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Genocídio no Donbass

PCO participa de entrevista na TV russa; leia na íntegra

Equipe da Causa Operária na Rússia fala para rede de comunicação com público de 40 milhões de russos

─ Rafael Dantas e Eduardo Vasco, de Rostov do Don

No último sábado (23), os enviados especiais da Causa Operária à Rússia, Rafael Dantas e Eduardo Vasco, participaram de um programa do canal Don 24. A emissora é a principal do Oblast de Rostov e atende a um público de 40 milhões de espectadores, tanto do Oblast como de outras regiões da Rússia e do Donbass, e tem uma rede de comunicação que contempla TV, rádio FM, jornal impresso, portal na Internet, agência de notícias, produtora e agência de publicidade.

A entrevista, que contou também com uma refugiada da República Popular de Lugansk, Ludmila Korsakova, teve como tema central a luta contra o fascismo e será veiculada no canal Don 24 no próximo final de semana. A Causa Operária TV também irá veicular a entrevista, legendada em português, ainda esta semana.

Vsevolod Gimbut: Gostaríamos de agradecer a vocês por estarem aqui. O tema de nossa conversa é fascismo e antifascismo. Primeiramente vamos dar a palavra a Ludmila, que veio de Lugansk para a Rússia.

Ludmila Korsakova: Olá. Sim, em Lugansk eu fui deputada do conselho regional e lutei contra o fascismo e a OTAN. Também promovi o idioma russo. Porém, tive de fugir de lá porque o regime ucraniano começou a prender quem fizesse esse tipo de trabalho. Levei meus filhos e netos comigo, com a ajuda dos cossacos russos.

Eduardo Vasco: Isso foi em 2014?

Ludmila Korsakova: Sim, no início de 2014. Mas isso não me impediu de seguir lutando pelas minhas ideias aqui na Rússia e reuni outros refugiados que querem lutar contra o fascismo.

Eduardo Vasco: Você participou da fundação da República Popular de Lugansk?

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Ludmila Korsakova: Sim, porque a ideia de criar uma república independente apareceu pela primeira vez na assembleia regional de Slaviansk. Naquele momento Donetsk e Lugansk ainda eram regiões dentro da Ucrânia. Nessa assembleia participaram 47 representantes de diferentes partidos e organizações, como partidos de esquerda, partidos comunistas e organizações antifascistas e pró-russas. E eu organizei aquela assembleia. Ainda naquele ano de 2014, nós pedimos a organizações internacionais que ajudassem a parar a agressão da Ucrânia contra o Donbass, mas elas nos ignoraram. Neste ano de 2022 vamos celebrar a sétima assembleia popular e convidamos vocês a participar. E desde que criamos a nossa organização, temos pedido a organizações da Europa e do mundo todo para nos ajudar, mas não nos respondem. Também enviamos documentos oficiais assinados por nós e por pessoas de mais de 40 países e sabemos que até mesmo a OTAN recebeu esses documentos, mas todas as nossas petições foram ignoradas. Há 8 anos a Europa segue escondendo o que está ocorrendo no Donbass. Durante todo esse tempo o Donbass segue dizendo que quer falar russo e que quer ter boas relações com a Rússia, e a Europa não está nem aí para a carnificina que está sendo promovida pela Ucrânia no Donbass. Eles preferem uma Ucrânia nazista do que um Donbass pró-Rússia.

Eduardo Vasco: Entrevistamos o secretário de Economia de Rostov do Don e ele nos disse que a Cruz Vermelha e a ONU não estão fazendo absolutamente nada para ajudar os refugiados do Donbass. O que você acha disso?

Ludmila Korsakova: Isso é verdade. As organizações internacionais atuam somente do lado ucraniano. Por exemplo, quando essas organizações sabem que os militares da Ucrânia irão atacar alguma cidade, elas não fazem nada para alertar e ajudar a população e a abandona à própria sorte.

Vsevolod Gimbut: O que se sabe no Brasil sobre essa situação?

Rafael Dantas: No Brasil os meios de comunicação estão alinhados com a imprensa dos EUA, da OTAN e da União Europeia. Dizem que a Rússia se converteu em inimiga de todos e da democracia. Não se fala nada dos crimes dos fascistas.

Vsevolod Gimbut: Por quê?

Rafael Dantas: Porque em primeiro lugar há uma grande dependência política e econômica dos órgãos de imprensa, do regime, do governo, em relação ao imperialismo norte-americano. Além de um alinhamento ideológico, que diz que a democracia é uma coisa acima de tudo, embora a “democracia” seja um regime fascista.

Eduardo Vasco: No Brasil também há uma grande concentração dos meios de comunicação, que são quase totalmente controlados por umas poucas famílias burguesas. Portanto, há um monopólio dos meios de comunicação e uma só linha de pensamento e informação, que faz com que somente a opinião dos ricos, dos grandes capitalistas, dos fascistas e do governo dos EUA seja transmitida para o público.

