Tem um velho ditado que diz que a ocasião faz o ladrão. O aprofundamento da crise do governo Bolsonaro e a intensa campanha pela frente ampla por parte da burguesia “responsável” e pela esquerda parlamentar escancarou a ocasião para oportunistas que farejam no “mercado” janelas de oportunidades. Lançado nas redes sociais o movimento “somos 70 porcento“ lançado pelo bolsonarista arrependido Eduardo Moreira é mais uma das versões da frente ampla disponível no “ mercado”.
Ao mesmo tempo que o governo da extrema-direita reitera as ameaças de um auto golpe, com a intervenção dos militares, pipocam nas últimas semanas inciativas “unitárias” em defesa da “democracia”, envolvendo lideranças de partidos, artistas, juristas, empresários e ativistas da “sociedade civil”. Assim, “movimentos” que “unem” a direita e a esquerda surgem como cogumelos após a chuva, além do “somos 70%” foi divulgado neste fim de semana, o manifesto “ Estamos Juntos”, que vai na mesma pegada de frente ampla, com artistas, políticos e personalidades da direita e da “ esquerda”.
O ‘Somos 70 porcento’ surgiu da iniciativa do economista-investidor da Bolsa de valores Eduardo Moreira, que após uma live nas redes sociais com o ex-senador Roberto Requião (MDB-PR) idealizou uma campanha publicitária para demostrar que os defensores de Bolsonaro são minoria, segundo as pesquisas de opinião.
Na sua conta no Twitter, Eduardo Moreira postou que “70% rejeitam aproximação ao Centrão (Datafolha); 70% acham Bolsonaro Péssimo/Ruim/Regular; 70% apoiam medidas de isolamento e mais de 70% sabem que a terra é redonda #Somos70porcento”
A campanha tem repercutido sobretudo nas redes sociais. Os setores oportunistas que defendem a frente ampla com os políticos burgueses, como não poderia deixar de ser, são os principais apoiadores do “#Somos70porcento” e do “Estamos Juntos”. A ausência de política combativa por parte das direções majoritárias da esquerda, permite que “ movimentos supra partidários” comandados por golpistas “arrependidos” tenham profusão considerável, abarcando sobretudo pessoas confusas e desnorteadas pelos ataques de Bolsonaro, mas que não se organizam efetivamente, e se tornam nas vítimas preferências dos oportunistas de plantão como Eduardo Moreira, entre outros.
A jogada publicitária do “#Somos70porcento” não é apenas uma ação política de um jogador acostumado com apostas na bolsa como é Eduardo Moneira, mas faz parte de uma política global da burguesia de reciclar os ex-apoiadores do impeachment de Dilma e da fraude eleitoral que colocou Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. O objetivo é reestabelecer o prestigio das lideranças dos partidos tradicionais do regime político, que arquitetaram o golpe, e que agora tentam desvencilhar-se do passado recente, apresentando-se como “democratas” ou como a “ direita civilizada”.
Para essa operação fraudulenta de reciclagem ter alguma credibilidade, é preciso criar uma ilusão que confunda a plateia. A suposta defesa da “ ciência e da vida” dos governadores de direita na pandemia é um exemplo dessa política. Entretanto, o desgaste da operação com os governadores de direita, levou a necessidade de “ movimentos mais amplos”, que envolva personalidades midiáticas.
A “autocritica” de Felipe Neto e a campanha “#Somos70porcento” de Eduardo Moreira é a nova onda “ supartidária” de reciclagem pela frente ampla. A propósito, O promotor da “#Somos70porcento”, Eduardo Moreira, que hoje é apresentado como um “economista democrata”, é vinculado aos banqueiros e foi um férreo defensor do impeachment de Dilma, participando ativamente dos “ movimentos da sociedade civil” de natureza golpista, os conhecidos coxinhatos. (inclusive tem um vídeo da época com uma declaração entusiástica de Eduardo Moreira pelo golpe).