Outros romances da autora são, O Lustre (1946), A Cidade Sitiada (1949), A Maçã no Escuro (1961), Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969), Água Viva (1973) e Um Sopro de Vida (1978). Ela escreveu ainda inúmeros contos, crônicas, literatura infantil e trabalhou como jornalista durante a vida.
A escritora morreu aos 56 anos, vítima de câncer, um dia antes de seu aniversário, no dia 9 de dezembro de 1977.