Terça-feira (12), a senadora boliviana Jeanine Áñez assumiu a presidência do país em uma sessão sem quórum do Congresso, em uma manobra golpista, ilegal e ilegítima. Foi a maneira de a direita golpista, guiada pelo imperialismo, usurpar o governo da Bolívia depois da renúncia forçada de Evo Morales, que deixou o cargo ameaçado pelos militares no domingo (10). Um dia depois Áñez montou seu ministério para um “governo de transição”, com objetivo de convocar novas eleições excluindo Evo Morales do processo, pelo motivo de que ele provavelmente venceria as eleições apesar do golpe de Estado.
Jeanine Áñez tinha o cargo de segunda vice-presidente do Senado. Todos os políticos à frente dela na linha de sucessão da presidência renunciaram, obrigados pelos militares. O vice-presidente Álvaro García Linera, a presidente do Senado, Adriana Salvatierra e o vice-presidente do senado, todos do Movimiento Al Socialismo (MAS), partido de Evo Morales, deixaram seus cargos. De modo que a presidência do senado, e portanto a própria presidência da Bolívia, caiu no colo da golpista Áñez.
Composição da frente golpista
No entanto, essa foi uma solução improvisada para o golpe da direita, determinada pela circunstância acidental de ela estar na segunda vice-presidência. Esse improviso visa conciliar os interesses de duas alas distintas que levaram o golpe de Estado adiante. De um lado, estava a direita tradicional, representada por Carlos Mesa, candidato derrotado por Evo Morales nas eleições, tendo ficado em segundo lugar.
De outro lado estava Luis Fernando Camacho, do Comitê Cívico de Santa Cruz, um político de extrema-direita que acabou crescendo durante a campanha golpista, que acabou preponderando na situação justamente por seu caráter fascista, em um momento em que a burguesia desencadeou uma campanha fascista contra o MAS para dar o golpe. Daí a violência contra símbolos indígenas, expressão do racismo desses setores, que se veem como brancos em um país como a Bolívia. E a entrada com uma bíblia na sede do governo, o Palacio Quemado.
Mais importante que esses ataques a símbolos, porém, são os métodos fascistas usados contra os apoiadores do MAS. A casa da irmã de Evo Morales, por exemplo, foi invadida e queimada. A direita golpista ofereceu US$50 mil pelo assassinato de Evo Morales, conforme denúncia do próprio presidente derrubado feita quando desembarcou no México. Em Vinto, no departamento de Cochabamba, antes do golpe ser consumado, uma prefeita teve o cabelo cortado e foi pintada de vermelho, obrigada a desfilar assim pela cidade, em um ato de humilhação ao melhor estilo nazista.
Portanto, o governo de Áñez é apoiado tanto pela direita tradicional, supostamente “democrática”, quanto pelos fascistas que tomaram a dianteira do golpe durante a campanha para derrubar Morales. A situação boliviana demonstra, mais uma vez na história, que nas horas decisivas a direita liberal e democrática apoia os fascistas contra a esquerda e os trabalhadores.
Para o Brasil, essa é uma lição crucial nesse momento, em que setores da esquerda, com apoio da imprensa burguesa, procuram advogar por uma frente com direitistas “democráticos” para fazer oposição a Bolsonaro. Também no Brasil foi a direita que pavimentou o caminho para a extrema-direita ao desencadear a campanha golpista pela derrubada de Dilma Rousseff.