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O canto da sereia eleitoral

2019: o fracasso da política de conciliação com a direita

Quanto mais a esquerda concilia com a direita, mais profunda é a cova que cava para si mesma

A crise capitalista força a queda das máscaras “democráticas” engendradas pelo regime político burguês. Se por um lado, a direita se torna cada vez mais descaradamente autoritária e violenta, para continuar servindo à burguesia, por outro, a esquerda passa a revelar seus elementos mais oportunistas, que não são verdadeiros defensores das lutas populares, mas aproveitadores que o sistema admite para produzir uma impressão de alternância de poder, e conduzir a luta dos trabalhadores por caminhos confusos, quando necessário.

O ano de 2019 estabeleceu o comando do aparato Estatal pela extrema-direita, dando início a um festival de horrores contra a população mais pobre. É um momento decisivo para os trabalhadores, que precisam se organizar da maneira mais combativa possível. Mas foi justamente então, que políticos da esquerda se mostraram mais bem-comportados, mais moderados, mais dispostos a alianças com golpistas.

O ano começou com Haddad (PT) desejando sucesso e boa sorte a Bolsonaro, e Boulos (PSOL) dizendo que não se deveria contestar o resultado eleitoral para “não ser igual a Aecio Neves.” Os dois principais candidatos da esquerda, prejudicados pelas eleições mais fraudulentas das últimas décadas, aceitaram se enquadrar no jogo sujo da burguesia. Muito embora discursassem nas manifestações do “Ele Não” como se estivessem se preparando para uma guerra civil, se tratava apenas de oportunismo eleitoral; depois da posse, passaram a ser contra o “Fora Bolsonaro”.

E nada foi por acaso: meses depois, Haddad seria um dos expoentes de uma “Frente Ampla”, lançando um manifesto por “Direitos Já” (uma clara contraposição aos que pediam “fora Bolsonaro e eleições diretas com Lula candidato.” Tratava-se de uma rede que incluía desde diretorias sindicais da CSB, CTB, CGTB, Força Sindical, estudantis da Ubes e UNE, a políticos de partidos da esquerda como Flávio Dino e Luciana Santos (PCdoB), o abutre Ciro Gomes (PDT), o golpista Aldo Rebelo (Ex-PCdoB, Ex-PSB, agora Solidariedade), até o “príncipe” FHC. Ou seja, os mesmos que ajudaram a derrubar Dilma e alavancar a extrema-direita.

A frente fazia parte da “genial” conclusão de que a luta não é mais entre direita e esquerda, muito menos entre burguesia e classe operária, mas sim entre “civilização e barbárie”. Bárbaros seriam os bolsonaristas; civilizados seriam todo o resto, inclusive os golpistas da direita tucana, os juízes do STF, os congressistas do “centrão” fisiológico etc.

Já o PSOL enveredou-se por uma estratégia moderninha. Resolveu “furar a bolha” e “quebrar tabus”, fazendo programas descolados com elementos da estirpe de Janaína Paschoal e Kim Kataguri. A estratégia deriva de outra conclusão genial da esquerda pequeno-burguesa. A de que o povo foi para a direita. As surpresas eleitorais como Kim, Janaína, Witzel, Joice Hasselman, Alexandre Frota, não são frutos de uma intensa manipulação eleitoral, mas sim de uma real preferência eleitoral. Então os gênios psolistas tentam agradar e aprender com os direitistas, na esperança de que conseguirão os mesmos resultados nas eleições do ano que vem.

Por falar em Witzel, a esquerda também se inspirou neste “fenômeno eleitoral” para mergulhar de cabeça no “debate da segurança pública”. Foi assim que todos os partidos da esquerda no Congresso contribuíram para a aprovação do pacote “anti-crime” (PL 882), que é um conjunto de leis que aumentam a capacidade punitiva do Estado. Ou seja, estes parlamentares optaram por presentear o regime fascista de Bolsonaro com mais possibilidades repressivas, em nome de agradar a burguesia e conseguirem alguma migalha – uma emenda aqui ou ali, uma coligação que lhes dê mais segundos de audiência na campanha eleitoral, uma entrevista na grande imprensa.

Para fechar o ano, o PCdoB resolveu criar um novo movimento. Seguindo a mesma trilha da direita – mudar de nome e ocultar origens e programa – o PCdoB inventa o “Movimento 65”. Trocaram a cor vermelha pelo verde-amarelo, e retiraram o símbolo comunista, para se travestir de um movimento espontâneo organizado por “pessoas comuns”. A motivação oculta mas óbvia é que já procuram costurar alianças para as eleições municipais de 2020. E ao que tudo indica, a direita não está disposta a fazer coligações com “comunistas”. Abandonar a identidade, a simbologia, as cores comunistas, é a única maneira que encontram para serem aceitos no seleto clube.

Quanto mais o regime fecha, mais a esquerda parlamentar e oportunista faz malabarismos para passar no estreito funil colocado pela burguesia. Competem por minguado espaço e dançam conforme a música, num jogo de cartas marcadas, onde é muito claro que não conseguirão fazer maioria para governar, esta esquerda se contenta em fazer a oposição teatral, dos discursos, uma oposição necessária para dar impressão de normalidade, de democracia, de alternância de poder num regime extremamente controlado.

Ao conciliar com a direita, a esquerda vem cavando um suicídio, que será péssimo para seu desempenho eleitoral, mas está sendo muito pior para o trabalhador, para as minorias, para os pobres, que sofrem diariamente e não podem ser dar ao luxo de aguardar por eleições. A militância revolucionária deve resistir ao fetiche eleitoral apresentado por estes pré-candidatos, e se unir na luta verdadeira, a luta de organizar o povo, a única forma de reunir forças contra a burguesia.

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