Tomou posse na última terça-feira, dia 10 de dezembro, como presidente da República Argentina, Alberto Fernandez, numa eleição onde teve como concorrente direto e principal opositor, o neoliberal direitista Mauricio Macri, eleito através de um golpe bem orquestrado, sedimentado em manobras e outros estratagemas eleitorais típicos da burguesia liberal latino-americana, em crise, à semelhança do que ocorreu no último período, em outros países do continente, Brasil, Colômbia, Chile, Paraguai e mais recentemente o Uruguai.
A esquerda reformista, parlamentar e institucional do continente, saudou entusiasticamente a eleição do candidato peronista, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como sua vice. Originalmente, Cristina foi a encabeçadora da chapa, mas as pressões e a própria capitulação da senhora Kirchner fez com que a atual senadora abrisse mão da sua candidatura em favor de Fernandez.
Ao contrário do que pensa e diz a esquerda do continente sobre o recém empossado presidente argentino, Alberto Fernandez não tem nada de esquerdista e ostenta um perfil muito pouco progressista. Fernandez tem uma trajetória muito desabonadora nas fileiras do Partido Justicialista (Peronista), onde sempre manteve relações estreitas e muito próximas a figuras e elementos que compunham a ala direita do peronismo, como Carlos Menem e Domingo Cavallo, o todo poderoso Ministro da Economia de Menem. Cavallo marcou sua trajetória no país depois que se tornou novamente Ministro da Economia para conduzir a política econômica do então presidente Fernando De la Rúa. Domingo Cavallo adotou uma série de medidas profundamente impopulares, provocando uma gigantesca revolta popular, que acabou por culminar com a renúncia de De la Rúa, depois de gigantescas mobilizações populares que tomaram conta da Argentina em dezembro de 2001. Fernandez foi eleito vereador, em Buenos Aires, apoiado por Domingo Cavallo.
Fernandez pode ser visto e caracterizado como nada mais do que um funcionário dos neoliberais portenhos na chapa peronista, muito mais próximo do programa do candidato recém derrotado, Maurício Macri, do que do programa reformista da “esquerda” argentina, representado neste momento pela ex-presidente e atual vice, Cristina Kirchner. Isso sem falar na possibilidade de que ocorra na Argentina o mesmo fenômeno anômalo que ocorreu no Equador com o vice do ex-presidente Rafael Corrêa, Lenin Moreno, que depois de eleito, se desvinculou de Corrêa e se atirou nos braços da direita equatoriana e do imperialismo.
Portanto, não há qualquer razão para se creditar qualquer confiança no programa a ser adotado por Fernandez, menos ainda acreditar que o companheiro de Cristina Kirchner na chapa vitoriosa irá atender as reivindicações das massas populares portenhas, profundamente pauperizadas pela política perversa de ataques do imperialismo, aplicadas pelo governo de Mauricio Macri durante os quatro últimos anos. A esquerda argentina e de resto a do continente, assim como os movimentos populares de luta do país vizinho devem se delimitar claramente do novo governo, se colocando no terreno da mobilização e da luta contra os planos de continuidade do imperialismo, agora sob o comando do peronista de direita, Alberto Fernandez.