– Pedro Burlamaqui, DCO – Em novembro do ano passado, este Diário publicou um artigo exclusivo acerca de Guilherme Boulos e suas relações com o imperialismo por meio do Instituto Para Reformas Entre Empresa e Estado (IREE).
Presidido por Walfrido Warde, chefe e grande amigo de Boulos, o IREE é composto pelo que há de mais sinistro na política brasileira. Dentre o quadro de seus diretores, temos Leandro Daiello, chefe da Polícia Federal durante o golpe de 2016; Sérgio Etchegoyen, general e ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Michel Temer; e Raul Jungmann, o ex-ministro da Defesa de Temer.
Além disso, o IREE possui uma parceria com o Global Americans, um think-tank composto por figuras ligadas direta ou indiretamente ao imperialismo norte-americano. Vale notar que essa parceria foi organizada por Warde, amigo pessoal de Guy Mendel, presidente da Global Americans.
Ademais, o Global Americans é financiado pelo National Endowment for Democracy (NED), uma agência do governo dos EUA que, nos últimos 30 anos, tem executado os serviços da CIA, como o financiamento do movimento pró-imperialista no Cazaquistão.
Desde então, Walfrido mostrou ter muito mais esqueletos em seu armário do que revelamos no começo. Além de ter contratado a empresa de espionagem israelense Black Cube para espionar a Vale em prol de um dos maiores bilionários de Israel, o que garantiu uma maleta de R$750 mil reais à Sérgio Moro, na última semana, denunciamos que Warde também financiou a campanha do direitista Kim Kataguiri. Entretanto, Kim não foi o único direitista presenteado por Warde.
Eleições de 2014
Segundo o site da prestação de contas do TSE, em 2014, Walfrido Warde desembolsou R$155.705,00 para financiar a campanha de dois candidatos. Vamos, então, caracterizá-los individualmente.
Laércio José de Oliveira
Laércio, como todo bom político burguês, já passou por diversos partidos brasileiros. Iniciou sua carreira no PSDB, em 2005, permanecendo 4 anos na legenda. Em seguida, foi para o PR (2009-2013), o Solidariedade (2013-2018) e, atualmente, faz parte do Progressistas (PP).
Em quesito de votação, Laércio se mostrou completamente alinhado à política golpista desde 2014, quando Walfrido o apoiou. Votou a favor do impeachment, da PEC do Teto de Gastos, da Reforma Trabalhista, da privatização dos Correios, da prisão em segunda instância e da PEC do Veneno.
Em 2013, foi eleito, pela Revista Veja, o terceiro melhor deputado federal do país por sua atuação nas questões voltadas para a infra-estrutura, relações do trabalho, carga tributária e outros. Foi relator do PL 4302/98 na Câmara Federal que, após aprovação do governo Temer, deu origem à Lei da Terceirização. Além disso, é autor do PL 3785/2012, relativo ao chamado trabalho intermitente que, na época, foi estudado pela equipe econômica de Temer para desenvolver a Reforma Trabalhista. Como se não bastasse, também foi autor de um PL que anula multas de empresas por atrasar informações sobre FGTS.
Este ano, Laércio fala em concorrer ao cargo de governador em Sergipe, também pelo PP. Em entrevista à R3Cast acerca de sua candidatura, após indagação do entrevistador, ele afirma que não só Bolsonaro, como também o fascista general Heleno, o apoiam em Sergipe:
“Eu já tive uma conversa com o general Heleno e ainda não conversei com o presidente Bolsonaro sobre o assunto. Não sei bem se a governador ou a senador. Isso a gente ainda não definiu. Ficamos de conversar outras vezes a respeito dessa pauta e é claro, eu sou Progressista, meu partido faz parte da base governista, também integra o Centrão. Vou montar o palanque de Bolsonaro aqui pra Sergipe, juntamente com os outros partidos.”
É o mesmo general Heleno que, em 2005, liderou uma missão que ficou conhecida como Massacre no Haiti, onde mais de 70 pessoas morreram, segundo a Reuters, e que, hoje, ocupa o cargo de chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, antes ocupado por, ninguém mais, ninguém menos, que Sérgio Etchegoyen, mais um amigo de Warde.
Walfrido, por meio de seu escritório Lenmann, Warde & Monteiro de Castro Advogados, deu R$20.000,00 para Laércio em sua campanha em 2014.
Rubens Moreira Mendes Filho
Laércio é um neoliberal de primeira, algo que por si só já é monstruoso. Entretanto, Rubens Moreira, já falecido, era um fascista profissional.
Antes de qualquer coisa, precisamos analisar sua passagem pelos partidos brasileiros. Rubens iniciou sua vida política no ARENA, o partido que dava sustentação política para a ditadura militar de 1964. Vale notar que o ARENA, após a abertura do regime, trocou de nome para Partido Democrático Social (PDS), posteriormente, para Partido Progressista Renovador (PPR), depois para Partido Progressista Brasileiro (PPB), Partido Progressista (PP) e, hoje, Progressistas (PP), que, coincidentemente, é o atual partido de Laércio. De todas essas legendas, Rubens Moreira fez parte de três, o PDS, o PPR e o PPB. Em seguida, em 1995, foi para o PDT, depois PFL, PPS, terminando sua carreira política – e vida – no PSD.
Além de sua sinistra participação na ditadura, Rubens continuou sua política fascista e, antes de morrer, era presidente da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA) e membro da bancada da bala, ou seja, financiado diretamente pela indústria armamentista para levar adiante sua política no Brasil.
Warde doou uma quantia absurda para sua campanha em 2014. Foram R$40.711,50 em seu CPF e, além disso, mais R$94.993,50 em nome de seu escritório de advocacia, totalizando R$135.705,00 somente para Rubens.
Eleições de 2018
Em 2018, Warde moderou seus gastos com parlamentares, destinando R$28.000,00 para 4 políticos diferentes, segundo dados do TSE. Dentre eles, dois se destacam com ainda mais representantes da direita nacional.
Kim Kataguiri
O financiamento de Kim Kataguiri por parte de Warde já foi denunciado por este Diário na semana passada. O empresário destinou R$10.000,00 reais para o fascista do MBL, confira matéria exclusiva para mais detalhes.
Efraim de Araújo Morais Filho
Temos, aqui, mais um direitista com histórico.
Seu pai, Efraim Morais, foi presidente da Câmara dos Deputados pelo PFL de 2002 a 2003. Além de ter sido do PDS, ambos partidos sucessores da ARENA, o partido da ditadura militar de 64. Já Efraim Filho começou sua carreira no PFL em 2001, partindo depois, em 2007, para o Democratas (DEM), um dos principais partidos do golpe, que, este ano, se juntou com o PSL para formar a União Brasil.
Na Câmara, votou a favor da privatização da Eletrobrás, do marco do saneamento, da reforma trabalhista e da PEC do Teto de Gastos. Em 2016, votou, também, a favor do impeachment de Dilma Rousseff.
Em 2015, foi membro da CPI da Petrobrás e presidente da CPI dos Fundos de Pensão, duas comissões utilizadas pela burguesia como espaço de manobra para o golpe de 2016.
Warde lhe destinou R$3.000,00 para sua campanha em 2018, pelo DEM. Vale ressaltar que, em 2014, Efraim recebeu R$50.000,00 da Taurus, a maior fabricante de armas de fogo do Brasil e a principal exportadora para os Estados Unidos.
Eleições de 2020
Guilherme Boulos
Como se não bastasse ser empregado por Warde em seu sinistro IREE, Boulos também recebeu um Pix do empresário no valor de R$40.000,00 nas eleições municipais de 2020. À época, Boulos, candidato à prefeito, representava uma candidatura articulada para, acima de tudo, atacar o PT e avançar com a Frente Ampla no país. Algo que, efetivamente, garantiu a vitória do PSDB no pleito.
As candidaturas da esquerda
No total, Walfrido Warde financiou 10 pessoas diferentes num total de R$273.569,00. O mais curioso é que, dentre esses 10 candidatos, 6 eram de partidos de esquerda e, contando com Guilherme Boulos, que recebeu R$40.000,00 de Walfrido em 2020, a verba destinada por Warde foi de R$104.864,00
Ou seja, se não contarmos com Boulos, o sugar baby do empresário, Warde destinou apenas R$64.864,00 para candidaturas de partidos da esquerda, enquanto que, para a direita e, como visto acima, a extrema-direita, doou R$168.705,00, mais de R$100.000 reais a mais. É algo no mínimo contraditório para quem se diz de esquerda e luta tanto em prol da “filantropia”.
Financiamento eleitoral privado: a demagogia de Warde
Vimos aqui que Warde utilizou seu escritório Lenmann, Warde & Monteiro de Castro Advogados para movimentar R$114.993,50 nas eleições de 2014. Ou seja, com o CNPJ de sua própria empresa, financiou a campanha eleitoral de candidatos no Brasil.
Entretanto, em 2016, no site do IREE, Warde publicou um artigo intitulado Por um novo modelo de financiamento de campanha, no qual ele se coloca firmemente contra o financiamento de campanhas eleitorais por parte de empresas. No texto, ele defende, como alternativa, o financiamento por meio de ONGs, uma demagogia que serve para mascarar a atuação do imperialismo na política brasileira.
A esquerda não pode se comprometer com a direita
Desde que este Diário levou à cabo suas denúncias contra Boulos e, de maneira geral, contra a esquerda pequeno-burguesa no Brasil, iniciou-se uma gigantesca campanha de calúnias que, com objetivo de esconder o debate, procuravam desmoralizar as colocações do PCO contra o financiamento imperialista.
Agora, temos ainda mais provas de que as ligações de Warde também se estendem para a direita e a extrema-direita brasileira, com figuras verdadeiramente fascistas que, nos últimos anos, foram porta-vozes da política neoliberal no país. Verdadeiros agentes do golpe.
Como aceitar, portanto, que uma figura reacionária como Warde possa empregar a principal liderança da esquerda pequeno-burguesa no Brasil? É intolerável, representa uma profunda infiltração da burguesia e do imperialismo no seio da esquerda brasileira, um escândalo por si só.
E mais: a postura de Boulos frente a todo esse debate só reforça a posição de que ele próprio é um aliado da burguesia. Caso contrário, se explicaria, o que, até o momento, nem começou a fazer.
No final, diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és.