Nesta quarta-feira (16), foi ao ar a segunda aula do mais novo curso da Universidade Marxista: Brasil, 500 anos de história. Ministrado pelo companheiro Rui Costa Pimenta, Presidente Nacional do Partido da Causa Operária, o curso acontecerá durante todo o ano, sendo dividido em 4 módulos relativos aos períodos históricos mais importantes do Brasil.
Na segunda exposição, o companheiro Rui explicou sobre o método marxista, o materialismo histórico. Nesse sentido, apresentou uma introdução à análise que será feita durante o curso para, finalmente, atingirmos uma interpretação marxista da história do Brasil.
O desenvolvimento intelectual no Brasil
Em uma breve retrospectiva da primeira aula do curso, disponível gratuitamente pelo canal da Causa Operária TV, o companheiro Rui explicou o motivo pelo qual uma análise verdadeiramente marxista sobre o passado nunca foi feita antes.
“O Brasil não teve a oportunidade de ter uma concepção marxista da história do país. Isso é algo que está diretamente relacionado com a evolução política do movimento operário brasileiro”.
Nisso, Pimenta compara o movimento operário brasileiro com o movimento operário russo:
“O movimento operário russo fez uma série de tentativas de interpretar a realidade nacional […] Depois de quase um século de debates, o movimento revolucionário russo chegou a uma compreensão da realidade nacional e, consequentemente, a um programa político revolucionário, baseado em uma concepção científica da sociedade.”
Entretanto, qual é o motivo por trás dessa diferença gritante entre o desenvolvimento intelectual dos dois países? Na aula, Rui citou alguns exemplos que explicam o porquê. Dentre eles, o fato de a Rússia ser um país muito mais antigo do que o Brasil. Ademais, está localizado na Europa, ou seja, sofre a influência dos acontecimentos sociais, políticos e econômicos dos países europeus que, de maneira objetiva, são muito mais desenvolvidos do que a Rússia.
No Brasil, a situação era diferente. Finalmente, o Brasil foi colônia durante um período de 300 anos, até se formar como uma nação. Nesse tempo, assimilou, em determinada medida, a cultura portuguesa que, apesar de europeia, não é tão desenvolvida quanto dos demais países europeus. Ou seja, aqui, não se formou um setor intelectual revolucionário expressivo, algo que só foi ocorrer efetivamente na época do início da República e, de maneira absoluta, após a industrialização do País, explica o companheiro Rui.
Depois disso, o movimento operário foi dominado pelo nacionalismo burguês sob a direção de Vargas, no PTB. Além disso, a essa altura do campeonato, o PCB já estava inteiramente tomado pelo stalinismo.
Por todos esses motivos, não houve uma análise marxista da história nacional. As condições materiais não favoreceram o surgimento de uma análise sistemática verdadeiramente científica baseada no materialismo histórico. Com isso, cabe a explicação de por que o atual curso oferecido pela Universidade Marxista será diferente.
A questão do método: o materialismo histórico
Rui nos explicou que, diferentemente do que a maior parte da intelectualidade brasileira pensa, o materialismo histórico não é um dogma:
“A maioria das pessoas pensa que o materialismo histórico é uma pequena fórmula para você conhecer a sociedade […] Se entendermos a luta de classes como a luta do mais forte contra o mais fraco, o materialismo histórico é reduzido a esse tipo de coisa”, explicou Rui.
O método marxista não se resume simplesmente a encontrar algum lugar em que exista uma luta de classes. Por si só, isso já representa uma simplificação violenta do caráter classista da sociedade e, nesse sentido, do aspecto classista do materialismo histórico.
Para tal, Rui trouxe uma citação de Hegel, que afirma que qualquer coisa, qualquer filosofia, pode ser resumida a um formalismo vazio se a pessoa que faz essa filosofia se limitar à reprodução dos chamados princípios fundamentais. Nesse sentido, Rui alerta, colocando que é preciso fugir do problema de repetir fórmulas vazias. Para tal, precisamos estar familiarizados com a aplicação prática do método marxista. Afinal, os principais autores marxistas foram aquele que aplicaram o método de análise materialista na prática, em determinada situação histórica.
O materialismo histórico a partir de Karl Marx
Em uma explicação magistral, o Rui Pimenta apresentou, de maneira simplificada, quais são os fundamentos da teoria econômica de Marx.
De forma resumida, o ser humano surge da natureza como um animal qualquer que teve um desenvolvimento específico. Num dado momento, por uma série de circunstâncias, o ser humano é obrigado a agir e modificar a natureza à sua volta simplesmente para continuar existindo, para sobreviver. Ao mesmo tempo, na medida em que o homem modifica o ambiente em que ele vive, ele modifica a si mesmo.
Um exemplo claro disso se dá no desenvolvimento primitivo do ser humano. Após o homem construir os primeiros instrumentos de trabalho (modificar a natureza), ele modificou completamente a humanidade, tanto fisicamente, num sentido da postura e da destreza, como também culturalmente. Afinal, agora, ele se dedica a usar as mãos como instrumento para atingir os seus fins.
“O ser humano produz a sua própria existência e desenvolve métodos e formas para essa produção […] O desenvolvimento das forças produtivas vai caracterizar toda a história da humanidade. A falta de compreensão desse princípio resulta em uma concepção religiosa da sociedade, dos bons contra os maus”.
Exemplo claro disso é a atual crise na Europa. O conflito entre a Rússia e a Ucrânia é um conflito entre as forças produtivas que buscam se desenvolver, a Rússia, contra um enorme entrave a esse desenvolvimento, o imperialismo. Quando isso acontece, existe uma rebelião das forças produtivas oprimidas que, nesse caso, são representadas pela burguesia nacionalista, que se volta contra o sistema que impõe o entrave a esse desenvolvimento das forças produtivas, mais uma vez, o imperialismo.
“Na luta pela sobrevivência, as pessoas se chocam com o regime político e econômico vigente […] Isso só acaba quando o nível do desenvolvimento das forças produtivas faz com que as pessoas não precisem mais lutar pela sua sobrevivência”, diz Rui.
Dentro de todo esse panorama, deve ficar claro, mostra Rui, que nem todo movimento progressista é, necessariamente, um movimento em prol de todos os povos oprimidos de determinada sociedade. A vitória do capitalismo sobre o feudalismo, à título de exemplo, foi progressista, mesmo que não tenha sido em nome de todos os oprimidos.
É imprescindível, portanto, seguir firmemente o método marxista de análise. Caso contrário, entram em cena concepções extremamente confusas que, no final, golpeiam a luta dos trabalhadores.
Em resumo, Rui explica claramente que:
“Na análise histórica, devemos ter em mente quais são as classes progressistas, que representam o avanço das forças produtivas, e quais as classes reacionárias, que representam esse entrave. A classe operária é uma classe revolucionária não só porque é oprimida, mas porque ela representa o progresso.”
Ainda dá tempo, inscreva-se agora mesmo!
As inscrições para o curso Brasil, 500 anos de história ainda estão abertas. Ou seja, não perca mais nenhuma aula e acesse agora mesmo o site da universidade marxista por meio deste link.
Além disso, a primeira aula do curso está disponível gratuitamente pelo canal no YouTube Causa Operária TV (COTV). Confira, abaixo, o vídeo na íntegra e descubra o que lhe aguarda: