A imprensa burguesa tem empreendido grandes esforços para apresentar Guilherme Boulos como a principal liderança política do conjunto da esquerda. Tal operação tem como objetivo anular a maior liderança popular do país que é o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. A burguesia tem utilizado o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) para suas manobras políticas desde a campanha contra realização da Copa do Mundo no Brasil, episódio importante do processo que resultou no golpe contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016. O membro do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) tem sido um elemento de grande confusão para a esquerda e sua política oportunista tem colocado setores populares a reboque da direita golpista do País.
Na semana que passou, Boulos ganhou novo destaque na imprensa golpista. Agrupou alguns militantes do PSOL e do MTST para fazer uma visita ao vão livre da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). Uma jogada publicitária que Boulos chamou de ocupação para dar um ar combativo para a ação, que novamente recebeu o aval da imprensa, principalmente da Folha de S. Paulo que, diferente do que costuma fazer, não chamou os manifestantes de “bandidos” ou “vândalos”, tratamento normalmente dispensado para a esquerda.
A trajetória política de Boulos, marcada por críticas ao PT (Partido dos Trabalhadores), era de pouco destaque e nenhuma relevância nacionalmente, sua maior projeção resulta do apoio da imprensa capitalista. A política de Boulos para o conjunto do movimento operário é de oposição à Central Única dos Trabalhadores (CUT), um ataque à unidade das organizações de luta dos trabalhadores. É importante compreender como a aparência esquerdista de Boulos tem sido explorada pela imprensa capitalista para os interesses da burguesia, um verdadeiro cavalo de Tróia da esquerda pequeno-burguesa.
A orientação política de Boulos
Em 1997, Guilherme Boulos iniciava sua militância no movimento estudantil pela União da Juventude Comunista (UJC), organização na qual permaneceu por poucos meses. De classe-média, filho de médicos, resolveu sair de casa e ingressar no MTST em 2002, no período de sua graduação na Universidade de São Paulo (USP). Em 2014, Boulos se torna colunista da Folha de S.Paulo, no mesmo ano que liderou a campanha “Não vai ter Copa”. Recém filiado ao PSOL, concorreu nas eleições de 2018 como candidato a presidente pelo partido.
A trajetória de Boulos, iniciada aos 15 anos, comprova que esteve ligado ao mesmo espectro político, apesar da fachada esquerdista, sua militância nunca teve nada de revolucionária, sempre esteve ligado ao setor mais pequeno-burguês da esquerda. Boulos nunca foi um militante ligado a organizações mais populares, com base real nos trabalhadores, como o caso do PT. Sua trajetória na esquerda sempre foi ligada ao espectro que se situa o PSOL, o PCB, o PSTU, partidos cuja base é uma classe média e que, não por coincidência, tiveram uma posição golpista contra o governo do PT durante o processo do golpe. Sobre isso, falaremos um pouco mais adiante.
O ingresso no PSOL
Depois de passar por organizações esquerdistas de classe média durante o movimento estudantil e se transformar em liderança do MTST principalmente durante o período anterior ao golpe, Boulos ingressa no PSOL em 2018, nas vésperas das eleições presidenciais. Sem ser um militante do partido, Boulos entra no PSOL para ser candidato.
Neste sentido, o PSOL se iguala a um partido burguês qualquer que aluga sua legenda para figuras oportunistas, Boulos se filiou às vésperas das eleições de 2018 subvertendo a política do partido, se é que podemos assim dizer, ao seu projeto pessoal. O oportunismo das direções do PSOL não permite uma clara compreensão do papel político que cumpre a imprensa capitalista, no anseio de ascender a qualquer custo dentro do regime e ocupar o lugar do PT, acaba por se tornar alvo fácil das manipulações encomendadas pela burguesia, assim foi também com a luta contra corrupção em apoio à operação Lava Jato.
Em 2003, Guilherme Boulos já aparecia como um dos coordenadores da ocupação dos trabalhadores sem-teto em um terreno da Volkswagen em São Bernardo do Campo. O MTST surgiu em 1997, durante o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardosos (PSDB), como um setor urbano do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), uma extensão da luta pela terra na cidade. A chegada de Lula a presidente arrefeceu as lutas que resultaram da crise do regime, interrompeu-se assim o desenvolvimento mais acabado do movimento por moradia, a debilidade da organização favoreceu o surgimento de lideranças oportunistas.