Ludmila Korsakova: Desde 1946 os EUA mantêm a Escola das Américas, que forneceu as ferramentas para as ditaduras fascistas de Pinochet no Chile, de Somoza na Nicarágua, por exemplo. Ela treinou os militares que depois assumiram o poder nesses países.

Eduardo Vasco: Sim, a Escola das Américas treinou os militares que participaram das ditaduras do Brasil, do Chile, da Argentina, dos países da América Latina. É uma escola do Exército dos EUA para treinar torturadores e todo o aparato de regimes fascistas títeres dos EUA no nosso continente.

Ludmila Korsakova: Manuel Noriega, Omar Torrijos, Rodríguez Lara. Esses são alguns dos ditadores que passaram pela Escola das Américas. A propaganda diz que ela serve para trazer segurança ao continente mas não é verdade. Vemos o mesmo agora na Ucrânia. Os EUA provocam um golpe de Estado em determinado país, depois promovem o seu candidato para liderar esse país. Já em 2004 os EUA tentaram dar um golpe de Estado assim na Ucrânia, organizando a Revolução Laranja, depois promovendo um candidato chamado Viktor Yushenko. Era público que sua esposa tinha relações com os EUA. Como assim? A esposa do presidente de um país trabalhar para outro país? Porém, os EUA não conseguiram concretizar esse plano naquela oportunidade. Eu, como deputada do Conselho Regional de Lugansk, vi como se desenvolveu a intervenção dos EUA nos últimos 10 anos. Em Lugansk, por exemplo, os EUA promoveram políticas antirrussas, como o cancelamento do idioma. Por exemplo, uma vez nós propusemos no Conselho Regional um programa de financiamento da promoção do idioma russo, e os EUA deram ─ acreditem ─ 86 centavos de contribuição. Ao mesmo tempo, para propagar ideias da OTAN na imprensa, os EUA contribuíram com 2 mil grívnias (moeda ucraniana) por pessoa.

Eduardo Vasco: Vemos algumas semelhanças entre o golpe na Ucrânia com o golpe no Brasil em 2016. Nesse golpe participaram muitos políticos importantes que têm relações estreitas com os EUA. Por exemplo, o presidente que assumiu após a derrubada de Dilma Rousseff, Michel Temer, foi informante da embaixada dos EUA. O atual presidente, Jair Bolsonaro, presta continência à bandeira dos EUA e a funcionários norte-americanos, é um fantoche dos EUA. O principal partido da direita brasileira, o PSDB, tinha entre seus candidatos o governador do Rio Grande do Sul que foi aos EUA receber instruções dos empresários norte-americanos, e também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem uma fundação que é financiada pela Fundação Ford. Então a política brasileira está quase totalmente dominada pelos aparatos de propaganda, de informação, econômicos e militares dos EUA. Outro ex-candidato à presidência do Brasil, o ex-juiz Sergio Moro, foi treinado nos EUA para concretizar o golpe de 2016 como juiz da Operação Lava Jato, que levou à queda de Dilma Rousseff e à prisão do ex-presidente Lula. Foi uma operação promovida pelo governo dos EUA através de seus funcionários no Brasil.

Vsevolod Gimbut: Nos últimos anos vimos como atua a política dos EUA. Sendo russos, já conseguimos entender um pouco como funciona esse domínio no Brasil, mas o que o povo comum pensa a respeito do que está acontecendo na Ucrânia? As pessoas entendem os motivos pelos quais a Rússia está promovendo a desnazificação da Ucrânia?

Rafael Dantas: Eu creio que não. A operação de desnazificação da Ucrânia é apresentada pela imprensa como uma guerra de conquista da Rússia. Os nazistas ucranianos são apresentados como “nacionalistas”, como defensores de sua pátria, como se não estivessem assassinando crianças e invadindo as casas das pessoas.

Vsevolod Gimbut: Mas ao mesmo tempo o fato de vocês dois estarem aqui não reflete uma opinião diferente sobre os acontecimentos, por uma parcela da sociedade?

Rafael Dantas: Sim, claro. Mas a maioria da população acredita no que dizem os meios de comunicação, controlados pelas classes dominantes. Entretanto, existe uma parcela cada vez maior da população que está começando a compreender a realidade. Nós estamos aqui para ajudar nessa compreensão.

Ludmila Korsakova: Certa vez eu participei de um encontro antifascista na Venezuela, organizado pelo presidente Nicolás Maduro. Nesse encontro, me perguntaram o que eu entendo como fascismo. Hoje em dia há muitas interpretações sobre o que seria o fascismo. Mas para mim a melhor é a do ex-líder búlgaro Jorge Dimitrov, que disse que o fascismo é quando uma nação destrói outra nação. Pensamos então na história dos EUA: mais de 240 anos destruindo outras nações, começando pelos índios na América do Sul, milhões de pessoas na África, ou por 20 anos no Vietnã, Laos e Camboja.

Vsevolod Gimbut: Na época da Segunda Guerra Mundial, muitos membros do regime norte-americano não apenas apoiavam a Alemanha nazista, mas também a financiavam, como foi o caso de Henry Ford.

