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PSTU apoiou golpe de nazistas na Ucrânia, e agora culpa a esquerda por crescimento da extrema-direita

No dia 16 de dezembro do ano corrente, o PSTU reproduziu um artigo em seu site oficial intitulado “5 anos da Revolução Ucraniana – subestimada, incompreendida e caluniada”, assinado pelo POI – Rússia. Por si só, o título já evoca um teor alienígena. Afinal, não só o autor afirma ter havido uma revolução recente na Ucrânia, como se propõe a ser seu defensor. Será nosso objetivo mostrar que a comemoração da dita “revolução” na Ucrânia é uma sabotagem ao movimento operário mundial.

O texto morenista começa afirmando que a ruptura das relações da Ucrânia com a União Europeia teria motivado uma rebelião generalizada no território ucraniano. Para sustentar a afirmação de que os interesses da União Europeia seriam os mesmos que os da população ucraniana, o artigo evoca aquela que seria a sua principal tese: a maior ameaça para a Ucrânia é sua aproximação com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

A suposta ameaça da Rússia sobre os direitos da população ucraniana aparece no artigo morenista nas seguintes formulações: “os diferentes governos [ucranianos] se equilibravam manobrando entre a UE e a Rússia, vendendo o país a quem melhor pagasse”; “toda a política oficial ucraniana se resume à disputa sobre a qual amo entregar o país, à Rússia ou à UE”. Aparentemente, os morenistas consideram que a Rússia deveria ser tão combatida pelos ucranianos quanto a União Europeia. Ou seja, fica demonstrado claramente que não diferenciam um país imperialista de um país atrasado. Um absurdo para qualquer um que se pretende marxista.

A inclusão da União Europeia na lista de “amos” da Ucrânia no artigo morenista se dá apenas para que este aparente orientar seus leitores para uma política “anti-imperialista”. No entanto, não é possível formular uma política que confronte os interesses do imperialismo se, ao mesmo tempo, esta política confronta um foco de resistência à ofensiva imperialista, que é o governo Putin na Rússia. Colocar em pé de igualdade a Rússia e todo o imperialismo europeu é, além de uma completa aberração política é uma forma de fazer capitular todo o movimento operário diante da ameaça promovida pelos principais capitalistas do mundo.

O próprio Leon Trotsky, revolucionário russo, afirmou que, diante do imperialismo, até um regime “semi-fascista”, como o de Getúlio Vargas, deveria ser defendido.

A política do PSTU é muito clara entretanto. Assim como não vêem a diferença entre a Rússia e a União Européia, não viram a diferença entre o PT e os partidos golpistas (financiados pelo imperialismo), e dessa forma fizeram uma campanha para que os trabalhadores não lutassem contra o golpe.

Mas continuemos…

A política do imperialismo tem levado a Ucrânia à desindustrialização e a precarização sistemática é a política dos bancos europeus e norte-americanos. Por isso, a afirmação de que ambas a Rússia e a União Europeia disputam o sangue da população ucraniana é uma posição tipicamente pró-imperialista: ao mesmo tempo que esconde quem são os verdadeiros saqueadores da Ucrânia.

Um outro indício de que o artigo morenista elegeu a Rússia como centro da exploração ucraniana é o fato de que muito mais citações à Rússia e a Putin do que à União Europeia, os Estados Unidos ou ao imperialismo. Na verdade, a União Europeia só é citada no texto porque seus autores se preocupam em explicar por que a “revolução” ucraniana não seria “pró-UE”.

Por outro lado, o artigo declara: “Yanukovich reprime duramente as manifestações, se utilizando da Berkut, a odiada polícia de choque. Implementa novas leis antiprotestos no país, mais duras inclusive que nos regimes russo e bielorrusso, numa escalada claramente bonapartista. Não à toa era chamado de ‘miniatura de Putin‘”. Ou seja, não o imperialismo que financiou milícias nazistas que agrediu a esquerda nas ruas, mas Putin e Yanukovich são vistos como os brutais ditadores, um argumento altamente reproduzido pela imprensa burguesa.

Também consta no texto morenista: “a Rússia exige de Yanukovich pulso firme e oferece total apoio, mas este vacila até o último momento. A repressão foi dura, com mais de cem mortos e centenas de feridos, mas insuficiente segundo o Primeiro Ministro Russo Dmitri Medvedev, que acusou por isso, Yanukovich de fraco e covarde. Incapaz de derrotar a revolução pela força, Yanukovich foge para a Rússia”.

Algo que chama particular atenção são declarações do tipo: [a “revolução”] impôs a primeira derrota séria a Putin”; “obviamente, o grande derrotado até esse momento havia sido Vladimir Putin”. Essas formulações, por um lado, confirmam o interesse em eleger a Rússia como grande inimiga da população ucraniana, por outro, descredibiliza a dita “revolução” – afinal, que revolução pode ter como fim enfraquecer um setor oprimido pelo imperialismo e não afetar o imperialismo em si?

O acontecimento na Ucrânia em 2014 não foi uma “revolução”, mas sim um golpe de Estado concebido e operacionado pelo imperialismo. Por trás da derrubada do governo de Viktor Yanukovich, está sedimentado, de maneira muito clara, o interesse em enfraquecer a Rússia e o bloco de países que vêm entrando em contradições agudas com a burguesia internacional.

Um último aspecto merece ainda ser discutido em relação ao golpe na Ucrânia: seu caráter abertamente nazista.

As manifestações contra o governo de Viktor Yanukovich tinham, como seu elemento central, grupos nazistas que atuavam de maneira explícita. Em um dos episódios mais escandalosos, os nazistas ucranianos tocaram fogo em um sindicato, matando dezenas de pessoas.

Desde que foi dado o golpe, os nazistas têm ocupado mais cargos no Estado. As organizações de esquerda foram todas proibidas, a oposição é incessantemente perseguida e frequentemente podem ser vistos bandos nazistas marchando pelas cidades ucranianas. Mais recentemente, o governo golpista e apoiado por nazistas evoluiu para uma ditadura militar, declarado por meio de lei marcial – tampouco isso é lembrado pelos morenistas.

Estranhamente, o artigo morenista não fala, em um único momento, no nazismo ucraniano. Ao invés disso, se limita a falar vagamente que um “nacionalismo de direita” assumiu o poder. Em um momento de maior delírio, o texto chega a caracterizar os bandos nazistas como “comitês de autodefesa supra-partidários”.

Antes de encerrar a defesa ferrenha de um golpe pró-imperialista apoiado por nazistas e transformado em ditadura militar, os morenistas reiteram sua competa falta de interesse por um levante das massas contra o imperialismo e sua obsessão pela destruição do governo russo: “a chave para a continuidade da Revolução Ucraniana, para uma nova Maidan que possa de fato independizar este grande país, passa em primeiríssimo lugar por derrotar a agressão russa no leste“. Em outro momento, continua: “derrotar Putin teria repercussões de alcance mundial, dado seu papel contrarrevolucionário internacional“.

 

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