Por quê estou vendo anúncios no DCO?

A Destruição da Educação

Carlos A. Lungarzo

Professor titular (apos.) UNICAMP

Ex-Professor visitante USP, UNESP, UERJ, UFPb

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo soube que os nazistas haviam exterminado milhões de pessoas em suas câmaras de gás. No entanto, poucos sabiam que esse método foi inventado nos EUA. Já em 1921, duas décadas antes do Holocausto, a Legislatura de Nevada aprovou uma lei autorizando experimentar com cianureto em forma gasosa para aplicar a pena de morte. A primeira cobaia foi um chinês, executado na prisão de Carson City, Nevada, onde teve uma morte demorada e dolorosa em 8 de fevereiro de 1924.

Também os nazistas geraram indignação por queimar livros e perverter a educação, mas, novamente, os verdadeiros inventores do método foram esquecidos. O hábito de queimar livros é bem mais velho, e a primeira fogueira conhecida é mencionada no único livro no qual os Bolsominions alguma vez passaram os olhos (mesmo sem entender). Contudo, este trecho não é daqueles que os pastores mencionam aos brados. Em Jeremias 36, 23, o rei de Judá queima um rolo de pergaminho com um texto que ele não gostava. O extenso verso não deixa dúvidas de que a autoridade religiosa destruirá tudo aquilo que considere nocivo para seu poder.

Mas, o maior caso de queima de livros na história (antiga e moderna) foi o da Biblioteca de Alexandria, no principal centro de cultura da antiguidade tardia, construído pelos chamados pagãos (culturas politeístas), que fugiam da perseguição dos príncipes cristãos. Alexandria foi um modelo de cosmopolitismo e tolerância, e reunia cientistas de todos os lugares do mundo ocidental, mas também do Levante e até da Ìndia. Mas, a comunidade esclarecida da cidade e todos os que não obedeciam ao bispo foram punidos.

A biblioteca foi destruída no século IV por conter livros (de fato, pergaminhos e tábuas gravadas) de ciência. Entre muitos outros, nessa biblioteca havia livros de astrônomos que diziam que a Terra não estava no centro de universo, e que negavam a “teoria” criacionista de humanidade, embora ainda não se conhecesse a teoria da evolução.

A moda viralizou e durante séculos houve milhares de fogueiras onde ardiam os escritos de “hereges”, às vezes com os autores junto. O fundador da ciência moderna, Galileu Galilei salvou-se da fogueira mais foi torturado e deveu servir prisão domiciliar até sua morte. Mas, o filósofo revolucionário Giordano Bruno foi queimado pela inquisição papal. O último grande caso conhecido de queima de livros foi o da ditadura argentina, que fez queimar cerca de 3 milhões de exemplares em 1977, colhidos durante meses anteriores de todas as bibliotecas públicas, das editoras clausuradas e das bibliotecas particulares das vítimas de assassinato político.

Mas, o novo movimento bolsonista no Brasil vai mais longe. Seus seguidores acham que matar em câmara de gás e queimar livros é bom, mas custa dinheiro. Eles querem fazer com que as pessoas se matem as umas às outras, autorizando e, mais ainda, estimulando a venda de armas. Embora as pessoas que formam a cúpula de governo possuam uma inteligência limitadíssima, há certos hábitos que os militares e os místicos aprendem por simples prática ao longo dos anos.

Um deles é que, num confronto qualquer com armas, as pessoas pacíficas são as que mais facilmente morrem. Esta teoria, já conhecida pelo KKK americano (que eles aplicam aos afrodescendentes), garante ao governo de Bolsonaro uma razoável taxa de eliminação de seus desafetos. Outras variáveis, como a destruição da previdência, a precarização de emprego, o desmonte do sistema de saúde e o encarecimento dos produtos básicos, contribuem de maneira significativa a limpar o país de pessoas inúteis.

O seguinte link se refere ao genocídio sistemático praticados pelos americanos na população afrodescendente desde 1863. Observem o paralelo com o equivalente  brasileiro e a influência de mentalidade americana em nossos racistas.

https://www.historyonthenet.com/black-history-united-states-slavery-civil-rights-culture

Desde o final de 2018, os grandes meios de extermínio no Brasil, além dos praticados pela polícia, estão vinculados à liberação de agrotóxicos e a eliminação de controle para as obras de engenharia, uma tradição antiga nos países subdesenvolvidos, onde casos como Brumadinho são frequentes. Assassinar de maneira indireta 200 ou 300 pessoas pode custar uma indenização que, aproveitando a corrupção do MP e do judiciário, será muito mais barata que a manutenção das barragens, além da possibilidade de comprar a terra que fica inabitável e suprimir uma boa parte da população pobres, mesmo se ela tivesse votado no PSL.

Voltando ao caso da luta contra a educação, devemos reconhecer que os bolsominions são ecléticos. Eles conciliam ideias tomadas do Berlin dos anos 30, com as de Washington de todos os tempos e de Tel-Aviv. O grande teorema deles é:

Podemos matar e destruir a educação fazendo negócios.

As universidades serão vendidas (salvo que a reação popular seja muito intensa e incontornável) às rendosas fábricas de diplomas por internet. Para isso terão o apoio de uma das piores combinações conhecidas no mundo atual: legislaturas corruptas, mídia mercenária, persuasão religiosa e violência jurídico/militar.

Mas, fica uma dúvida para nossos sisudos líderes. E os professores e cientistas… como vão ser mortos esses safados? Isso também será grátis. Os mesmos alunos, corretamente treinados, tomarão conta. Veremos dois casos graves na próxima seção.

As Escolas Bolsomínias: Chumbo sem Livros

Entre os muitos paradoxos do Brasil está a contradição entre dois polos: (1) Os intelectuais iluministas mais as vanguardas das classes populares e (2) As elites ignorantes e brutais (semelhantes aos príncipes dos Vândalos, Mongóis e Huns, entre muitos outros), apoiados pelo lumpem linchador, os jagunços de farda e os vendedores de milagres.

