As eleições de 2022 prometem ser uma das eleições mais antidemocráticas de toda a história do Brasil. A burocracia levantada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em conjunto com a ditadura cada vez mais violenta do Supremo Tribunal Federal (STF), tem produzido uma série de arbitrariedades jurídicas que, na prática, representam uma grave interferência no processo eleitoral do País.
Dentro de todo esse panorama, o Partido da Causa Operária (PCO) realiza uma campanha eleitoral que, assim como durante toda a sua história, terá como centro a mobilização popular. Finalmente, usar-se-á o presente momento para, ao lado da classe operária, divulgar a política revolucionária do Partido.
Nesse sentido, buscando impulsionar candidaturas revolucionárias, o Diário Causa Operária está realizando uma série de reportagens com entrevistas exclusivas dos pré-candidatos do Partido dos quatro cantos do Brasil. Agora, confira entrevista com o professor Antônio Carlos, pré-candidato ao Senado pelo PCO em São Paulo.
Diário Causa Operária: Antes de mais nada, nos fale um pouco sobre você.
Antônio Carlos: Me chamo Antônio Carlos Silva, sou professor de Matemática, tenho 59 anos e sou natural de Petrópolis/RJ. Há mais de 30 anos, trabalho e vivo em São Paulo. Milito no movimento operário e na construção do partido revolucionário há mais de 40 anos.
DCO: E como você iniciou a sua vida na militância?
AC: Venho de uma família operária, iniciei minha militância nas Comunidades de Base da Igreja Católica e, então, participei da fundação do PT e da CUT na década de 80 como militante da corrente petista Causa Operária.
DCO: Após a expulsão da corrente do PT, como você atuou na Causa Operária?
AC: Com a expulsão da Causa do PT, por se opor à política de frente popular, de coligação com a burguesia, eu participei da fundação do PCO (1995) e, desde então, faço parte de sua Executiva Nacional. Nesse meio tempo, participei da fundação do Coletivo de Negros João Cândido no final da década de 90. Nos últimos anos, participei da fundação e da coordenação dos Comitês de Luta contra o golpe de 2016. Além disso, integro a coordenação da corrente Educadores em Luta, de oposição à burocracia sindical na APEOESP, e sou Secretário Sindical Nacional do PCO, coordenando a Corrente Sindical Nacional Causa Operária, da Central Única de Trabalhadores (CUT).
DCO: Voltando agora à época da fundação do PCO. Como você via o movimento operário em relação a sua situação atual?
AC: Iniciei minha militância política no período do maior ascenso da história do movimento operário do País. Era um período de muita efervescência política, em que milhares de jovens como eu se lançaram na atividade política em meio à crise final da ditadura, provocada pela intervenção na cena política da classe operária com suas combativas greves e mobilizações. Foi um período que teve, dentre outros resultados políticos e organizativos fundamentais para a classe trabalhadora, a fundação do PT, da CUT e o surgimento do embrião do que viria a ser o Partido da Causa Operária. Naquele momento, tratava-se de uma pequena organização, uma tendência, que trabalhou pela fundação do PT e lutou para que o partido fosse operário, revolucionário e de massas.
Diante do avanço da crise, pelas derrotas dos anos posteriores e pela política de conciliação das direções políticas e sindicais, o movimento foi levado a uma situação de refluxo. Mas, é possível ver uma importante evolução e uma tendência de luta em curso. Novamente, temos uma perda da autoridade política do imperialismo, uma violenta crise e divisão da burguesia. Há ainda muita confusão política a dispersão na esquerda, mas há sinais claros de uma importante evolução que se expressa no amplo apoio à candidatura de Lula na classe operária e na evolução política do PCO. Temos pela frente um período de grandes lutas em que se coloca a possibilidade de superar a política dos setores conciliadores e capitulares da esquerda.
DCO: E a figura de Lula? A campanha por Lula presidente mudou desde a primeira vez que ele concorreu?
AC: Houve diferentes etapas em relação à presença do Lula no cenário político, principalmente como candidato majoritário no movimento operário. Mas, de maneira significativa, nos primeiros momentos, na eleição de 89, por exemplo; ele foi o candidato que expressava a luta contra os resquícios do regime da ditadura militar, contra a burguesia e em defesa das reivindicações dos trabalhadores. Foi uma expressão das lutas da década de 80: da luta contra a ditadura militar e pelas reivindicações populares que levaram à criação da CUT e do PT. Foi uma expressão muito positiva, muito combativa. Por isso, a campanha do Lula tinha um caráter de massas, de mobilização.
Em vários outros momentos, a candidatura do Lula também expressou, ainda que em menor potencial de mobilização por conta da política das direções sindicais e da esquerda, essa tendência de mobilização contra a política neoliberal na eleição de 94 e de 98, representada aí pela famigerada era FHC e, no meio disso, o movimento que levou à derrubada do governo Collor.
Em algum momento, em determinada etapa, principalmente nas eleições de 2002, a candidatura do PT acabou sendo apresentada como o resultado de uma busca de uma aliança com a burguesia em meio a um desmoronamento do regime da classe dominante, com a revolta popular contra as consequências desastrosas da era FHC em termos de fome, privatizações, desemprego e destruição da economia nacional.
