Argentina: burguesia aprofunda a crise depois da derrota

Mauricio Macri e a direita golpista argentina sofreram uma grande derrota nas eleições primárias diante do peronismo, realizadas domingo (11). Alberto Fernández ficou com 47%, contra apenas 32% de Macri, e poderia, com esse resultado, levar a vitória no primeiro turno nas eleições de 27 de outubro. Esse resultado eleitoral levou a Argentina ao caos econômico, em uma situação que já era bastante problemática.

Expressões do caos

Dois dias depois do resultado, varejistas argentinos estimavam que o consumo nos supermercados teria subido entre 40% e 50%, como uma corrida dos argentinos às prateleiras para fazerem um estoque de alimentos não perecíveis em casa. Um dado contundente da incerteza que tomou conta do país. No dia seguinte às eleições, o peso argentino despencou frente ao dólar, chegando a 65 pesos por dólar em uma queda histórica de 30%.

Caos deliberado

A desvalorização instantânea do dólar mostra uma fuga de capitais, indicando uma decisão política da burguesia especuladora de aprofundar a crise econômica de forma deliberada para punir o país pelo resultado eleitoral, usando uma chantagem econômica contra os eleitores. Diante do caos criado pela situação, Macri anunciou medidas emergenciais de valorização do salário mínimo e de congelamento do preço dos combustíveis, mostrando que a direita não está disposta a sair de cena, mas volta com um plano para tentar reverter o resultado eleitoral extremamente desfavorável apresentado pelas eleições primárias.

Pressão dos capitalistas

Além da chantagem econômica, por um lado, a burguesia financeira e os grandes monopólios capitalistas também apresentam suas demandas de forma explícita. Uma reportagem do Clarín, da imprensa golpista argentina, publicada na segunda-feira, alardeava a reação de Wall Street, do mercado financeiro dos EUA, ao resultado das eleições, sob o seguinte título: “Em Wall Street falam de ‘pânico´ e ´pesadelo´ e esperam a palavra de Alberto Fernández”.

A reportagem cita o CEO da Gear Capital Partners, consultora financeira sediada em Nova Iorque, Jorge Piedrahita, que declara que Wall Street está em “pânico”, que dá a receita para que o pânico passe, segundo os especuladores: “o peronismo deveria imediatamente dar sinais de moderação e pró-mercado para acalmar os ânimos”.

Na terça-feira, enquanto o dólar continuava caindo, a UIA (União Industrial Argentina), organização nacional de capitalistas industriais nos moldes de organizações como a Fiesp em São Paulo, realizava sua primeira reunião depois dos resultados de domingo. E saíram com uma exigência parecida para divulgar à imprensa: “consenso e previsibilidade”. Da mesma forma que os especuladores estrangeiros, esperam obrigar Alberto Fernández a anunciar ao mundo sua moderação e seu comprometimento com os mesmos interesses a que responde Macri. Querem que o próprio Alberto Fernández seja outro Macri. Segundo os capitalistas, se Alberto Fernández não anunciar que ele é outro Macri, a situação continuará se deteriorando.

Vitória garantida?

Portanto, a burguesia especuladora aprofunda a crise propositalmente para tentar forçar uma determinada política. Ao mesmo tempo, especuladores estrangeiros e os industriais argentinos fazem um apelo explícito para que Alberto Fernández anuncie políticas “moderadas” e declare seu amor ao mercado. esse quadro de imediata e pesada reação dos capitalistas ao resultado eleitoral, deve-se relativizar o significado dessa votação. Não é um resultado que garanta que as políticas neoliberais rejeitadas pelo povo por meio do voto serão paradas e revertidas. Muito longe disso, é preciso observar como o peronismo reagirá a essa pressão dos capitalistas, com os quais busca a todo momento uma acomodação.

Além disso, o próprio resultado eleitoral de outubro não pode ainda ser dado como certo, por mais que as primárias possam ser apresentadas como um bom indicador. Até o dia 27 de outubro a burguesia pode realizar uma série de manobras para operar mais um de seus milagres para fraudar as eleições, como foi na própria eleição de Macri. As eleições não são um jogo limpo, e do ponto de vista dos donos do regime político consistem em descobrir uma maneira de fraudar a vontade popular de maneira que o processo continue parecendo legítimo.

Deve-se considerar, ainda, o fato de que os kirchneristas têm levado uma política capituladora em diversos momentos da luta contra a direita golpista. O próprio fato de que Cristina Kirchner é candidata a vice de Alberto Fernández, e não ela mesma candidata a presidente, é um exemplo disso. Outra capitulação é a política em curso de conter as mobilizações contra Macri para preservar a vitória eleitoral. E, finalmente, o próprio candidato Alberto Fernández não é uma figura que de fato represente uma esquerda. E nesse sentido uma vitória eleitoral da esquerda nessas circunstâncias podem acabar revelando-se um grande engano, algo próximo, em alguma medida, do que aconteceu com a vitória de Lênin Moreno no Equador.

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