No primeiro caso há numerosas pessoas famosas. O mais importante de todos, reconhecido no mundo todo como o 3o. maior educador do último século é Paulo Freire. Aliás, além de todas as honrarias que ele recebeu em vida, o que mais o enaltece é o ódio que ele despertou na pior escória social, moral e intelectual de seu próprio país. Mas, há grandes cientistas cujas descobertas aproveitamos todos os dias: Adolfo Lutz, Anita Panek, Carlos Chagas, Cesar Lattes, Leite Lopes, Dráuzio Varella e outros muitos. Os cientistas brasileiros de primeira linha em todas as áreas somam várias centenas.

Essa contradição entre mentes brilhantes (algumas merecedoras do Nobel, mas injustiçadas, como o físico Cesar Lattes) e fanáticos obscurantistas nunca foi tão forte no Brasil como em seu vizinho, Argentina, e também no Chile. Mesmo a ditadura militar brasileira de 1964-1985, ao agredir as universidades e perseguir seus professores, teve alguma cautela. Dentro do vácuo intelectual das casernas, alguns militares tiveram a ideia de que era melhor não exterminar a “raça científica” porque “poderia servir para algo”.

Assim sendo, esta contradição entre iluminismo e barbárie, nos 519 anos transcorridos, nunca foi tão forte como agora. Antes, uma parte da própria direita era relativamente simpática ao que eles chamavam o “progresso”, nem tanto porque entendessem o que acontecia, mas porque pensavam que isso daria mais prestígio a seus diplomatas. Dessa turma da direita tolerante ficam poucos exemplares dispersos entre enormes legiões de vândalos neoliberais.

Hoje, essa filosofia obscurantista está exacerbada e São Paulo mais o Sul do país são a própria cara dela. São Paulo possui três universidades públicas que estão entre as 400 melhores do mundo. (Darei mais notícias sobre isto na próxima seção). Inversamente, tanto a capital, quanto o interior do Estado, são campeões mundiais de agressão a professores de ensino primário e secundário desde há muito tempo. Para não repetir dados inutilmente, sugiro ao leitor interessado consultar está página do Google, onde estão os links de milhões de páginas.

https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&source=hp&ei=FQPTXOGFO7Sb5OUPzZaguAU&q=agress%C3%A3o+professores+s%C3%A3o+paulo&btnK=Pesquisa+Google&oq=agress%C3%A3o+professores+s%C3%A3o+paulo&gs_l=psy-ab.3..0i22i30.127232.137771..138114…3.0..1.206.4115.11j26j1……0….1..gws-wiz…..0..0j0i131j0i3j0i10j33i160j33i21._lO0NMxITAE

 

  • Refere-se à busca rotulada assim: agressão professores são paulo (sem aspas) feita no 08/05/19 às 13:45, que devolveu 6,45 milhões de páginas, mas está aumentando.

 

O seguinte gráfico mostra como essas agressões de professores de escola pública, realizadas por estudantes e, às vezes, até por seus pais, aumentam na medida em se consolida no poder a administração golpista.

Mas, vejamos com mais detalhes dois casos acontecidos numa única semana em escolas públicas de Goiás e Paraná, fazendo a ressalva que são os dois mais graves entre milhares de casos “leves”; Aqui, “leves” quer dizer que os professores foram insultados, cuspidos, espancados, ameaçados, machucados, mas nem sempre gravemente feridos. O fato de ter um grave caso em Goiás mostra que o bolsonismo não está limitado ao sul-sudeste e há viralizado em todo o país, salvo no Nordeste.  

Em 23/04/19 numa escola de Formosa do Oeste, no Estado de Paraná, o professor de português Sérgio “Pato” Vesco da 8ª série foi esfaqueado por um aluno. Sérgio é uma pessoa esclarecida, um bom professor, foi candidato a vereador pelo PT e é considerado de raça/cor parda. Isto já seria muito mais do que suficiente para ataca-lo. O esfaqueador, do qual conseguiu defender-se (e por isso que saiu vivo), tinha 14 anos, e a lâmina de sua faca passou cerca da artéria femoral. Foi atendido de imediato numa condição que inspirava temores, mas foi dado de alta no dia 26 com sua saúde melhorando.

Um amigo dele, professor de história, disse que vários professores da escola eram continuamente policiados e provocados por alunos, criado um clima de pânico. Um deles fez um grande escândalo quando o professor falou sobre a mitologia grega e romana. O moleque achou que, ao usar a palavra mito, estava ofendendo Bolsonaro.

www.cut.org.br/noticias/professor-do-parana-e-esfaqueado-por-aluno-em-sala-de-aula-d20c?fbclid=IwAR3qcTYdbr-eBhpXZopBfD-rt_wWzjmue9AKKOjJM2BJZbQQTduzbS3d6Js

Apenas sete dias depois (30/04) outro professor foi atacado a tiros e morto no Colégio Estadual Céu Azul, em Valparaíso de Goiás. Era o coordenador de turno Júlio César Barroso, de 41 anos, casado, afrodescendente, pai de dois filhos, e muito prezado na região. Segundo a mídia, ele repreendeu um aluno de 17 anos que estava discutindo com uma professora. O aluno foi embora, voltou depois com uma pistola e o matou com dois tiros.

https://veja.abril.com.br/brasil/coordenador-e-morto-a-tiros-por-aluno-na-sala-dos-professores-em-goias/

Não é nada difícil identificar quem se beneficia da “balbúrdia” nas escolas públicas. Um dos principais beneficiários é o mesmo analfabeto mais-do-que-funcional que usou a palavra nestes dias. Ou, por acaso, será que tem balbúrdia mais perfeita que feridos graves e mortos? Por sinal, quem não conhece bem o curriculum do balburdiólogo pode interessar-se em ler isto.

https://horadopovo.org.br/as-espetaculares-notas-do-ministro-da-educacao-na-usp/

Os maiores beneficiados pela destruição da educação são os mesmos que lucram com a miséria e morte prematura dos aposentados, roubando sua previdência, e com a miséria e desespero dos trabalhadores, que têm perdido todas suas garantias legais. Alguns destes mercadores, como o ministro de “economia” e sua irmã, lucram por ambas as pontas. Numa ponta está o roubo aos futuros não aposentados (o famoso trilhão), e no outro extremo está dinheiro de escolas e universidades que querem privatizar.

http://www.esquerdadiario.com.br/Empresaria-da-educacao-irma-de-Paulo-Guedes-defende-universidades-fora-da-alcada-do-MEC

 

  • Em qualquer sociedade normal, estas propostas seriam consideradas não apenas brutais e absurdas, mas também criminosas, como a proposta de fazer cursos a distância na área da saúde.