A ocupação em São Bernardo aconteceu pelo período de 20 dias, o papel de Boulos registrado pelo Diário do Grande ABC foi de negociar a retirada das famílias acampadas e organizar uma passeata pacífica pela cidade. É importante destacar este fato, pois o apoiador inusitado de Boulos na campanha eleitoral pela prefeitura de São Paulo em 2020, o tenente-coronel aposentado da Polícia Militar, Adilson Paes de Souza, destacou exatamente as colaborações em desocupações, uma característica bastante peculiar do líder do MTST.
O MTST funciona como uma espécie de trunfo pessoal de Boulos, um aspecto relevante do ponto de vista político, a organização não integra o movimento geral de luta da classe trabalhadora do país, há uma aberta oposição à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Apesar de atualmente não estar filiado a nenhuma central sindical, entre 2010 e 2012, o movimento esteve ligado à Conlutas, a central de brinquedo que o Partido Socialista dos Trabalhadores unificado (PSTU) criou para chamar de sua. Segundo carta pública, a saída do MTST foi motivada pela tentativa de golpe na coordenação do movimento pelo PSTU.
CARTA DE SAÍDA DA CSP CONLUTAS
O MTST esteve na CSP Conlutas desde sua fundação, no Conclat de 2010. Diante da divisão que se estabeleceu naquele Congresso, optamos por compor a Central que dele surgiu, por acreditarmos na proposta de unificar organizações combativas da classe trabalhadora – no movimento popular e sindical.
Durante estes 2 anos, buscamos construir e participar dos espaços da Central. Estivemos em suas principais lutas, nas reuniões e debates, com o intuito de fortalecer na prática a tão falada unidade. Por esta mesma razão, estivemos entre os maiores defensores da recomposição com as organizações que estiveram no Conclat e tomaram outros caminhos.
No último período, tivemos diferenças de posições em relação especialmente aos companheiros do PSTU (maioria na Central) sobre a necessidade de medidas mais claras e ativas de integração do movimento popular aos espaços e pautas da Central. Debate legítimo, de posições diversas, em que algumas vezes chegamos a acordos e outras não.
No entanto, nas últimas semanas, ocorreram atitudes que saíram do âmbito do debate legítimo e da lealdade política. Companheiros do PSTU atuaram de forma divisionista em bases do MTST de vários estados, afetando, inclusive, coordenadores do Movimento. Organizaram reuniões no Amazonas e em Minas Gerais, com o intuito de convencer militantes a saírem do MTST e ingressarem no movimento que este partido busca impulsionar atualmente. No caso do Amazonas, embora apenas nele, obtiveram sucesso e desarticularam o coletivo do MTST por lá. Vale registrar que não se tratou de uma iniciativa isolada. Um dirigente nacional do PSTU, o companheiro Zé Maria de Almeida, chegou a telefonar para um dirigente do MTST em Minas, estimulando sua saída do Movimento.
Por estas razões, como não estamos dispostos a gastar nossas já poucas energias em disputas mesquinhas e desleais, o MTST está se retirando, neste momento, da CSP Conlutas. Nossa presença na Central só fez sentido enquanto significou para nós um espaço de construção da unidade. Na medida em que se torna um espaço de divisão e disputa, infelizmente deixa de cumprir os seus propósitos.
Queremos registrar que não sairemos destilando veneno ou acusações em notas, debates, etc. Este tipo de método não produz nada de positivo na luta dos trabalhadores. Apesar desses fatos lamentáveis, continuamos respeitando e valorizando a atuação conjunta com os companheiros da CSP Conlutas e do PSTU. Nossos objetivos socialistas são os mesmos. Apenas não podemos tolerar práticas de desagregação de um trabalho político, construído a muito custo e em condições bastante adversas.
Rio de Janeiro, 14 de julho de 2012.
Coordenação Nacional do MTST
Reprodução
A filiação na CSP-Conlutas não se trata de uma iniciativa no sentido de integrar o MTST à luta geral do proletariado, se fosse esse o interesse, a CUT é quem deveria ser procurada, uma vez que é a central que reúne a esmagadora maioria dos sindicatos do país, ou, mais propriamente, a CMP (Central de Movimentos Populares), já que o MTST é uma organização popular. Diferente do que diz a sua sigla, a CSP-Conlutas sequer constitui uma verdadeira central sindical nem uma verdadeira central popular, se trata de uma política do PSTU contra o movimento operário, já que pretende dividir a organização sindical nacional. Fica claro que o problema de fundo é a grande presença do PT no movimento operário e, portanto, na CUT, assim se estabelece o antipetismo dentro da esquerda principalmente de suas dissidências que inclui o PSOL.
A política encabeçada pelo líder do MTST não tem qualquer relação com a luta geral do movimento popular ou operário. A manutenção do movimento sem vínculo com uma central, após a experiência junto à CSP-Conlutas, é usada pelas lideranças, a começar pelo próprio Boulos, para facilitar o trânsito entre vários setores. Essa política ficou bem clara durante os anos finais do governo do PT quando, ao mesmo tempo, em que aparecia como próximo a Lula e depois Dilma como beneficiário da política do “Minha Casa minha vida”, aparecia também como crítico e “oposição de esquerda” aos governos petistas.
O elo que une o PSOL à CSP-Conlutas é o combate ao PT, que seria o grande inimigo de toda esquerda, o equívoco dessa política foi o que permitiu serem manipulados pela imprensa burguesa. O PSTU apoiou abertamente a derrubada de Dilma e a prisão de Lula, sem considerar qual campo político obteria ganhos com os resultados desta luta, não foram capazes de enxergar o golpe de Estado. Já o PSOL foi o grande defensor da luta contra a corrupção (operação Lava Jato) e Boulos participou ativamente desse processo nas ruas ainda que suas intenções supostamente tivessem outro sentido.
Diferente do PSTU, PSOL e Boulos (ainda como elemento “independente”) apresentavam uma política ambígua em relação ao golpe, o que gerava enorme confusão. Ainda que um setor do PSOL tenha a mesma política do PSTU, mais abertamente golpista, como o MES (Movimento Esquerda Socialista) de Luciana Genro ou a CST (Corrente Socialista dos Trabalhadores) de Babá, a maioria do PSOL, assim como Boulos, procuravam aparecer demagogicamente como opositores do golpe, enquanto diziam, inclusive usando a Folha de S. Paulo, que Dila era “indefensável”.
“FORA o ajuste fiscal da DILMA” e o golpe de 2016
A notoriedade de Guilherme Boulos advém da campanha “Não vai ter Copa”, nem ele e tampouco MTST tinham projeção nacional, a imprensa foi a responsável por promovê-los. Essa palavra de ordem foi levantada ainda no interior do movimento sequestrado pela direita em 2013, mas se torna uma campanha de fato em 2014 sob a liderança de Boulos. O destaque da imprensa burguesa tinha como único objetivo atacar o governo de Dilma Rousseff, garantir o fracasso da Copa do Mundo no Brasil para não servir de propaganda para o PT, criar um ambiente que fosse desfavorável para sua reeleição.
Segundo Boulos, a campanha se tratava de uma luta contra os despejos que ocorreram nas capitais que sediaram os jogos da Copa do Mundo, mas a verdade é que a reivindicação por moradia nunca esteve em primeiro plano, basta digitar “Não vai ter Copa” no buscador da internet e conferir. Um setor da esquerda combate o futebol em si, sem compreender a importância de aspectos culturais e econômicos relacionados. Outra parte da esquerda acreditava estar combatendo o capitalismo, muito impulsionados pela demagogia da imprensa golpista sobre os gastos com a construção dos estádios, reivindicavam principalmente saúde e educação, assim como os coxinhas de camisas amarelas defendiam escolas e hospitais padrão “FIFA”. A falta de uma política clara do movimento permitiu a manipulação em favor dos interesses da direita golpista do país.
A projeção dada pela imprensa golpista não foi apenas através da divulgação das manifestações do “Não vai ter Copa”. Boulos ganhou de presente uma coluna semanal da Folha de S. Paulo onde aproveitava para destilar sua política esquerdista contra o governo do PT, dando, assim, uma cobertura de “esquerda” para a política golpista.
Em 2015, enquanto a direita buscava inviabilizar o governo reeleito e preparava o golpe contra presidenta Dilma Rousseff, setores da esquerda como PSOL, PCB, PSTU e Boulos (MTST) realizavam atos contra o “ajuste fiscal”. Esta parte da esquerda desconsiderou o perigo de golpe de golpe de estado mesmo diante dos ataques constante da imprensa capitalista, que buscava apresentar Dilma como corrupta e impopular, e também das manifestações, sequestradas pela direita, mantidas de maneira artificial com financiamento da burguesia. Essa parcela da esquerda na prática formou uma frente com a direita para atacar Dilma, seu papel foi de semear confusão no interior do campo político mais progressista, impedindo assim uma ação mais combativa da esquerda desde a primeira hora.
