─ Julia Scalvenzi, DCO ─ Na última semana, o Diário Causa Operária fez um levantamento que indica a quantidade de doações recebidas por determinados candidatos nas eleições de 2022. Todas as informações podem ser encontradas no sítio de transparência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Entre as reportagens já disponibilizadas é possível encontrar informações sobre a divisão desigual do fundo eleitoral do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), as doações de Walther Moreira Salles Júnior, ligado ao Banco Itaú, a candidatos negros, as ligações de candidatos como Sônia Guajajara (PSOL) ao próprio Banco Itaú, ou de Marcelo Freixo e Alessandro Molon ao banqueiro Armínio Fraga, já conhecido por financiar candidaturas (supostamente) esquerdistas.
A candidata da vez é Carmen Silva, uma velha conhecida do Partido da Causa Operária por sua série de ataques caluniosos em conjunto com a Revista Fórum, feitos em 2021, contra o partido.
O financiamento
Carmen reapareceu no cenário político nas eleições de 2022 para concorrer ao cargo de deputada estadual pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), em São Paulo. Ela logo foi identificada como mais uma peça da direita — como dito na matéria “A tara do itaú por um negão”, publicada recentemente neste Diário, o cineasta Walther Moreira Salles Júnior, ligado ao Banco Itaú, financiou uma série de candidatos negros nessas eleições e, entre eles, Carmen Silva, que recebeu uma doação de R$ 25.000,00 do cineasta. Outras figuras também receberam doações generosas, como Wesley Teixeira (outro membro do PSB, ex-PSOL), Orlando Silva (PCdoB) e Douglas Belchior (PT, ex-PSOL) ─ com este último o principal expoente do identitarismo no Brasil, sendo o criador da Coalizão Negra por Direitos, conjunto de associações pelo direito dos negros que são financiadas pelo imperialismo e possuem diversas políticas direitistas.
Walther Moreira Salles Júnior, apesar da profissão inofensiva, é filho de Walther Moreira Salles, ex-banqueiro do Itaú, ex-embaixador do Brasil em Washington no governo de Getúlio Vargas, ex-ministro da Fazenda do governo Jango e fundador da Unibanco, União de Bancos Brasileiros S.A. Na época do governo de Costa e Silva, em meados da ditadura militar, a Unibanco era o quinto maior grupo financeiro do país — a Unibanco se fundiu ao Banco Itaú em 2008, tornando-se o Itaú Unibanco e subindo ao pódio como maior conglomerado financeiro do hemisfério sul e um dos 20 mais caros do mundo.
Outro parentesco importante de Walther é seu irmão, Pedro Moreira Salles, nada mais, nada menos que presidente do conselho do Itaú Unibanco. O próprio Walther Júnior já foi um acionista do Itaú, na época em que entrou no ranking de bilionários da Revista Forbes e foi classificado como o diretor de cinema mais rico do mundo. Não por seu trabalho, mas por sua herança e ligações com o banco — um ponto importante é que Walther é sócio de todos os seus irmãos, Pedro, João e Fernando Moreira Salles. João é um cineasta e empresário, que também contribuiu com diversas candidaturas negras nestas eleições, e Fernando é empresário e acionista do Itaú. De acordo com o ranking da Revista Forbes, os irmãos Moreira Salles formam uma das famílias mais ricas do Brasil, além de cada um deles fazer parte do ranking de pessoas mais ricas do país.
Outro ponto que faz a família Moreira Salles estar neste patamar é o fato de que, em conjunto, eles detêm 70% da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que é a líder mundial na comercialização de produtos de nióbio, responsável por cerca de 80% do fornecimento do metal para o mundo. A empresa teve uma receita líquida de R$ 11,4 bilhões em 2021, quebrando recordes próprios e contrariando as tendências impostas pela pandemia.
Carmen Silva também foi fortunata de mais um grande doador: Augusto Arruda de Botelho Neto, advogado, que ingressou no PSB na mesma cerimônia que Carmen e Alckmin, pouco antes de este ser anunciado como vice de Lula. Ele é conselheiro da ONG Human Rights Watch, que recebe financiamento da Fundação Ford, e um dos fundadores do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), que recebe financiamento da Fundação Open Society — o advogado doou R$ 28.600,00 para Carmen.
Ainda de acordo com o sítio do TSE, Carmen Silva não prestou contas e, portanto, não é possível rastrear todos os seus generosos doadores — a própria doação de Walther Moreira Salles não se encontra em seu perfil de campanha dentro do sítio, e isso significa que o buraco pode ser muito mais embaixo.