 

Quanto ao dinheiro da saúde, que seria a terceira ponta, ele é roubado lentamente, com os primeiros passos assumidos pelo golpista Temer. O primeiro golpe à saúde dado pelo bolsoreich foi anterior à posse, quando as ameaças contra os médicos cubanos os obrigaram a abandonar o país. Aliás, no caso da saúde, nossos SS não precisam de muito esforço, pois boa parte das corporações médicas (embora não seja o 100%, é claro) colabora eficientemente.

(Coloquei aspas na palavra economia, porque os Chicago Boys são mais apostadores de cassino que economistas. É visível para qualquer leigo que as falas de Guedes são incoerentes e amadoras.)

Há benefícios (mas estes são especialmente espirituais) para a ralé informe que os apoia. Esse benefício se chama satisfazer-o-ódio-e-a-inveja.

Fora dos interesses financeiros, o objetivo Magnum dos ataques contra a educação são os de eliminar qualquer resto de inteligência e sensibilidade na população brasileira, um projeto que as elites nazistas querem aprimorar, após de o povo ter acordado durante o governo do PT.

O mais importante é apagar a consciências dos jovens, privá-los de informação, e encher suas cabeças com mantras que os façam funcionar como robôs. A quantidade de teorias absurdas propostas pelo bolsoreich para serem assimiladas pela massa é bem conhecida por todos. A ignorância foi sempre, ao longo de toda a história, o grande aliado da exploração, a tirania e a violência.

Um exemplo típico, junto com o racismo, é o ódio pelas mulheres lançado com inusitada agressividade pelo governo, mesmo antes de ganhar as eleições. Lembremos que várias moças foram estuprados e algumas torturadas com tatuagens feitas a faca durante o intervalo entre os dois turnos das eleições, um período que também inclui o assassinato de Mestre Moa, de um jovem gay em São Paulo e de um aluno da UERJ, além de numerosos espancamentos. A agressão teve aberto apoio da polícia que prendeu e até fez processar as mulheres que apresentaram queixa.

Essa misoginia, embora ninguém saiba isto dentro do grupo de Bolsonaro (salvo o suposto “filósofo” que o assessora), foi criada como consequência direta da negação da ciência e a institucionalização da ignorância. O melhor exemplo que imagino agora é o do teólogo italiano Tomás de Aquino (1225-1274). Em sua obra mais conhecida, a Summa Theologica, Aquino sustenta que a mulher é um ser humano defeituoso (vide Parte 1, assunto 92, artigo 1), que nasce cada vez que o sêmen, em vez de produzir um homem, se “equivoca” e produz uma mulher.

Não é o mesmo que, em sua linguajar chulo e vulgar, Bolsonaro descreve como “fraquejar” quando concebeu sua filha?

Ninguém pode duvidar que um país sem ciência nem ilustração transformará a população numa massa de escravos indefesos, descartáveis e gratuitos. Esta concepção desumana foi denunciada por numerosos ensaios e até por obras ficcionais de grandes escritores como Orwell, Huxley, Wells, Bradbury, Čapek, Assimov e outros. Se Bolsonaro e todos os golpistas não são derrubados, o Brasil será o primeiro país onde estas brutais distopias serão realizadas.

Um passo importante no envilecimento da moral humana, e na transformação de estudantes pouco dotados (porém recuperáveis) em algozes de seus professores, é a oficialização da delação como propõe o ministro, o célebre Masterfake das Notasruins. Ele afirma que o aluno pode filmar seus professores à vontade. Violar a Constituição não é nenhuma novidade nos agentes do Estado (sejam ministros, deputados ou juízes), mas surpreende uma violação tão notória do texto da Constituição Federal, art. 5, inciso X,  que protege a inviolabilidade da imagem da pessoa, apenas para estimular a alcaguetaria.

Em realidade, a caçada de bruxas começou antes da posse do bolsoführer, e até foi oficializada por uma professora de Santa Catarina que criou um “banco de fotos” de professores subversivos, terroristas ou coisa semelhante na gíria fascista. O STF revogou a medida. Essa universidade é a mesma onde o reitor se suicidou ante a impossibilidade de reagir, como teria sido justo, contra a canalhice da Lava-Jato, que o acusou falsamente de crimes. Como podem ver, todos os fios se cruzam!! Este professor deve ser considerado um herói dos direitos humanos no Brasil. Qualquer outra pessoa, ante a expectativa de suicidar-se, teria pensado em levar consigo alguns do algozes. Esta teria sido uma ideia pouco generosa, porém muito compreensível.

www.cartacapital.com.br/educacao/filmar-professores-em-sala-de-aula-e-um-direito-declara-weintraub/

 

A destruição da educação também ajudará na escalada da violência. O 10% remanescente de juízes não truculentos desaparecerá e todos serão Herr Witzel ou Sérgio Moro. Para a enorme maioria que não terá nem um mínimo de educação, nem emprego, nem reconhecimento, ficará como opção ou suicídio ou tornar-se lumpem repressor. Como lumpem fascistas são covardes, escolherão viver para ser milicianos, torturadores e, em especial, as tropas de choque das seitas, como os Gladiadores do Altar, que foram recrutados dessa maneira.

Sobre Gladiadores do Altar veja este extenso artigo que mostra detalhes internacionais do terrorismo religioso, um fenômeno pouco conhecido na América do Sul, mas que já fez numerosas vítimas nos EUA.

www.esquerdadiario.com.br/Os-Gladiadores-do-Altar-Igreja-Universal-soldadinhos-de-chumbo-da-extrema-direita

Nossas Universidades Públicas

As primeiras universidades em Ocidente foram criadas nos séculos XI a XIII, e desde sua criação, em plena noite medieval, o poder feudal e eclesial fez tudo o possível para mantê-las submetidas aos dogmas e à superstição. Esse jugo começou a quebrar-se em muitos países durante o século XVII e seguintes, mas na América Latina continuamos igual até tempos recentes. O primeiro avanço foi no período entre as duas guerras, e só houve uma mudança significativa após 1960.

Mas, hoje, no Brasil e em alguns outros países, recuamos a grande velocidade a épocas desconhecidas. Talvez a gente esteja voltando aos séculos XI, XII e XIII, os mais obscuros da história. É importante entender que tiranos e místicos odeiam as boas universidades porque elas ensinam a pensar. Para serem manipuladas, as pessoas precisam ser 1) ignorantes; 2) ressentidas contra os que não são; 3) violentas. Uma boa educação faz tudo o oposto: gera pessoas esclarecidas e críticas, promove o progresso e não o ressentimento, e é sempre pacifista. Não sei se é preciso dizer que dos cerca de oito milhões de universitários que há no Brasil, apenas um terço, ou menos, tem uma boa educação universitária.

Nossas boas universidades abrangem apenas uma ínfima parte da população, mas mesmo assim seus estudantes representam um número bem maior que antes de 2003. O governo de PT criou em uns poucos anos 19 universidades federais, na esperança de que isso pudesse ser uma semente para as gerações futuras. O planejamento de algumas delas, como a do ABC, foi extremamente cuidadoso, objetivando a construção da rede de conhecimento racional e empírica necessária para o avanço material, mental e cultural do povo, e sua inclusão no sistema internacional.

A tradição de nossas universidades públicas, criadas por lampejos de iluminismo dentro de um fluxo político geralmente contraditório, têm sido, a despeito do subdesenvolvimento e das limitações econômicas, a melhor da América Latina. Vejamos, primeiro, como estão escaladas essas universidades nas avaliações feitas por agências internacionais, com base na qualificação do ensino, da produção intelectual de diversos tipos, e do prestígio que nossas universidade têm no ambiente dos intelectuais internacionais.

Universidades Brasileiras

As avaliações incluídas neste seção se referem a diversos veículos como artigos, relatórios publicados, trabalhos apresentados a congressos, e também experimentos de diversa espécie. Incluem todos os campos do conhecimento científico e tecnológico, entre eles: ciências extas, ciências da terra, ciências sociais e humanas, engenharias, ciências da saúde e todos os campos reconhecidos pela comunidade internacional. Nos institutos que consultei para escrever esta seção, nem sempre se avalia a produção artística e literária, que também é importante. Às vezes, alguns comunicadores acusam a estes institutos de mostrar parcialidade em favor das ciências (sejam naturais ou humanas), negligenciando outros temas. O que acontece é que é difícil encontrar uma equipe que possa avaliar todas as variáveis.

A ordenação por qualidade das universidades em diversas regiões do mundo são realizadas por institutos de avaliação especializados em estimar o valor de fatores como ensino, pesquisa, publicações, descobertas, impacto social, resultados, aplicabilidade, etc. Algumas vezes se analisam também variáveis subjetivas como prestígio, opinião de mídia, etc. Pessoalmente, acredito que o prestígio e a opinião favorável da mídia se consegue como efeito da qualidade, e não inversamente. Resultados científicos bons, bem avaliados por uma mídia inteligente e honesta (que no Brasil representa menos de 1%) são os que criam o prestígio.

Tenho empenhado o máximo cuidado para não usar fontes com informação deturpada. É preciso que o/a leitor/a tenha consciência que, no Brasil, onde as universidades particulares são simples traficantes de diplomas (salvo as PUCS e algumas outras, que no total são menos de 1% de todas as universidades), os donos compram os serviços de instituto de avaliação mercenários dos EUA. A classe média ignorante acha que tudo o que vem dos EUA e bom e engole a propaganda. Por exemplo, uma agência desconhecida dos EUA avalia como muito boa uma rede de “universidades” de Rio de Janeiro, cujo ensino é de ruim a péssimo, e carece totalmente de pesquisa. Uma enquete feita sobre seus graduados de diversas áreas comprovou que a média de livros lidos por eles num ano era 1,5.

Doravante, ao dizer institutos, refiro-me a aqueles que são honestos e eficientes. Não tenho usado informações de nenhum instituto cujo prestígio internacional seja duvidoso. Consultei os seguintes: ShanghaiRanking Consultancy (the Academic Ranking of World Universities; ARWU), Times Higher Education (THE), and Quacquarelli Symonds (QS), e CWRU.

De fato, salvo em casos de extremo consenso, as classificações feitas por um ou outro instituto de avaliação diferem em algumas posições. Respeito do Brasil, o único consenso para todas as agências é a Universidade de São Paulo, que aparece sempre no primeiro lugar. Já a UNICAMP, a UNESP e a Federal do Rio de Janeiro aparecem entre os lugares 2º e 4º, mas nem sempre na mesma ordem.

Para evitar polêmica, vou escolher o instituto CWUR, em cujo link (tanto para o Brasil em particular, quanto para as 1000 universidades mundiais) pode conferir-se a metodologia da pesquisa, que considero a mais rigorosa e a menos subjetiva desses quatro institutos. O link da CWUR é este; nele podem encontrar os principais detalhes para apreciar o grau de seriedade do instituto.

https://cwur.org/

O caso de Brazil se encontra neste link:

https://cwur.org/2018-19/brazil.php

Estes são os dados do ranking nacional. Na próxima seção apresentarei o ranking dessas universidades em relação com as 1000 melhores do mundo.

 

  • Universidade de São Paulo (USP)
  • Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
  • Universidade de Campinas (UNICAMP)
  • Universidade Estadual de São Paulo (UNESP)
  • Universidade Federal de Rio Grande do Sul
  • Universidade Federal de Minas Gerais
  • Universidade Federal de São Paulo
  • Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
  • Universidade Federal de Santa Catarina
  • Universidade Federal do Paraná
  • Universidade de Brasília
  • Universidade Federal de Viçosa
  • Universidade Federal de Ceará
  • Universidade Federal de Pernambuco
  • Universidade Federal de São Carlos
  • Universidade Federal de Pelotas
  • Universidade Federal Fluminense
  • Universidade Federal de Goiás
  • Universidade Federal de Santa Maria
  • Universidade Federal da Bahia

 

As universidades cujos nomes estão escritos em vermelho são, como vocês lembrarão, as que, segundo o FakeMinistro da Deseducação, faziam balbúrdia. Como vem, estão colocados entre as 20 primeiras. Além disso, são as três que possuem alunos mais progressistas e destemidos.