Para Boulos, não havia ameaça de golpe de Estado no País, tudo não passava de uma histeria para apoiar o “indefensável” governo de Dilma, foi dessa forma que se manifestou em sua coluna na Folha S.Paulo. O oportunismo exacerbado de Boulos não permitiu compreender quais eram os campos políticos que concretamente estavam em disputa, sua política resultou ganhos para a direita golpista e perdas para a esquerda de conjunto. Por falta de uma análise correta da situação, o líder do MTST não previu que a tomada do poder pela direita, a chegada de Michel Temer (PMDB) sem voto à presidência, faria com que o ajuste fiscal do governo Dilma se tornasse irrelevante em comparação ao que viria, a destruição dos direitos e das condições de vida do povo brasileiro.
Em 2016, depois da autorização da abertura do processo de impeachment por Eduardo Cunha no final do ano anterior, as mobilizações finalmente começam acontecer impulsionadas por setores ligados à CUT e ao PT, porém um estranho fenômeno surge dentro do campo da esquerda, a divisão do movimento com dois nomes.
A “Frente Brasil Popular” foi organizada pelos grupos da esquerda como a CUT, o PT, a UNE, o PCO, o PCdoB, a CMP etc, tinha como objetivo agrupar todos os setores da esquerda para lutar contra o golpe de Estado no País. Uma frente cujo objetivo era lutar contra o golpe, por toda a limitações da política de cada uma dessas organizações, é fato que se tratava de um esforço de realizar uma frente única contra a direita.
Mas Boulos, seguindo a tradição do “não me misturo”, inventou uma frente chamada “Povo Sem Medo”, que agrupava alguns setores que também integravam a “Frente Brasil Popular”, mas tendo Boulos como liderança. Além de dividir as frentes, o que é absurdo do ponto de vista de uma luta unificada, a “Frente Povo Sem Medo” tem uma característica muito importante. Ali não participam partidos, mas apenas “movimentos”. Qualquer semelhança com a campanha da direita contra os partidos não é mera coincidência. De fato, a “frente” criada por Boulos tinha uma política anti-partido, ou talvez seria melhor dizer de esconder os partidos atrás de “movimentos”, no melhor padrão da campanha direitista, a começar contra o próprio PT.
Essa divisão revela na prática o antipetismo de Boulos, o fato de não compor em uma única frente é muito sintomático, sua frente serviu somente para confundir o movimento geral, para desmobilizar as pessoas que estavam dispostas a lutar contra o golpe de Estado. A sabotagem se expressou de forma clara na convocação em datas, horários e locais diferentes pela Povo Sem Medo, uma prática que fragmentava a mobilização. Quem vê as duas “frentes” convocando atos conjuntamente hoje deve entender que a criação da “Frente Povo sem medo” foi também usada por Boulos para pressionar o movimento no sentido de forçar uma posição vantajosa na coordenação dos atos, usando como moeda de troca, uma ameaça latente de que o movimento poderia se dividir. Considerando todo o processo que se desenvolveu até o golpe de Estado, pode-se concluir que Boulos nunca lutou contra o golpe, muito pelo contrário, contribuiu para confundir a luta contra a derrubada de Dilma Rousseff.
A questão Lula e a política oportunista
Os desavisados poderiam pensar que nossa análise traz equívocos em relação à posição de Boulos em relação ao PT, até porque supostamente esteve na rua contra o golpe e sempre defendeu Lula contra as perseguições da direita. Neste sentido, a política de Boulos pode ser comparada à política de Ciro Gomes que num primeiro momento pareceu defender o ex-presidente, propôs que Lula fosse levado para alguma embaixada caso tivesse ordem de prisão, porém o desenvolvimento da situação política revelou se tratar de um verdadeiro abutre, sua “defesa” do líder do PT tinha como objetivo capitalizar o apoio de um setor da esquerda.
