Em texto intitulado “Bolsonaro, Doria e Moro: campanha de 2022 já começou. E onde fica a oposição?”, publicado no Brasil 247, o integrante do grupo Jornalistas pela Democracia, Ricardo Kotscho, se queixa da falta de campanha eleitoral da esquerda – a chamada a “oposição” – para as eleições de 2022.
Segundo ele, o principal candidato, Fernando Haddad, “herdeiro de Lula”, na opinião do autor, “se recolheu a um obsequioso silêncio e agora mais parece candidato a reitor da USP.” Já Ciro Gomes está do lado do Bolsonarismo através da campanha anti-petista.
Portanto, para ele, a situação é catastrófica. A direita já está se lançando para as eleições de 2022 e a esquerda (supostamente) não está fazendo nada! É o fim do mundo. Inclusive, no final do texto sugere que “neste fim de semana, se você ainda não viu, corra para assistir no Netflix ao aterrorizante documentário “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, uma obra prima sobre a tragédia brasileira, mostrando como tudo começou, muitos séculos atrás”.
Ou seja, não tem solução, o Brasil está um caos, uma “tragédia”, e o melhor que possamos fazer é esperar chegar algum salvador da pátria que decida se lançar em campanha eleitoral para 2022.
Este raciocínio de Kotscho, entretanto, está totalmente errado. O que mais há na esquerda é campanha eleitoral. A tentativa de formar uma Frente Ampla de oposição para “colocar Bolsonaro na linha”, o repúdio à palavra de ordem mais popular do país (“Fora Bolsonaro”), acompanhado de uma crítica supérflua, às vezes com uma aparência mais radical… tudo isso é campanha eleitoral.
É isso que Haddad, Boulos, Manuela D’ávila, Flávio Dino e outros que estão procurando fazer alianças com o PSDB e, em determinadas coisas, com o próprio governo Bolsonaro, estão fazendo desde o começo.
Na verdade, o que Kotscho não entende é que é justamente esse o problema. O povo quer Bolsonaro fora, mas a esquerda só pensa em eleição. E como se sabe, é preciso respeitar as regras da suposta “normalidade democrática”, que ninguém vê, além dos craqueiros eleitorais.
Enquanto isso, fazem de tudo para impedir a luta contra o governo, pois isso seria algo antidemocrático – pelo contrário, devemos dar “boa sorte” a Bolsonaro, assim como Haddad fez; ou simplesmente se negar a ouvir as exigências do povo, que não quer mais Bolsonaro no poder, pois isso seria “se comparar com Aécio Neves”, como afirmou Boulos (PSOL).
O raciocínio está errado prematuramente, pois o autor do artigo afirma que o país está um caos, mas a solução seria esperar até 2022 para ganhar as eleições. Mas e durante esse tempo todo, temos de deixar Bolsonaro destruir todo o país e acabar com os direitos da população? Devemos esperar que Bolsonaro consolide uma ditadura para tirá-lo do poder democraticamente? É um raciocínio torto.
Não devemos esperar até 2022, nem muito menos fazer campanha eleitoral. Agora, é hora de impulsionar a luta contra o governo. As gigantescas manifestações que ocorreram nos dias 15, 30 e 14 já mostraram o caminho: a mobilização permanente contra Bolsonaro, até que o governo caia. Não adianta deitar em posição fetal e esperar até 2022. É preciso lutar, sair às ruas e conquistar as demandas por meio da força.