Vocês podem achar esquisito que, no local , esteja a universidade na qual nosso caro ministro é professor. Por que tipo de milagre chegou lá? Sugiro que vejam um artigo específico sobre o ministro que publiquei no Jornal do PCO e também em Vi o Mundo.

https://www.viomundo.com.br/voce-escreve/carlos-lungarzo-o-novo-ministro-da-educacao-um-academico-mediocre-e-obscurantista.html

Pessoas de minha máxima confiança me disseram que havia uma sindicância contra ele por fraude em concurso público; porém, não quero deter-me neste assunto porque não possuo a documentação e não quero fazer acusações sem provas. Já temos o judiciário brasileiro para fazer isso!

Observem, finalmente, que não há nenhuma universidade particular neste ranking. Dados fiáveis dizem que há 2111 universidades privadas no Brasil. Será um acaso que nenhuma delas aparece entre as 20 primeiras. De fato, pelo que eu pude ver em algumas outras estatísticas, apenas algumas PUCs (as quatro melhores) aparecem no ranking que inclui 50 universidades.

Universidades do Brasil no Mundo

Vejamos agora a lista mundial da CWUR. É uma lista de 1000 universidades construída com os mesmos critérios. Nosso objetivo é encontrar em que lugares se encontram nossas melhores vinte universidades dentro dessa lista. O número que aparece agora no lado esquerdo, antes do nome, mostra a localização dessas universidades no ranking mundial.

  • Por exemplo, o número 77) significa que a USP está no lugar 77º na escala mundial. O número 737) significa que a Universidade de Brasília está no local 737º na escala mundial. Se vocês acham que não estamos bem posicionados, pensei nisto: No mundo há cerca de 23.000 universidades, e as universidades que serão construídas no Brasil, sobre as ruinas das nossas nem mesmo serão consideradas universidades em outros países.

77) Universidade de São Paulo (USP)

298) Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

360) Universidade de Campinas (UNICAMP)

372) Universidade Estadual de São Paulo (UNESP)

398) Universidade Federal de Rio Grande do Sul

406) Universidade Federal de Minas Gerais

442) Universidade Federal de São Paulo

659) Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

694) Universidade Federal de Santa Catarina

709) Universidade Federal do Paraná

737) Universidade de Brasília

739) Universidade Federal de Viçosa

814) Universidade Federal de Ceará

840) Universidade Federal de Pernambuco

847) Universidade Federal de São Carlos

886) Universidade Federal de Pelotas

889) Universidade Federal Fluminense

903) Universidade Federal de Goiás

927) Universidade Federal de Santa Maria

985) Universidade Federal da Bahia

Como se vê, as universidades públicas brasileiras têm uma boa colocação no ranking internacional. Por exemplo, a USP está no lugar 77, ou seja, 4 posições acima da célebre Universidade Livre de Berlin, 5 acima da Universidade Nacional da Austrália, 8 acima da Universidade de Tel-Aviv. Supõe-se que há cerca de 23.000 universidades no mundo, entre públicas e privadas. Temos 20 universidades públicas entre as mil melhores.

Produção Intelectual e Pesquisa

A classificação das universidades brasileiras que apresentei nas seções anterior incluem docência, pesquisa, qualidade do ensino, nível de seus recursos técnicos, e outros fatores relevantes.

Mas, a parte relativa a pesquisa e, mais geralmente, a produção intelectual das universidades brasileiras (incluindo as áreas científicas, humanísticas, literárias, artísticas e tecnológicas) merece especial cuidado. Que enfatizar que, apesar de ser muito importante a produção acadêmica brasileira no campo das artes e dos esportes, nem sempre estão representadas nas avaliações de pesquisa. Portanto, no texto seguinte, estou me limitando a: ciências naturais e exatas em geral; ciências sociais; literatura; ciências da saúde; tecnologias, etc., seguindo a própria divisão das agências brasileiras de fomento á pesquisa.

O SIBi é o sistema integrado das bibliotecas da USP. O SIBi publicou, num boletim de 2018, na seção Notícias/Acontece, um resumo do relatório Pesquisa no Brasil (Research in Brazil), que é um estudo sobre a pesquisa produzida no Brasil entre os anos 2011 e 2016, realizado pela organização Clarivate Analytics, por encomenda da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A base de dados é a Web of Science. Este é o artigo do SIBi onde descreve o conteúdo do relatório. É de fácil leitura e está adequadamente ilustrado.

www.sibi.usp.br/noticias/relatorio-da-clarivate-para-capes-revela-panorama-da-producao-cientifica-do-brasil-2011-2016/

A íntegra do relatório apresentado pela Clarivate Analytics à CAPES, apesar de exigir bastante atenção do leitor, pode fornecer detalhes originais aos mais interessados. O texto está no formato pdf neste link:

www.capes.gov.br/images/stories/download/diversos/17012018-CAPES-InCitesReport-Final.pdf

A meta-pesquisa (pesquisa para a avaliação da pesquisa científica feita no Brasil) encontrou algumas novidades que estão sintetizadas no Relatório Executivo desse documento. O leitor que deseje mais detalhes pode clicar no link acima.

    • No lapso da pesquisa, o Brasil estava na posição número 13 da quantidade de publicações de pesquisa (artigos, comunicações, memórias, etc.) em relação com a totalidade do mundo.
    • Nesse período, a pesquisa científica continuava com ritmo crescente.
    • Brasil há incrementado sua colaboração acadêmica e científica com outros países, e essa colaboração aumentou o impacto dos resultados. (“impacto” é uma variável que mede a penetração no público relevante de uma informação científica, com base em dados normalizados).
    • A colaboração de indústria na pesquisa científica é de 1%.
    • A única empresa que colabora de maneira expressiva na pesquisa é PETROBRÁS
    • O impacto e a colaboração internacional da pesquisa brasileira está algo acima da média dos países vizinhos e de países com perfil econômico similar.
    • Países similares ou vizinhos, como Índia e Argentina, fornecem pontos de vista que podem sugerir futuras pesquisas.

 

  • Os campos de ambientalismo/ecologia, psiquiatria/psicologia e matemáticas têm um impacto de citação muito próximos da média mundial. Nessa áreas Brasil pode emergir como líder.

 

  • O aumento da colaboração intersectorial entre indústria local e centros acadêmicos pode beneficiar a alta tecnologia. (Isto foi medido até um semestre antes do golpe de Estado. Não há dados sobre a situação posterior).
  • A USP é a principal produtora de artigos originais, relatórios de resultados e registros de descobertas, fornecendo mais de 20% da produção nacional. A UFRJ e UNICAMP está muito acima da média (média aritmética) de citações dentro do universo do 1% de artigos científicos citados em todo o mundo.

