No Brasil, de cada dez mulheres, apenas três se considera feminista. No entanto, 48% da população é a favor da legalização do aborto.
Uma pesquisa realizada pela agência Ideia em março de 2022 com 1.269 pessoas, revelou que apenas 30% das mulheres se consideram feministas. Um dos motivos é que as mulheres associam o feminismo à radicalização, e apontam a “marcha das vadias” como exemplo de mulheres feministas que são agressivas, radicais e que odeiam homens.
Outra questão é que os movimentos feministas identitários dividem a luta das mulheres, desvinculando-a da luta de classes. Dessa forma, despolitizam as mulheres e prejudicam a compreensão de que várias conquistas das mulheres como, por exemplo, o direito a trabalhar, ao voto, licença maternidade etc., vieram das lutas coletivas das feministas.
Nesta pesquisa, 83% das mulheres são a favor da paridade salarial entre os sexos; 92% apontaram as questões relacionadas ao combate à violência contra as mulheres como importantes; 77% das mulheres apoiam maior participação das mulheres na política; e 70% votariam em uma mulher negra para presidente. No entanto, não querem ser vistas como feministas.
Na contramão, uma outra pesquisa aponta que 48% da população é a favor da legalização do aborto. O Instituto Ipsos realizou uma pesquisa no Brasil e em mais 26 países sobre essa questão. No Brasil, 20,4% das pessoas entrevistadas são favoráveis à legalização do aborto em qualquer caso; 27,4% são a favor na maioria dos casos; 28,8% acham que deve ser ilegal na maioria dos casos; 12,8% acham que deve ser totalmente ilegal e 16,6% não deram sua opinião ou não souberam o que falar. Em relação à legalização do aborto em casos de estupro, o Brasil fica perto da média mundial, que é de 76% a favor. E em relação à legalização total ou parcial, a média mundial é de 59%.
É interessante que os países desenvolvidos são os que mais são a favor da legalização do aborto, como a Suécia (86%), França (83%), Bélgica (78%), Reino Unido (74%) e Itália (73%). Já os países atrasados são os que têm maiores taxas de rejeição da legalização do aborto, como África (42%), Colômbia (40%), Malásia (32%) e Peru (31%). Algo decorrente, de maneira geral, do atraso econômico destes países.
Frente aos dados colocados, chama a atenção que mulheres que se colocam como não feministas apoiam uma pauta fundamental da luta das mulheres que é a legalização do aborto. Este fato vem da prática da vida das mulheres trabalhadoras que, seguramente na sua maioria, quando engravida, pondera se não seria preciso fazer um aborto, pois as condições para criar uma criança são profundamente difíceis no atual estágio de crise do imperialismo.
Isso mostra que as trabalhadoras não estão muito preocupadas com o identitarismo, mas com as questões concretas de suas vidas. As mulheres trabalhadoras estão preocupadas com ter trabalho e salário dignos para dar de comer aos filhos, em ter creches para poder trabalhar e ter onde deixar as crianças, saúde e escola pública de qualidade para elas e seus filhos. As mulheres querem poder andar nas ruas e dentro de casa sem serem agredidas, querem segurança para seus filhos e isso é obrigação do Estado, e não do “empoderamento”, política absolutamente inócua defendida pela ideologia identitária.