Ludmila Korsakova: Logo, os EUA participaram do financiamento do nazismo na Alemanha. E a Alemanha era uma nação que se considerava ariana e que estava dizimando os eslavos. Quando me perguntaram na Venezuela o que é o fascismo, eu disse que o fascismo nasceu no mesmo momento em que se fundou os EUA. Os governos que apoiam os EUA estão, de alguma maneira, apoiando e financiando o fascismo. O nazismo ucraniano existe porque alguns governos apoiam o fascismo norte-americano. Logo, as origens do fascismo ucraniano estão nos EUA. A Europa e todo o “Ocidente”, apoiando o que fazem os EUA, estão portanto apoiando o fascismo. O fascismo promove o ódio entre as pessoas. No século XXI, muita gente pelo mundo já não acredita no que a imprensa fala sobre o Donbass, mas na Europa ainda há muitas pessoas que não querem ver que os nazistas ucranianos estão cometendo atrocidades.

Eduardo Vasco: Acreditamos que há muitos governos no mundo que estão ajoelhados diante do governo dos EUA, mas os povos do mundo começam a se levantar contra o imperialismo. No Brasil, por exemplo, muita gente assiste a RT, Telesur, lê a Sputnik News, embora não haja um canal russo em português, mas as pessoas assistem em espanhol. E nas redes sociais acompanham veículos alternativos, da Rússia, da Venezuela, de Cuba, ou então os veículos do nosso partido, nosso jornal, nosso canal de TV. E muitas pessoas nas redes sociais ou mesmo nas manifestações de rua prestam um apoio à Rússia e mostram indignação contra o que os EUA fazem no Brasil e no mundo inteiro.

Ludmila Korsakova: A Europa assinou uma série de documentos contra os maus-tratos a prisioneiros de guerra, mas os rasga para ocultar o que está sendo feito no Donbass. Precisamos informar a verdade para os europeus. A Europa é tão pequena em comparação com o Brasil ou com a América Latina unida, com a China, etc. Se somarmos os outros países do mundo, e utilizarmos o trabalho de seus jornalistas para mostrar a verdade, então isso poderá derrotar toda a desinformação promovida pelos jornais europeus em 24h.

Vsevolod Gimbut: Por exemplo, quando os jornalistas europeus falam sobre o Batalhão Azov nas redes sociais, os tratam como defensores de sua pátria. Eu, como jornalista, não posso tratá-los como se fossem meus colegas. Outro exemplo: quando há alguma denúncia sobre os laboratórios biológicos na Ucrânia em um discurso oficial, os meios de comunicação censuram essa parte do discurso. Os jornalistas não questionam as contradições nos discursos de Joe Biden, por exemplo, que ora diz que Putin é um genocida, ora diz que ele não é de nada. Se há alguém que está provocando um genocídio na Ucrânia, são os EUA e os países que os apoiam. E, como dissemos antes, este não é o primeiro caso na história.

Ludmila Korsakova: Por que os EUA dizem que trata-se de uma guerra “até o último ucraniano”? Os EUA promoveram uma guerra contra a Rússia no território da Ucrânia, e para eles não importa nem a Ucrânia como país e nem mesmo os ucranianos. Isso já dura oito anos. Por isso iniciar a operação militar russa foi uma necessidade nossa, porque agora vemos que estão bombardeando regiões fronteiriças e cidades russas como Belgorod. Organizações como Batalhão Azov, Batalhão Aidar, Pravy Sektor etc são produto dos EUA que estão na Ucrânia para aterrorizar e manipular os ucranianos. Nas redes sociais só se fala que a Rússia é o agressor, mas isso não é verdade. Nosso objetivo principal é esclarecer e mostrar a verdade.

Eduardo Vasco: Você falou do Batalhão Azov. Os grandes meios de comunicação do Brasil dizem que pode ser que haja alguns nazistas no Batalhão Azov, mas não é assim como dizem os russos. Nós não consideramos esses “jornalistas” como colegas. São propagandistas do imperialismo, são mercenários da manipulação.

Ludmila Korsakova: A principal guerra neste momento não é a guerra no Donbass, mas sim a guerra informativa. Nesta guerra, triunfarão os jornalistas que dizem a verdade. Como disse Ernesto Che Guevara: até a vitória, sempre!

Eduardo Vasco: Na nossa opinião, a Rússia não está apenas se defendendo, mas também libertando a Ucrânia e todo o leste europeu do imperialismo. Por isso estamos do lado dos russos.

Vsevolod Gimbut: Não é por acaso que o presidente Vladimir Putin chamou o que está ocorrendo na Ucrânia de uma operação militar. A Rússia não começou nenhuma guerra. O que ela está fazendo é encerrar com uma guerra que já dura oito anos, encerrar com o genocídio na Ucrânia. E vamos conseguir. Estamos seguros de que, quando tudo isso acabar, o mundo todo saberá a verdade. Muito obrigado a vocês.

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