NÃO CONFUNDIR: o 20% da USP é a proporção total de produção científica dentro do Brasil. O 1% se refere a citações de trabalhos publicados em todo o mundo. Nesse espaço, UFRJ e UNICAMP estão a cima da média. Os detalhes numéricos podem ver-se no relatório cujo link indiquei acima. Aí também estão todos os gráficos. No Apêndice 1 está o detalhe da metodologia usada pela instituição, e no Apêndice 2 há uma avaliação tomando em conta a produção dos diversos estados da União.

 

O “Castigo” para as Universidades Públicas

O plano de destruição das universidades brasileiras está baseado em princípios semelhantes àqueles que norteiam a destruição da educação básica. Por um lado, está o lucro múltiplo que se obterá pela venda das mesmas:

Um tipo de lucro é obtido pelos preços que paguem os compradores. Sem dúvida, será baixo para facilitar a venda, mas o suficiente para encher com vários bilhões as contas bancárias dos vendedores.

Outro tipo de lucro está no aumento de patrimônio de alguns vendedores, que também serão compradores, usando seus parentes como laranjas. Não esqueçamos que este governo preza a família, como disse o Bolsofühurer ao vetar o turismo gay. Finalmente, está o benefício de poupar dinheiro do “Estado”, que não precisará sustentar as universidades. Isso significa, mais grana no bolso da máfia bolsiforme.

Mas, também está o enorme benefício de que a ultradireita brasileira garanta o futuro de sua linhagem. Com um monte de falsas universidades vendedoras de diplomas para trabalhar nos poucos empregos que sobrevivam afastarão para sempre a possibilidade de uma oposição consciente, de pessoas críticas, de questionadores, de mentes capazes de demonstrar que a previdência não tem déficit, que as goiabeiras não falam, e que a filosofia do homem forte do governo é pura balela. Vejamos esta política de barbárie.

 

Brutalizar com Racismo e Discriminação

Nas universidades que se querem construir sob as ruinas das nossas, os psicopatas e charlatães, que hoje são figuras ilustres e isoladas, serão produzidos em grande escala. É claro que os charlatães mais famosos não se aposentarão, pois gostarão de serem bajulados pelas gerações mais jovens. Afinal, é a eles que os outros deverão a nova distopia.

As pós-graduações irão esmorecendo, sendo substituídas por especializações rápidas. Além dos cursos banais de fofocas burocráticas para executivos e gerentes, e dicas para marketeiros, os cursos do que antes foi ciência, arte, literatura, humanidades ou tecnologia de qualidade, poderão serem adaptados às necessidade de uma nova sociedade governada apenas pelo terrorismo policial, militar e eclesial.

A desaparição da ciência poderá ser remediada pelo estudo de técnicas policiais, experimentos em crianças, fabricação de armas autoguiadas, guerra química, difusão de bactérias, genocídio por contágio, e outras atrocidades. Das humanidades, só ficará a história, que contará a saga dos militares e monarquistas desde 1500 até os dias atuais.

Quem ache que tudo isto é apenas distopia, deveria informar-se melhor e analisar os planos de pesquisa das universidades e laboratórios durante o Terceiro Reich. Mas, não esqueça que, apesar do ódio que os nazistas promoveram no planeta, eles também tinham alguns dirigentes com certa inteligência e qualidade científica.

Imaginem, inversamente, o que poderiam planejar na área educativa a família do presidente, o filósofo da família, o ministro da economia, o ministro de “educação” e os líderes militares e evangélicos que os apoiam, cujo QI deve ser o 0,7% daquele dos nazistas, que já não era muito grande.

Então, se você acha bizarras e repugnantes as propostas científicas nazistas alemães, pense que, no atual contexto brasileiro, tudo será várias vezes pior. (A tradução feita com o Google ou Word deixará os textos bastante compreensíveis, pois a sintaxe dos textos é bastante simples).

https://encyclopedia.ushmm.org/content/en/article/nazi-medical-experiments

www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1084095/

www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJM199005173222006

 

Transformar as universidades em fábricas de pessoas mental e moralmente escravas deste projeto neonazista pode tomar algum tempo, porém não muito. Todos podem ver a velocidade incrível com que a máquina destrutiva do Bolsohell tem podido movimentar-se em poucos meses.

Mas, há uma parte do projeto que pode ser ainda mais rápido: A DESTRUIÇÃO DAS POLÍTICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA.  

O governo do PT não apenas criou novas universidades, mas estimulou novas estratégias e abriu as portas da educação superior a milhões de pessoas, graças a métodos de ação afirmativa (como, por exemplo, as cotas) que favorecem as pessoas que foram sempre discriminadas, como negros, indígenas, pobres, mulheres, pessoas com dificuldades, etc. Por sinal, o que fez o governo do PT foi trazer ao nosso fim do mundo latinoamericano o que já se praticava na Europa, nos EUA e até em países como a Índia.

Ou seja, foi uma aproximação à igualdade de oportunidades, porque, mesmo nos países mais capitalistas, há uma maioria que sabe que ninguém consegue sobreviver e progredir se tiver em contra as condições sociais. Este não é lugar para discutir economia, mas acredito que todos vocês, que estão saindo à rua e assinando os manifestos, têm muito claro que o neoliberalismo é apenas um nazismo fantasiado de democracia, que seus dirigentes são tão ruins quanto Hitler, porém, menos inteligentes, e que alguns economistas que receberam o Nobel apenas por razões políticas são hoje considerados fracassados pela economia científica. Aliás, a economia científica existe, sem dúvida, mas têm poucos representantes entre nós. (Um dele foi o saudoso Paul Singer.)

Mensalidades e Privatizações

A política para as universidades federais é de terra arrasada, mas o Bolsoreich preparou punições mais sutis, mascaradas por certos disfarces legais, para as universidades paulistas. Todos os governadores do Estado de São Paulo ao longo da história da cidade, sempre perceberam suas universidades como inutilidade, e como um perigo para as elites tacanhas que representavam, porque… quem sabe… um dia os pobres poderiam querer entrar na Universidade.

Mas, até 2002, eles nunca pensaram em fechá-las, e se limitaram a criar dificuldades de acesso aos setores populares. As coisas mudaram em todo Brasil desde 2003, e, embora o governo de SP não pudesse ser obrigado a seguir a política de cotas, sentiu-se a necessidade de “fazer” algo para tornar suas excelentes universidades algo mais democráticas.

Quando eu fui contratado pela UNICAMP, há mais de trinta anos, o único aluno afrodescendente que havia em todo o campus era um bolsista angolano, financiado por seu próprio país. Embora a universidade demorasse em aplicar uma ação afirmativa consistente, já em 2004 propôs o projeto PAAIS, que outorgava um bônus nas notas aos grupos antes discriminados. O panorama atual é claramente diferente.

https://blogs.oglobo.globo.com/ciencia-matematica/post/politica-de-cotas-e-os-sistemas-de-ingresso-da-unicamp.html

O desprezo e o medo dos governos de SP em relação com a possível mudança de estrutura feudal nas universidades, determinou que o Estado de SP acabasse favorecendo a  autonomia após uma greve de alunos, funcionários e professores nos anos 80. Na época, a autonomia ficou solidamente estabelecida na Constituição Federal, artigo 207. Esta autonomia protege todas as universidades públicas, tanto federais, fundações públicas, como estaduais em geral.

  • Nem precisamos comentar, então, que o atual ataque às universidades, “contingenciando” seu orçamento em 30% é notoriamente anti-constituicional, embora o alto judiciário fique calado, porque tem medo que o Mestre Fake Notasruins os coloque de castigo.

https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=AUTONOMIA+UNIVERSIT%C3%81RIA+-+ART.+207+,+DA+CONSTITUI%C3%87%C3%83O+FEDERAL

No Estado de São Paulo, os anteriores governadores pertenciam à direita tradicional. Apesar de suas filiações cripto-fascistas, opus-deistas e defensoras do terrorismo policial (um fato que foi a marca de SP nos ambiente de direitos humanos de todo o mundo), tinham alguns limites, e até temiam a cobrança das elites que estudavam em seus claustros. Atualmente, o governador, um representante extremo da truculência bolsiforme, sabe que não tem tanto poder como seu grande ídolo, o Bolsoführer. Deve ficar claro: não é diferença moral nem ideológica. É diferença na base de apoio. Por isso, as universidades foram colocadas contra o paredão usando um truque elegante.

Esse truque, cuja ilegalidade é evidente, é a instalação de uma CPI na assembleia do Estado de SP (ALESP), aproveitando a corrupção e o cinismo imperantes na enorme maioria dos legisladores, e também a cumplicidade dos juízes que se recusam a proibi-la.

Já na inauguração da CPI das universidades estaduais, os serviçais do governo do Estado e, portanto, do Bolsoreich, justificaram a abertura da Comissão com o argumento de que existiriam irregularidades no uso do orçamento por parte das universidades.

Como estes fascistas são apenas uma versão subdesenvolvida dos fascistas italianos (nem falar, então, dos alemães), sequer são capazes de manter a omertà (sigilo), tão cara à máfia siciliana. Vários disseram que queriam “limpar” as universidades de esquerdistas, terroristas, subversivos, e outros termos que povoam ricamente o parnasiano acervo lingüístico destes parlamentares microcefálicos. Mas, eles não precisavam dizer. Isso é conhecido desde o começo do golpe, e ainda desde antes.

 

  • O artigo 13, § 2º da Constituição do Estado de SP estabelece que as CPI’s devem apurar um fato determinado. O que a ALESP propôs (e assim apareceu no Diário Oficial) é uma apuração genérica, de fatos absolutamente indeterminados. O objetivo indicado pelo DO é

 

investigar irregularidades na gestão das universidades públicas no Estado, em especial quanto à utilização do repasse de verbas públicas”.

Parece que a escola sem partido que querem criar os parlamentares não vai ser lá essas coisas. Eles não sabem diferenciar entre o determinado e o genérico. Por que não perguntam a Olavo que diz conhecer lógica?

https://www.al.sp.gov.br/alesp/cpi/?idComissao=1000000431

O objetivo desta CPI está muito claro, porém ficou ainda mais patético, quando um dos parlamentares avançou sobre um tema fundamental para o Bolsoreich: a cobrança de mensalidades aos alunos. O fato produziu indignação no público e nos poucos parlamentares democráticos presentes (creio que eram três), porque o proponente esqueceu uma máxima fundamental do nazismo: uma mentira pode ser cínica, mas deve ser inteligente. Se bem lembro, esse é um dos muitos chavões de Goebbels.

O deputado disse algo que tinha este aspecto:  a universidade gratuita fomentava a desigualdade entre pobres e ricos. Colocando mensalidades se beneficiaria os mais pobres. Além disso, isso fez um sarcasmo contra os membros da esquerda, dizendo que eles deviam aceitar isso, porque isso é o que eles “sempre falam”. A indignação foi muito moderada para a ofensa à inteligência que significava o disparate daquele cafajeste. Um pobre que não poderia pagar o ônibus para ir à faculdade o comprar uma marmita, veria seu futuro luminoso se tiver de pagar um mensalidade modesta, digamos 500 reais.

Mas, é muito claro que ninguém diria uma afirmação tão descabida se tiver possibilidade de dizer algo mais sensato, uma mentira mais facilmente crível. Mas, por que não falar a verdade, num país onde os chefes da gangue governante mandam matar favelados desde helicópteros sem que o judiciário ache “errado” ???

O que acontece é que a verdade, neste caso, enfureceria as massas progressistas às quais os fascista têm medo. A verdade é que a CPI tem como objetivo criar um fato fake para justificar a privatização das universidades paulistas.

Brevemente: a estratégia de fundo para as universidades paulistas é a mesma que para as universidades federais, mas os neofascistas têm medo de desagradar a alguns de seus próprios aliados. A destruição da educação de qualidade é algo tão brutal, que muitos professores e pesquisadores da direita paulista, que cultuam uma enorme autoestima (como o célebre sociólogo FHC) poderiam revoltar-se também, mesmo que fosse por nostalgia.

RESISTÊNCIA E SOLIDARIEDADE

A mobilização em defesa das universidades, que ainda não atingiu seu máximo, é muito promissora e está virando o primeiro protesto de grande alcance, ultrapassando o da própria manifestação geral contra a reforma da previdência.