É importante relembrar que o PSB recebeu uma série de políticos direitistas nos últimos meses, fazendo com que o partido crescesse e se transformasse cada vez mais em um antro reacionário. Entre as figuras que podemos citar, temos Geraldo Alckmin, Marcelo Freixo, Tábata Amaral e Flávio Dino — figuras (com exceção de Alckmin e Tábata) já tachadas de esquerdistas e advindas efetivamente de partidos de esquerda, mas que tiveram a mudança de partido como um dos passos finais para a direitização, assim como Carmen.
Os 15 minutos de fama
Em meados de julho de 2021, quando a esquerda pequeno-burguesa começou a flertar com a ideia de inserir a direita nas manifestações pelo Fora Bolsonaro, um certo dia uma ala supostamente de esquerda do PSDB compareceu a um dos atos convocados na época.
A oposição, encabeçada pelo Partido da Causa Operária, foi grande. É inaceitável que o partido de João Doria, o político mais odiado de São Paulo, que reprimiu manifestações e retirou direitos da população paulista, além de abertamente ter sido um apoiador de Bolsonaro, fosse aceito em uma manifestação como aquela. Esse fator gerou um atrito na manifestação entre esse bloco da direita e as pessoas da esquerda, sobretudo do PT e do PCO, que se opunham à decisão que, na prática, não havia sido aprovada por ninguém. A participação da direita, na época, foi altamente repudiada.
Poucos dias depois, a então autodeclarada líder do Movimento dos Sem-teto do Centro (MSTC), Carmem Silva, apareceu no canal da TV Fórum, de Renato Rovai, para acusar “o PCO” de agressão, fazendo acusações e tentando utilizar uma política identitária para indicar que, se ela é uma “mulher, negra e líder do movimento sem-teto”, então suas acusações, mesmo sem provas, deveriam ser aceitas, e, consequentemente, o PCO deveria ser culpado.
Carmen acusou “o PCO” de atacar o MSTC, espancar pessoas, bater em mulheres e roubar celulares — uma calúnia atrás da outra, as quais a própria Carmen desmentiu, involuntariamente, ao longo de suas declarações. O PCO não atacou o MSTC, espancou mulheres ou pessoas no geral. O que ocorreu foi que manifestantes da esquerda se defenderam da agressão do PSDB, e os “pacifistas” e defensores da direita nos atos ─ estavam servindo basicamente como seguranças do PSDB ─ entraram no meio do conflito para tentar “apaziguar a situação”, e isso foi falado pela própria Carmen durante as entrevistas.
Além disso, apesar de ter insistido no fato, é importante ressaltar que nunca nenhuma prova de roubo de celulares foi vista, assim como a acusação de que o “PCO roubou celulares” é indevida, pois o PCO é um partido, uma entidade jurídica, e não tem como roubar nada.
Com o tempo, todas essas acusações foram para o limbo, abandonadas por Carmen frente ao fracasso de suas calúnias. Nenhuma delas voltou à tona e o caso foi esquecido e, de certa forma, inclusive abafado por conta das calúnias absurdas, que mais queimaram a imagem de Carmem (e da Fórum, que acompanhou a líder do MSTC enfaticamente em todas as suas acusações, na sanha de defender a sabotagem dos atos Fora Bolsonaro pelo PSDB) do que ajudaram em alguma campanha contra o PCO.
Por fim, esse caso foi esquecido, mas Carmen conseguiu se destacar e atrair os olhos da direita. Logo, começou sua jornada cada vez mais rumo à direita, apenas retrocedendo no que diz ao direito da população brasileira. No final daquele ano, Carmem ganharia o Prêmio Ecoa 2021 do UOL (isto é, da Folha de S.Paulo), pelos seus supostos trabalhos como militante do MSTC. Já no início de 2022, mais especificamente em março, Carmen Silva completaria sua transição à direita, saindo do PT e entrando para o PSB em conjunto com Geraldo Alckmin.
No fim das contas, agora é possível ver com maior clareza a natureza dos ataques de Carmen Silva. Suas acusações sem sentido e caluniosas fazem parte de uma campanha dos banqueiros, da direita, contra o PCO e o movimento operário. Isso ocorre porque a política levada a cabo pelo partido é de caráter revolucionário, defendendo a candidatura de Lula para mobilizar os trabalhadores, além de denunciar os infiltrados da direita no movimento operário, desmascarando essas figuras até que elas mesmas se revelem, como foi o caso de Carmen Silva.