Em mais um episódio da série de entrevistas relativas às eleições de 2022, o Diário Causa Operária entrevistou Lourdes Francisco da Costa, candidata ao Governo de Minas Gerais pelo Partido da Causa Operária (PCO). Professora, geraizeira e ex-militante do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragem), Lourdes integra o Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo do PCO e participa dos Comitês de Luta, na defesa de Lula presidente, por um governo dos trabalhadores.
Confira a entrevista a seguir:
Diário Causa Operária: Pode começar contando um pouco sobre você? Sua história pessoal e sua história na política, na militância.
Lourdes Francisco: eu sou uma militante – posso dizer – nata. Com a escola, onde eu sempre trabalhei, eu sempre levantei essa questão da participação política, da informação e da formação política dos alunos. Quando me aproximei do movimento social, que é o MAB [Movimento dos Atingidos por Barragens], eu intensifiquei essa luta. Fizemos ocupações, acampamentos, lutas dentro de capitais como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo e em outras cidades que conseguimos chegar.
Minha participação política parte, talvez, das dificuldades que vemos a classe trabalhadora enfrentar. Desde sempre, como trabalhadora, eu pensei que esse sistema em que nós vivemos nos explora e não nos dá saída alguma para a nossa sobrevivência e para o nosso próprio desenvolvimento.
Hoje em dia, dentro do PCO, fazemos uma política de partido, do Partido da Causa Operária, e buscamos sempre alertar o trabalhador, chamar o trabalhador para a luta e mostrar ao trabalhador a condição de exploração em que ele vive. Além disso, neste momento, estamos fazendo a luta para desmascarar e acabar com o golpe de estado que ocorreu em 2016 e resultou, em 2018, na prisão de Lula Até hoje, estamos nessa mesma campanha para desmascarar os golpistas e fazer com que o trabalhador volte a confiar mais na sua própria força de mudar o País.
O governo Lula pode dar a oportunidade, mesmo que pequena, para que o trabalhador se organize de novo, é isso que nós queremos. Finalmente, o programa do PCO é todo voltado à classe trabalhadora.
DCO: Você já foi do MAB, certo? O que você pode nos falar sobre a sua atuação nesse movimento, principalmente em relação ao que aconteceu em Brumadinho?
LF: os acidentes que aconteceram, que eles chamam de acidente, na verdade não foram acidentes, foram crimes. O MAB atua nessas regiões fazendo uma campanha política, lutando, inclusive, pela estatização dessas empresas como a Vale. Essas empresas que foram privatizadas agem precarizando a vida do trabalhador, sem uma preocupação com as questões ambientais e com o próprio perigo de vida que as pessoas enfrentam quando estão perto de uma barragem.
Para Brumadinho, em específico, o MAB atuou em várias assembleias, levando pessoas para se manifestarem e cobrando ações da justiça mineira. Fizemos a paralisação de rodovias como a BR 251, no norte de Minas, assim como acampamentos em Belo Horizonte, na Praça da Liberdade e na Assembleia Legislativa.
O MAB sempre orienta e faz a formação política das pessoas, inclusive das pessoas atingidas que não sabem onde buscar os seus direitos. É um espaço onde as pessoas atingidas e as não atingidas que estão, também, à mercê de uma barragem, ou de um projeto neoliberal, são orientadas e incentivadas a procurar os seus direitos.
DCO: ficou claro que todos esses “desastres” foram ocasionados, em grande medida, pela política de privatização das empresas públicas brasileiras. Qual a política do PCO acerca desse ponto?
LF: a política do PCO em relação a essas empresas que causam crimes ambientais, é que elas sejam estatizadas, principalmente a Vale do Rio Doce. A estatização delas levaria a uma condição melhor para o trabalhador e uma preocupação, também, com as populações que são afetadas com a mineração desenfreada dessas empresas privatizadas.
São empresas, muitas vezes, internacionais, ou seja, não estão preocupadas com o bem-estar de ninguém, tampouco com a saúde da população. Sabemos que são geradoras de prejuízos e de crimes, pois não existe uma legislação para conter essas empresas e, quando elas são terceirizadas, e passam para a mão da iniciativa privada, nenhum governo, nem municipal, estadual ou federal, consegue resolver a situação.
DCO: em Minas, a esquerda saiu bem dividida, com candidaturas da UP, PSTU, PCB e PSOL. Entretanto, vemos que o PT, assim como fez em outros lugares, abandonou sua candidatura própria. Qual o papel da sua candidatura dentro de tudo isso?
LF: o papel da minha candidatura no PCO se dá dentro do programa do PCO. O Partido se preocupa com suas candidaturas para que, durante as eleições, consigamos propagar o programa do PCO, que é combater o golpe de Estado em marcha no País. Queremos que as pessoas saibam o que aconteceu em 2016, o porquê daquele golpe na Dilma Rousseff. Nos preocupamos, também, com a prisão de Lula, que foi outro golpe, e fazemos essa denúncia sempre.
Nós, como candidatos do PCO, temos a obrigação de desmascarar os golpistas e tentar fazer uma política com mais clareza, incentivando o trabalhador a ser protagonista dessa luta pela virada na situação do golpe no Brasil.
DCO: e sobre sua participação no Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo. Pode nos falar alguns pontos do programa de vocês?
LF: nosso programa para as mulheres está muito voltado aos direitos da mulher, à liberdade da mulher, para que ela possa ter uma evolução mais saudável dentro desse sistema. Uma das nossas lutas é pela legalização do aborto. É uma questão muito séria, não é como as pessoas que nos atacam dizem, que fazemos uma política de morte. É para que a mulher não seja criminalizada quando faz o aborto. Finalmente, ela tem direito sobre o corpo dela, ela pode decidir por si própria, principalmente em relação às mulheres pobres.
Para isso, é preciso ter uma política de saúde pública, com a qual as mulheres possam ser atendidas com humanidade no caso de um aborto, ou de outras questões relacionadas à mulher. A mulher precisa de políticas públicas de saúde para sobreviver a todos os ataques que o sistema capitalista desfere contra ela.
A questão da mulher, também, dentro do programa do Coletivo Rosa Luxemburgo, se dá no sentido de uma evolução da mulher rumo à revolução. No fim, nós estamos nos preparando para a revolução.