Os protestos escritos, registrados nos abaixo assinados, tem atingido um número de assinaturas absolutamente insólito no Brasil. O maior dele, criado por Daniel Peres, da Universidade da Bahia, já está próximo de um milhão e meio de assinaturas, o que é absolutamente inédito na história do Brasil e algo incomum até em países com população mais militante.

www.change.org/p/congresso-nacional-em-defesa-das-universidades-p%C3%BAblicas-brasileiras

No dia 15 de maio, quando se entreguem ao “ministro” da educação a lista com as assinaturas, será necessário que a resistência mostre sua presença nas ruas, como está fazendo atualmente, mas com nosso máximo de intensidade, dentro de um marco pacífico e ordenado. É necessário proteger nossos militantes e evitar os riscos excessivos. Porém, também é verdade que, quanto maior é a resistência, mas difícil é a repressão.

É importante que os organizadores dos atos do dia 15 convidem jornalistas estrangeiros e façam conhecer no mundo todo o que acontece no Brasil. De maneira inesperada, tivemos o apoio do prefeito da cidade mais poderosa do mundo, Bill de Blasio. E o pronunciamento dele não teve apenas o intuito de evitar o vexame da repulsiva presença do carniceiro do Planalto. O prefeito foi muito explícito ao acusa-lo de pregador o ódio, de bully, e de ser sujeito nocivo ao planeta. Uma sinceridade absolutamente incomum num alto dignitário, especialmente nos EUA. É fundamental manter contato com as comunidades brasileiras progressistas (que não são maioria, mas são muito ativas) nos diversos países. Há vários comitês de Brasileiros no exterior com representação no Facebook, entre eles:

Brasileiros no exterior “Comitê Internacional de Resistência”

https://www.facebook.com/groups/226989704446287/

FIBRA-Frente Internacional de Brasileiros contra o Golpe

https://www.facebook.com/brasileirosnomundocontraogolpe/

Scholars for Academic Freedom in Brazil (inglês & português)

https://www.facebook.com/groups/540115709748101/

Mulheres da Resistência no Exterior

https://www.facebook.com/mulheresdaresistencia/

Lembremos algumas manifestações escritas de solidariedade com a educação brasileira publicadas no exterior.

 

  • Carta aberta de 17.000 sociólogos americanos e globais, em apoio dos departamentos de sociologia do Brasil. (INGLÊS)

 

https://sites.google.com/g.harvard.edu/brazil-solidarity

 

  • Lista de assinantes contra la decisão de Jair Bolsonaro de suprimir as verbas públicas destinadas aos estudos de sociologia e filosofia. (FRANCÊS)

 

https://internationaledugenre.net/liste-des-signataires-contre-le-projet-de-jair-bolsonaro-de-supprimer-les-subventions-publiques-destinees-aux-etudes-de-sociologie-et-de-philosophie/

É importante realçar o peso que teve, na história recente do mundo, a aliança entre trabalhadores e estudantes. Os estudantes foram a faísca que detonou a explosão popular maior na história de França no famoso maio de Paris. Essa aliança produziu, e ainda produz, grandes estremecimentos na direita chilena, e já foi fundamental no enfraquecimento das ditaduras argentinas nos últimos quarenta anos. Foi essa união que conseguiu abolir a servidão militar em países tão tradicionalmente violento como os EUA. Os estudantes e intelectuais foram os únicos que confrontaram a ditadura chinesa na Praza da Paz Celestial. Eles foram desde há quase um século, a principal força contra o fascismo italiano e, após 1960, contra o neofascismo, a máfia e o stalinismo unidos.

Apesar do enorme esforço feito pela comunidade de professores em geral, de estudantes de todos os tipos, e de intelectuais e pesquisadores, não deve esquecer-se em nenhum momento que o futuro da educação vai unido, de maneira indissolúvel, às lutas de classe trabalhadora, dos movimentos antirracistas, antihomofóbicos, de gênero, de proteção às crianças, de desarmamento, de pacifistas, em prol da saúde e de  tudo o que seja oposto à violência e destruição.

Também deve lembrar-se que o lado da sociedade esclarecida é o lado dos trabalhadores e os excluídos. Não devemos nos comprometer numa luta entre os fascistas. A luta que hoje mantém a gangue Bolsomínica (família, ministros, “filósofo”, etc.) com as corporações militares e judiciais é uma luta interna deles, que não nos diz respeito. Eles podem quebrar suas vazias cabeças à vontade.

Pensem nos filmes de Francis Coppola. Se vocês tivessem estado na Nova Iorque de 1950 teriam defendido a família Corleone ou a família Tataglia?  Nós não estamos com nenhuma máfia, e os que tomam lado na guerra interna das SS contra as SA brasileiras (como aconteceu em 1934 na Alemanha) são sempre da direita, ou então falsos esquerdistas.

O objetivo dos estudantes e professores foi sempre a democracia, a liberdade, a igualdade social e o progresso material e cultural. Se algum dia for feita uma revolução, será benvinda, mas isso não está a vista. Nosso objetivo deve ser uma sociedade democrática, algo parecido ao que hoje é o Uruguai, por exemplo.

 

Nesta manifestação contra o assassinato da cultura e da educação, também devemos nos manifestar contra a barbárie contra a previdência, contra as evicções de moradores, contra o abandono da saúde, e contra as numerosas barbáries jurídicas e contra os genocídios nos morros.

Todos nós estamos contra a destruição da educação, mas, além disso, contra a destruição completa do povo, como estão fazendo os vândalos que governam e os que os legitimam. Deve ser um luta pelos direitos trabalhistas, contra a discriminação, pela ecologia, e pela derrota deste governo fraudado, que se impôs por meio da cumplicidade judicial.

Este governo é algo NOVO (realmente novo, como Bolsonaro próprio dizia) no Brasil e em quase todo o mundo. Sua novidade é que não tem nada de bom. Não há qualquer coisa, por pequena que seja, que possa salvar-se. Até os pequenos detalhes são morbosos: por exemplo diminuir o imposto sobre o cigarro para que mais pessoas se intoxiquem. Assim, sendo, devemos combate-lo até o limite de nossas forças. Como intelectuais, temos os mesmos direitos que todos os outros, mas devemos assumir maiores responsabilidades.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.