De diversas regiões do País, estão partindo caravanas organizadas pelos Comitês de Luta Contra o Golpe para participarem do Réveillon Vermelho, em Curitiba, no dia 31 próximo, em local próximo à carceragem da Polícia Federal, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, maior liderança política do País, que desde 7 de abril, é mantido como preso político do regime golpista.
Essa importante mobilização ocorre no exato momento em que a burguesia golpista organiza a posse do governo ilegítimo de Jair Bolsonaro, eleito em meio a uma das maiores fraudes eleitorais da historia do País, com o processo sendo realizado sem a participação de Lula, o candidato preferido do povo brasileiro, como apontavam todas as pesquisas encomendadas, realizadas e divulgadas pela imprensa burguesa e outras instituições golpistas. O que temos é nada mais, nada menos, um governo ilegítimo, fruto da fraude e a base fundamental dessa fraude não é outra que não seja a condenação, prisão e cassação da candidatura ilegais do ex-presidente.
Ao longo desse ano, assim como em toda as etapas anteriores da luta contra o golpe, desde a sua preparação com o processo fraudulento do “mensalão”, em 2012, passando pela derrubada da presidenta Dilma, em 2016, até a fraude eleitoral, de 2018, a maioria das direções da esquerda burguesa e pequeno burguesa, procuraram apontar que o caminho para superar essa ofensiva da direita não era o enfrentamento dos explorados e das suas poderosas organizações operárias e populares com a direita, nas ruas, mas a busca de um entendimento crescente, de uma conciliação, com setores da própria burguesia, inclusive, com suas alas mais direitistas que participaram da organização e realização do golpe.
Desta forma, o que (des)orientou sempre a luta dessa esquerda, foi a sua verdadeira devoção ao regime pseudo democrático, que o golpe de estado desmoronou por completo e que não pode ser reerguido. Uma importante ala da burguesia, em certa medida, compreendeu essa situação e está tratando de edificar, de certa forma, um novo regime político, uma ditadura golpista, no qual se restrinja ao máximo, ou se elimine, a participação política dos trabalhadores, em geral representado pela pequena burguesia de esquerda.
Com tal perspectiva, a maioria da esquerda se opôs o quanto pode a realizar uma luta real contra a derrubada de Dilma (apresentado a expectativa que tudo seria resolvido no Congresso); rejeitou a proposta de luta pela anulação do impeachment fraudulento, apontando – ais uma vez – que o caminho era a “unidade” com setores da burguesia golpista no “fora Temer” e na antecipação das eleições (“diretas”); se recusou a levar adiante uma campanha prévia contra a prisão de Lula (“isso não vai acontecer”); aceitou que ele se entregasse (“porque isso facilitava sua liberdade”); defendeu o “plano b” (a substituição de Lula por outro candidato) e, diante das ameaças dos militares, trocou Lula por Haddad.
Essa esquerda, deixou de lado a palavra-de-ordem repetida milhões de vezes, “sem lula é fraude”, na campanha eleitoral, e sua desorientação chegou a níveis extraordinários, vendendo a ilusão de que seria possível derrotar eleitoralmente o golpe em eleições fraudulentas, sem Lula. Para isso não economizou retrocessos. Abriu mão até do vermelho na campanha e de reivindicações fundamentais, como a defesa de uma constituinte, livre e soberana e a defesa do direito das mulheres decidirem sobre o aborto. E buscou, sem sucesso, mais uma vez, uma aliança com setores golpistas que apoiaram a destituição de Dilma, a prisão de Lula etc., como FHC, PSDB, Ciro, PSB etc.
A mobilização em Curitiba neste final de 2018 e começo de 2019 vai no sentido de outra orientação, minoritária, mas sempre presente nas etapas anteriores da luta contra o golpe: a de que o único caminho capaz de deter a ofensiva golpista é o da mobilização nas ruas, impulsionada pela organização independente dos explorados e de suas organizações de luta. Uma perspectiva que ficou comprovada em cada uma das etapas vivenciadas pelo movimento de luta contra o golpe, a de que não há qualquer possibilidade de vitória por dentro das instituições do regime golpista (judiciário, legislativo etc.) dominados pelos “donos do golpe”, o imperialismo e seus aliados no Brasil.
O Réveillon Vermelho de Curitiba aponta no sentido de uma perspectiva diversa daquela defendida pelos setores que propõem uma rendição diante dos golpistas, que mesmo lhe tendo feito oposição eleitoral lhe desejam “sucesso”, “boa sorte” etc. em uma política de colaboração com seu governo ilegítimo e de traição aos interesses do povo brasileiro, diante de um governo comprometido até a medula com os interesses imperialistas, disposto a cortar na carne da população explorada.
O PCO e os comitês de Luta Contra o Golpe que impulsionam o Réveillon apontam no sentido da luta nas ruas, pela liberdade de Lula e de todos os presos políticos, pelo fora Bolsonaro e todos os golpistas, para o que é preciso multiplicar e fortalecer os comitês e sua atividade de agitação e propaganda nos locais de trabalho, estudo e moradia.
É um primeiro e significativo passo, que celebra e impulsiona a disposição de luta para enfrentar e derrotar, nas ruas, a direita golpista e seus ataques contra o povo brasileiro.
A tarefa central do ativismo classista e de todos os que querem ver triunfar a luta contra os golpistas no próximo período é impulsionar essa perspectiva revolucionária e dar a batalha pelo seu desenvolvimento.