Alguns silêncios são loquazes. Em sua mensagem de “Feliz Páscoa” dirigida à comunidade judaico-cristã, o deputado pelo PSOL Jean Wyllys bancou na prática o deputado “do PSIU”, do silêncio em relação ao massacre empreendido pelo governo de Israel na fronteira com a Palestina. Nessa região, denominada Faixa de Gaza, 17 Palestinos foram fuzilados na sexta-feira durante uma manifestação pacífica pela libertação de seu povo, contra o expansionismo do governo israelense que quer expulsá-los de seu lugar de origem.
“A partir do pôr-do-sol desta sexta-feira, judeus do mundo todo iniciam a comemoração de Pessach, festa judaica cuja data se aproxima da Páscoa cristã, no domingo, e que lembra a libertação do povo judeu da escravidão no Egito” celebra Wyllys na nota. Infelizmente, a mensagem não menciona que hoje, é o governo sionista de Israel quem expulsa um povo indefeso de seu lugar de origem. Pois ao contrário de se espelhar no sofrimento dos palestinos com a lembrança de sua própria história sofrida, Israel tem servido a uma estratégia imperialista que não demonstra senão interesses geopolíticos na região. Nesse sentido, a democracia “interna” israelense vale muito pouco, por se apoiar numa opressão externa que deve ser denunciada pela esquerda internacional anti-imperialista. Assim como, por outro lado, a famigerada ausência de democracia do países oprimidos muitas vezes se justificam como uma forma de resistência contra o imperialismo.
Daí a inocência indesculpável de se supor que a “democracia” é um valor em si mesmo, que justificaria inclusive o ataque a países ditos “atrasados”. O mesmo vale para o que ocorre em países como a Venezuela, atacada por elementos do PSOL pelo seu endurecimento político sem se levar em conta os ataques e os interesses imperialistas na região.
Daí que uma esquerda consequente deve se perguntar, sobretudo, antes de tudo, quem é o opressor e o oprimido, ao invés de quem é o democrata e quem não é. Defender a “democracia” de forma abstrata é lançar uma cortina de fumaça sobre os reais interesses políticos em jogo na luta de classes, de um ponto de vista internacional.
Jean Wyllys defende abstratamente a democracia, e quando reivindica o direito à vida das minorias, etc isto soa apenas como uma enganosa peça de retórica, quando tais reivindicações são cotejadas com o seu silêncio eloquente, envergonhado e vergonhoso, acerca das vítimas palestinas do massacre em Gaza.