Valério Arcary, dirigente da corrente Resistência do Psol, publicou texto para argumentar contra a ideia de que devemos derrubar o governo. Com o título “A estratégia é derrubar Bolsonaro. Mas a tática do impeachment, agora, seria ou não um erro?” Arcary mostra por que é o elemento mais escorregadio da esquerda pequeno-burguesa.
Depois de ter apoiado o “fora todos” e dizer que “não havia perigo de golpe” enquanto foi dirigente do PSTU, o que servia para justificar à defesa da derrubada de Dilma Rousseff, sempre ensaboado, Arcary e outros muitos militantes do PSTU saíram do partido e formaram a organização que hoje se encontra no Psol. Parece, no entanto, que quando se trata de derrubar Bolsonaro, Arcary não tem o mesmo ímpeto que teve para defender a queda do governo do PT.
Em seu texto, ela afirma que “estamos em uma situação em que se impõe a acumulação de forças na resistência. Não devemos dar um passo maior que nossas pernas” e continua: “O impeachment pode ser um bom instrumento quando tivermos condições de mobilizar em uma escala muito maior do que fizemos em maio.” Essa conclusão, Arcary tira após levantar três argumentos pró e três contra o impeachment dizendo que “os argumentos contra são mais poderosos que os argumentos a favor.”
O dirigente do Psol está no clube dos que se negam a enxergar a realidade. Dos que parecem viver fechados num quarto escuro, sem contato com o mundo há meses. As constantes manifestações espontâneas contra Bolsonaro não entram na conta de Arcary. Não entra na conta também as enormes mobilizações de massas dos últimos meses cujo conteúdo central se voltava contra o governo e adesão ao Fora Bolsonaro era enorme mesmo com o esforço dos setores dirigentes da manifestação em esconder tal palavra de ordem. Arcary prefere acreditar nas pesquisas da burguesia: “é a menor taxa de aprovação, entre os presidentes eleitos em primeiro mandato. Cresceu o desprezo diante da irresponsabilidade, da idiotice, e da maldade”. Mas até mesmo elas, manipuladas para dar sustentação ao governo, não escondem a enorme popularidade.
Por fim, Valério Arcary ignora a crise de conjunto do governo e do golpe. Os vazamentos da Lava Jato, as declarações de Bolsonaro, as denúncias, a economia, as medidas impopulares. Se não ignora, ele considera tudo isso insuficiente para defender a derrubada do governo.
Arcary quer “acumular forças” e “mobilizar numa escala ainda maior”. Na realidade, ele quer esperar que alguém faça por ele. Talvez ele esteja esperando então que a burguesia decida derrubar Bolsonaro. O povo já está dizendo nas ruas, como seria o melhor jeito de aumentar a mobilização e acumular forças se não chamando o povo a fazer o que já está se propondo a fazer?
Arcary é mais um que se coloca no time do “fica Bolsonaro” na contramão da situação política cada vez mais madura para que as massas tomem a iniciativa e derrubem o governo. Para tentar se livrar dessa pecha, ensaboado, ele diz que a estratégia deve ser derrubar Bolsonaro, mas a tática agora é errada. São apenas palavras para justificar uma capitulação política.