Apesar de presente no dia da prisão de Lula em São Bernardo do Campo e de ter participado da invasão ao triplex do Guarujá junto ao MTST, Boulos nunca atacou frontalmente a operação farsesca da Lava Jato e se apresentou como defensor de um “julgamento justo” para o ex-presidente, tendo, portanto, uma posição ambígua sobre a inocência de Lula. Boulos chegou a dizer que aparecer junto de Lula no palanque era um prejuízo eleitoral, ou seja, era como se estivesse sendo uma espécie de “martir eleitoral”, abrindo mão de preciosos votos para apoiar Lula. Logicamente que essa ideia é totalmente absurda, já que ninguém melhor do que Lula para ajudar na popularidade, e só por isso Boulos esteve lá, mas ao mesmo tempo mostra bem a mentalidade de classe média de Boulos e do PSOL, que consideravam que a campanha da direita contra Lula tinha alguma base real. Fica claro que as ações de Boulos nunca estiveram orientadas pelos anseios populares e por questões democráticas, mas pelo interesse pessoal e eleitoral.
Assim como o conjunto da esquerda foi arrastado a se posicionar contra o golpe de 2016, em Dilma Rousseff, Boulos também foi empurrado a falar ainda que timidamente sobre o impedimento ilegal da participação de Lula nas eleições de 2018. Na prática, Boulos legitimou as eleições ao participar da fraude, sequer fez de sua participação uma tribuna para denunciar a prisão de Lula tampouco a Lava Jato e Sérgio Moro. No máximo, fazia demagogia nos debates dizendo “boa noite, presidente Lula”, mas luta que é bom, nada. Boulos se comportou como mais um político dos partidos tradicionais da direita, durante as eleições apresentou propostas para administrar o Estado burguês e fez promessas para sua eventual gestão. A participação de Boulos nas eleições de 2018 demonstra de maneira cristalina seu oportunismo político.
Guilherme Boulos não teve nenhuma participação na luta pela liberdade de Lula, suas aparições nas manifestações contra a prisão do ex-presidente nada agregou. As palavras proferidas por Boulos de que a prisão de Lula seria um ataque à democracia nunca tiveram respaldo na realidade, o líder do MTST, que se orgulha de ser hiper popular, nunca organizou de fato um ato em Curitiba ou sequer mobilizou os militantes do PSOL para comparecerem às manifestações. A presença de Boulos em Curitiba e nas manifestações pela liberdade de Lula sempre teve como objetivo atrair os petistas para sua política, assim como fez nas eleições de 2020 tirando o PT do segundo turno na capital paulista com a ajuda da imprensa burguesa. Apesar de não perder a linha como Ciro Gomes, o líder psolista não deixa dúvidas de seu abutrismo.
A prova dos nove sobre o apoio ao ex-presidente Lula aconteceu quando o Supremo Tribunal Federal decidiu pela suspeição de Sérgio Moro no processo da Lava-jato. Assim que Lula colocou a possibilidade de ser o candidato da esquerda nas eleições de 2022, Guilherme Boulos prontamente declarou que não seria hora de pensar em eleições. A oposição a Lula rapidamente ganhou as páginas de todos os meios de comunicação capitalistas, uma clara demonstração da verdadeira posição de Boulos e de como sua política serve aos interesses da burguesia.
Boulos e suas relações com burguesia
O desenvolvimento das eleições de 2020 na capital paulista demonstra bem qual o papel que Boulos cumpre na situação política. Para sustentar a ideia de se criar uma frente ampla, composta por partidos de esquerda e de direita, contra Bolsonaro sem o protagonismo do PT foi colocada em prática uma operação que buscou diminuir a importância desse que é maior partido da esquerda. O PT, que sempre polariza as eleições com PSDB na maior capital do país, apareceu nas pesquisas com apenas 1% dos votos, disseminou-se a ideia que para evitar a chegada no segundo turno do candidato de Bolsonaro, Celso Russomano do Republicanos, era preciso que toda esquerda apoiasse Boulos, foi assim que se garantiu a disputa da prefeitura com Bruno Covas.
No início das eleições Boulos optou pela demagogia esquerdista e pseudo-radical. Mas à medida que a manobra da burguesia se concretizava, Boulos também foi abrandando seu discurso até que, depois de uma reunião com a Associação Comercial de São Paulo, disse “Não esperem de mim demonização do setor privado”, uma demonstração de se tratar de um político que não possui uma política coerente, se é que se pode chamar esse comportamento camaleônico de política.
A participação do imperialismo nessa operação também fica transparente quando a revista Times elege Boulos entre os 100 líderes emergentes do mundo, uma propaganda utilizada durante as eleições que não tem qualquer base na realidade, uma vez que o líder do MTST teve a pior votação da história do PSOL em eleições presidenciais.
