Por Nivaldo Orlandi
Ciranda não é luta. Bicicletaço, teatrinho, tuitaço, “distribuição de abraços”, “pintar a cara”, desfilar, recitar versinho, distribuir livros, rosas, também luta não é.
Esquerdas não ganham eleições pelo motivo de serem esquerda
Em nenhum lugar do mundo, eleições foram feitas para a esquerda as eleições ganhar.
Essa lição básica a esquerda “cirandeira” deveria saber.
Que as pessoas comuns do povo acreditem no poder mágico de que voto e eleições resolvam os problemas da classe trabalhadora, até se entende, mas que partidos de esquerda nisso acreditem é inadmissível.
No sistema capitalista, “a burguesia controla o estado”, eis a lição básica que nos ensina Marx.
Eleições organizadas pelo estado capitalista são controladas pela classe dominante. Logo, já que a classe dominante tudo domina, por que haveria ela, a classe dominante, de tolerar que as eleições, de conjunto, fossem pela esquerda ganhas?
Ou a esquerda sabe disso. Ou a esquerda não sabe, que voto e eleições nada mudam de fundamental nas reivindicações básicas da classe trabalhadora.
Se a esquerda disso não souber, explica-se a confusão no campo da esquerda parlamentar e dos partidos de esquerda de conjunto.
“É o fetichismo no poder das eleições”, nos ensina Marx. É como se as eleições tivessem um poder sobrenatural, um poder mágico, na solução dos problemas do povo.
Por outro lado, se a esquerda disso souber, ou seja, de que voto e eleições nada mudam de fundamental nas reivindicações básicas da classe trabalhadora, estará essa esquerda dando um golpe ideológico no conjunto da população.
Vende ilusões eleitorais aos trabalhadores, para com isso garantir um “emprego de vereador”, “emprego de prefeito”, pelos próximos quatro anos.
Pessoas que deveriam ter grande instrução política alimentam essa fantasia. A de que voto e eleição resolvem.
Esquerda ganhar eleições, somente se a burguesia permitir
Como o PT ganhou eleições no Brasil, o partido vende a ilusão de que, esquerda e direita, disputam de igual para igual a conquista do poder através de eleições.
Pura ilusão.
A burguesia, em situações pré-revolucionárias, permite que a esquerda reformista ou nacionalista conquiste fatias de poder.
O temor de que a mobilização geral da classe trabalhadora evolua para convulsão geral, verdadeira mobilização revolucionária, que coloque em xeque a dominação da classe burguesa, faz com que a classe dominante resolva que chegou a hora de abrir mão de parte de seu poder de dominação do regime político e aceite que a esquerda nacionalista assuma o poder, até que a burguesia se reorganize.
É o que aconteceu na Venezuela, no Equador, Argentina, Bolívia, e também no Brasil no início do presente século.
A classe dominante aceitou que governos reformistas, nacionalistas, de esquerda moderada, assumissem o poder, através da Hugo Chávez, Rafael Correa, Kirchner, Evo Morales, Lula e Dilma.
Se eleições afetarem a dominação da burguesia, ela dá golpe
A crise mundial do capitalismo de 2008 bloqueou a acumulação capitalista.
O imperialismo, que tolerara políticas extremamente moderadas de reformas sociais pela esquerda no poder, decidiu que nem isso mais toleraria.
A política de conciliação de classes acabara.
O imperialismo decidiu que era hora de remover todos os governos reformistas da América Latina.
Golpes de estado abertos, ou através de manipulação de eleições, se sucederam a partir de Honduras em 2009, no Paraguai, no Equador, Argentina, Brasil, Bolívia, Uruguai. Além das tentativas fracassadas na Nicarágua e Venezuela.
O que a esquerda nacional ainda não entendeu é que o imperialismo não tem dado manifestação nenhuma que tolerará a volta das esquerdas ao poder. Se eleições a direita perder, a direita dará golpe.
Aí estão as eleições de Dilma em 2014 no Brasil, e de Evo Morales na Bolívia, para isso provar.