No dia 07 de Março de 1810, o Rei D. João VI divulgou uma Carta Régia defendendo a liberdade econômica, um planejamento para a acumulação de capitais e a industrialização. O fato ocorreu exatamente dois anos após o desembarque da família real no Rio de Janeiro, em 07 de Março de 1808, que foi promovido à capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
O rei já havia dado mostra de sua cessão às demandas dos liberais-progressistas no ano de sua chegada à América, revogando o decreto que proibia a criação de indústrias em território brasileiro.
A Carta – um aprofundamento da política econômica burguesa – foi redigida com auxílio de Rodrigo de Souza Coutinho, ministro real que se tornaria, a seguir, patrocinador na construção da indústria siderúrgica no Brasil.
No início do século XIX, o desenvolvimento econômico, notadamente o industrial, impelia os antigos reinos a entregarem o protagonismo às classes burguesas e desenvolvimentistas. Em outras palavras, as coroas foram forçadas a tornarem-se Estados-Nações. A animosidade mundial havia escalado quando, no final do século XVIII, as revoluções burguesas desamarraram o avanço da produção industrial, limitando ou extinguindo o poder da realeza.
Uma porção desta tendência progressista já habitava o Brasil no final do século XVIII. Não por acaso, pouco mais de 30 anos antes, em 1785, a coroa portuguesa aboliu o estabelecimento das manufaturas e indústrias na colônia e em todos os seus domínios ultramarinos. Portugal temia que os colonos do Brasil trilhassem o mesmo caminho dos seus pares ingleses na América do Norte, que, em 1776, romperam violentamente com a Inglaterra.
Com o deslocamento do eixo de poder de Portugal para o Brasil, fez-se necessária a revisão da medida restritiva para que Portugal buscasse reaver o tempo perdido do processo de industrialização, já em pleno andamento nas outras potências europeias.
Não obstante este claro movimento conciliatório da realeza ante os anseios burgueses, houve conflitos, tanto no Brasil quanto em Portugal. A Revolução Pernambucana (1817) e a Revolução Liberal de Porto (1820), ambas abertamente antimonárquicas e republicanas, foram demonstrações deste processo de expurgo do já desgastado e antiquado poder real.