Após a derrota já esperada no segundo turno, Boulos publicamente elogiou a disputa democrática com Bruno Covas e desejou sorte ao inimigo da população da capital de São Paulo, um verdadeiro fascista que colocou pedras pontiagudas embaixo das pontes, que ordenou a GMC roubar cobertores e jogar água em barracas dos moradores, que transformou o transporte público em rabecão, que atacou os direitos de professores e servidores, que fez aumentar a repressão contra população pobre e preta de preferia, por fim, que foi responsável por milhares de mortes na pandemia da COVID-19.
O sucesso na operação que tirou o PT das eleições no primeiro turno das eleições de 2020 em São Paulo garantiu o retorno de Guilherme Boulos como colunista da Folha S. Paulo.
Fora Bolsonaro e a frente ampla
Guilherme Boulos é ferrenho defensor da frente ampla com os golpistas da direita contra Bolsonaro, usa como experiência de “sucesso”, para defesa de sua posição, a frente que se formou pelo movimento “Diretas já!” que teve resultado a eleição de Fernando Collor de Mello e os governos de Fernando Henrique Cardoso. Para o psolista, apesar de necessária unidade para derrotar Bolsonaro, declarou ao Valor ser pouco provável frente com centro-esquerda em torno de Lula, praticamente um convite a si mesmo para representar a frente-ampla e uma confissão de que rifaria o PT pelo apoio da direita nas eleições.
Apesar de se dizer defensor do Fora Bolsonaro, Boulos reconheceu o resultado das eleições fraudulentas de 2018 como legítimo e também foi contra a palavra de ordem que unificava todas as lutas em curso no país. Mas todas as vezes que as organizações populares estiveram nas ruas, Boulos procurou se apresentar como liderança da manifestação, foi assim quando as torcidas de futebol e antifascistas foram para a Av. Paulista, em São Paulo, expulsar os bolsonaristas, naquela oportunidade, o líder do MTST fez exatamente o oposto, garantiu que as mobilizações da extrema-direita para pedir a volta da ditadura militar.
Nada diferente do que acontece nesse momento, Guilherme Boulos que defendia que a hora de lutar nas ruas seria somente depois da pandemia da COVID-19, se transformou em porta-voz das mobilizações que não contribuiu para que ocorressem, inclusive na imprensa capitalista pela qual tem apreço e vínculo direto dando informações privilegiadas sobre a organização dos atos. Além disso, seu partido defende abertamente a participação do PSDB, maiores inimigos da população, nas manifestações da esquerda e do povo.
Nas últimas semanas, Boulos foi o escolhido do PSOL para ser o candidato ao governo de São Paulo. Assim como ocorreu em 2020, a imprensa golpista já dá grande destaque ao seu candidato esquerdista. Tudo indica que essa candidatura será usada novamente contra o PT em São Paulo, fazendo chantagem, condicionando o apoio do PSOL a Lula ao o apoio do PT a Boulos. A troca é absurda, já que estamos falando de um partido sem base popular e o maior partido do País, mas a manobra consiste no seguinte: a imprensa apresenta Boulos como o candidato mais “viável” em São Paulo, ignorando a popularidade de Haddad, e ameaçando colocar a culpa no PT caso este não aceite a aliança absurda, pela derrota na eleição. Ao mesmo tempo, prepara um pretexto para o não apoio do PSOL a candidatura de Lula à presidência.
O oportunismo de Guilherme Boulos é algo gritante, tem sido um instrumento de grande importância para os planos da burguesia. O líder do MTST foi uma peça no desenvolvimento golpe contra Dilma Rousseff em 2016, bem como, na legitimação da fraude eleitoral de 2018. Além de promover confusão em torno da luta pelo fim do governo Bolsonaro e do golpe de Estado no país, sua política frente-amplista com a direita golpista viabiliza a terceira via da burguesia. Por isso o apoio muito mal disfarçado da Folha, do jornalista de extrema-direita, José Luís Datena, e da Globo ao líder do PSOL.
Como fica claro, não é de hoje que Guilherme Boulos é o queridinho da imprensa golpista. E como está claro, essa situação deve se aprofundar. O que é importante entender é que esse amor da burguesia por Boulos só é possível com sua política direitista e oportunista que serve aos interesses dos inimigos da esquerda.