As recentes declarações do ex-Procurador-Geral da República Rodrigo Janot caíram como uma bomba em Brasília. Revelou-se que a tensão entre as instituições dominadas pela direita já era extrema em 2017, pouco depois do golpe que derrubou Dilma Rousseff, com Janot cogitando matar um ministro do STF, Gilmar Mendes, dentro do tribunal. Embora seja aparentemente um sintoma de loucura, a atitude de Janot é uma genuína expressão da crise interna da direita golpista. Desde a gestão de Janot, já passou o mandato inteiro de Raquel Dodge e agora acaba de chegar um novo chefe para a Procuradoria Geral, o bolsonarista Augusto Aras.
Sob Aras, há vários elementos que podem levar a uma crise interna mais intensa e desastrosa para o regime político da direita golpista. A tensão dentro do próprio Ministério Público Federal, apontada por jornais da imprensa capitalista, começa pelo fato de que Aras sequer estava entre os três nomes indicados por votação pelos procuradores. O ilegítimo e golpista Jair Bolsonaro não se importou em indicar alguém da lista tríplice, indicando um subprocurador simpático à sua pauta política, um homem da extrema-direita para ser amigo do governo à frente da PGR.
Engavetador
As circunstâncias da nomeação de Aras levaram a imediatas comparações com Geraldo Brindeiro, Procurador-Geral na época do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Brindeiro exerceu o cargo durante todos os oito anos de mandato do tucano, e ficou conhecido por arquivar todos os processos que pudessem atingir o governo e seus aliados, ganhando o apelido de “Engavetador Geral da República”. Aras tentou se apresentar como “independente” durante a sabatina para ser aceito no cargo realizada no Senado. Sua proximidade com o bolsonarismo, contudo, é amplamente reconhecida.
Tensões
E é justamente essa proximidade que poderá causar atritos dentro do MPF. Aras é de um setor minoritário dentro da instituição, a ponto de sequer ter estado na lista tríplice. Essa pode ser mais uma fonte de desgaste por dentro do regime político. A crise interna da direita, que vinha desde o governo do usurpador Michel Temer, está se aprofundando sob o governo Bolsonaro, que foi uma saída improvisada pela direita, que preferiria ter colocado os tucanos novamente no poder.
Aproveitar a crise interna
Para os trabalhadores, que estão tendo perdas na aposentadoria, nos salários, nos direitos e nos serviços públicos, a questão é aproveitar as divisões internas da burguesia e a crise do governo golpista. Há dois fatores favoráveis para isso neste momento: primeiro, há uma tendência à mobilização; segundo, a direita está em crise e dividida. Esses dois aspectos da conjuntura política podem ser transitórios. É preciso aproveitá-los enquanto é tempo, para evitar que a direita consiga superar sua crise e se consolide de forma duradoura para atacar os trabalhadores. Por isso é hora de ir às ruas contra o governo, exigindo a saída imediata de Bolsonaro.