Nesta de segunda-feira (25), o líder quilombola Jozé Izídio Dias, 89 anos, conhecido como “Seu Vermelho”, foi brutalmente assassinado a golpes de machado, no Quilombo de Rio dos Macacos, no município de Simões Filho, região metropolitana de Salvador.
O crime ocorreu em uma área com grande conflito de terra que se estende há mais de 50 anos com a Marinha do Brasil, onde há diversos relatos de violência e arbitrariedade por parte da Marinha para reprimir e intimidar a comunidade quilombola e evitar a demarcação deste território.
O assassinato se deu em meio a esse cenário de enorme conflito e violência, onde o único acesso a comunidade é feito por uma estrada controlada e monitorada pelos soldados da Marinha. Fato que só confirma a motivação do conflito terra do assassinato.
O quilombo Rio dos Macacos possui 301 hectares, mas 105 hectares foram demarcados como território quilombola e os outros 196 estão ocupados pela Marinha.
Comunidade quilombola vive no local há mais de 200 anos
O que hoje o Quilombo de Rio dos Macacos era um antigo latifúndio de produção de cana-de-açúcar chamado Fazenda dos Macacos e pertencia à família Martins, foi a falência no século 18 devido ao declínio da produção da cana de açúcar. Os trabalhadores escravos que fugiram da escravidão tomaram conta do latifúndio e permaneceram no local vivendo até os dias atuais. No início da década de 1960, o governo se apossou de parte das terras quilombolas para instalação de uma barragem e construção da Base Naval de Aratu.
Desde então se início um enorme conflito com os militares e que a comunidade sofre com as constantes violências, e que a comunidade quilombola só foi reconhecida em 2015 em menos da metade original de seu território.
A aplicação da “GLO Rural” da Marinha
Apesar de não haver ainda a aprovação da GLO Rural proposta pelo fascista Bolsonaro, os quilombolas já sentem na pele o que é vivem sob a tutela e os desmandos das Forças Armadas que atuam da maneira que desejam sem nenhum controle ou regra.
Numa clara tentativa de expulsar as famílias e evitar a demarcação da terra quilombola, a Marinha fechou a estrada tradicional de acesso ao quilombo e construiu uma outra que ficou sob o controle dos militares que não deixavam e controlavam o acesso a comunidade.
Os quilombolas foram obrigados a usarem crachá para comprovarem que são moradores do local, numa imposição absurda que inclusive não existe precedente jurídico para tamanho absurdo.
Há inúmeros relatos de agressões. Em janeiro de 2014 oficiais da marinha agrediram Edinei dos Santos e sua irmã Rosemeire dos Santos na presença das filhas em frente a entrada da Vila Naval. Os militares tentaram forjar provas e inventar histórias para justificar a agressão, mas foram flagradas pelas câmeras de segurança do local. Mas mesmo com as imagens, os irmãos quilombolas foram presos e depois de agredidos e torturados foram liberados.
No mesmo ano, cerca de 20 fuzileiros invadiram a comunidade e destruíram residência como maneira de intimidar as famílias quando estava ocorrendo uma reunião entre quilombolas e militares para abrir uma nova estrada para acesso ao quilombo.
E são dezenas de relatos, vídeos, documentos e investigações que indicam os mais diversos tipos de violência. Inúmeras casas foram queimadas e destruídas, moradores são proibidos de entrar pela portaria da vila naval, muitas pessoas já foram vítimas de todo tipo de agressão, incluindo casos de violência sexual.
Marinha impede acesso a água e a pesca
Como uma maneira de deixar os quilombolas na miséria e forçar uma expulsão da região, a Marinha proibiu o acesso a um manancial de extrema importância, ao rio dos Macacos. O rio dos Macacos é o principal manancial da região para abastecimento, onde os quilombolas pescavam, retiravam água para consumo próprio, para irrigar plantações e dar aos animais.
A Marinha chegou a construir um muro em 2016 para evitar o acesso das famílias, com uma política criminosa que está levando a comunidade ao colapso.
Essa situação dos moradores do Quilombo do Rio dos Macacos é um exemplo da GLO Rural que o governo Bolsonaro e a extrema direita quer implantar nas áreas rurais para expulsar as famílias que lutam por seus direitos e pela reforma agrária.
É preciso se levantar contra a essa situação e impedir a ofensiva da extrema direita e derrotar Bolsonaro e sua GLO rural que não passa da implantação da ditadura fascista.