Hoje, novamente, vemos que a candidatura do Lula expressa para a população a tendência de luta contra o golpe, de mobilização dos trabalhadores no momento de enorme retrocesso imposto pelo golpe de estado. Há um esforço de setores da burguesia de se apoderarem dessa campanha, mas a candidatura do Lula é, novamente, a expressão da luta dos trabalhadores contra o regime golpista, contra as consequências de toda essa ofensiva e expressa uma tendência de luta, de mudança. É a única candidatura que unifica as principais organizações dos trabalhadores, que aponta uma possibilidade de uma tendência de mobilização, de luta pela derrota desse regime político golpista, e que abre uma perspectiva no sentido da luta por um governo dos trabalhadores.
DCO: Sobre as eleições deste ano, como vai ser a campanha eleitoral do Partido?
AC: O PCO usa as eleições como mais uma tribuna para defender as reivindicações dos trabalhadores e impulsionar a sua luta, a sua organização independente em defesa de suas reivindicações imediatas, mais sentidas, como a luta pela defesa do emprego e do salário. Também usa em função de um programa político, de uma perspectiva política independente da burguesia como é o caso da candidatura do Lula, por um governo dos trabalhadores sem patrões e sem golpistas.
Nesse sentido, nós vamos procurar fazer das eleições, mais uma vez, esse espaço para intensificar o trabalho político que a gente leva adiante cotidianamente de organização do partido revolucionário, de organização independente dos trabalhadores e da juventude. A campanha vai ser uma campanha de mobilização com destaque a esses problemas políticos que dizem respeito à situação de vida dos trabalhadores, mas também em defesa dos direitos democráticos de todo o povo brasileiro profundamente ameaçados pela intensificação de um regime de características ditatoriais no País que vem caçando todos os direitos democráticos da população, inclusive o direito à liberdade de se expressar, de se organizar, de ter presença política. Ataques esses que têm como primeiro alvo justamente a classe trabalhadora, que é a primeira vítima dessas ofensivas da direita.
Então, ao lado das reivindicações populares dos trabalhadores, em defesa das reivindicações de todos os setores explorados e da defesa marcadamente das reivindicações dos trabalhadores da cidade e do campo, nós vamos levantar uma plataforma de luta em defesa das reivindicações democráticas e por uma mudança profunda no regime político. Seja a luta, por exemplo, pela extinção do Supremo Tribunal Federal [STF],a luta pelo fim do Senado, por uma reforma política ampla, por uma assembleia nacional constituinte que seja resultado da mobilização dos trabalhadores e por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo.
DCO: E qual é o objetivo do Partido em lançar candidaturas? O PCO não é contra o Estado burguês?
AC: As candidaturas do PCO não visam semear ilusões de que as transformações que a classe trabalhadora precisa vão advir do voto e da participação simplesmente no processo eleitoral. Ainda mais em eleições como a do Brasil, que são um jogo de cartas marcadas sobre o controle de aparatos e instituições golpistas.
O nosso objetivo é lançar candidaturas de trabalhadores, de militantes socialistas, defensores das reivindicações populares dos mais diversos setores explorados para reforçar justamente a necessidade da organização e da mobilização independente da classe trabalhadora para levar abaixo o regime político de dominação da burguesia. Vamos mostrar claramente que é necessário construir uma nova forma de organização política e social que só pode ser o resultado da luta contra a dominação capitalista, para colocar abaixo o Estado burguês e erguer, como resultado de um processo revolucionário, o governo dos trabalhadores, um governo verdadeiramente democrático que represente os interesses da maioria da população.
Vamos fazer da eleições uma tribuna em defesa das reivindicações populares e da própria organização independente dos trabalhadores principalmente em um partido operário revolucionário que unifique essa luta sobre a base de um programa revolucionário e alavanque a luta do conjunto da classe trabalhadora contra a dominação capitalista.
DCO: Você está concorrendo ao Senado, certo? Qual o papel da sua candidatura pelo PCO em São Paulo?
AC: De um ponto de vista geral, minha pré-candidatura, como de todas as candidaturas do PCO, não tem um propósito pessoal, particular. Faz parte da defesa do conjunto da política que nós do Partido da Causa Operária apresentamos nas eleições e fora delas.
Eu destacaria um aspecto importante o fato de que nós do PCO somos favoráveis à extinção do Senado e do conjunto das instituições antidemocráticas do regime político. O Senado é uma marca de um regime profundamente antidemocrático, com base em duas câmaras parlamentares em que a segunda atua como uma câmara revisora, sendo que é justamente o senado que tem menor representação popular.
De um ponto de vista particular, em São Paulo, nossa candidatura procura se apresentar como uma candidatura independente dos trabalhadores no momento em que a maioria da esquerda se unificou por detrás de candidaturas golpistas, como é o caso da candidatura o ex-governador Márcio França que, durante anos, serviu aos governos do PSDB, governos de ataques aos trabalhadores, e que, agora, aparece como candidato que recebe apoio de setores ligados ao trabalhadores. Isso, finalmente, se trata de uma política de dar apoio à inimigos de classe que foram peças importantes durante o golpe, seja apoiando, seja participando do processo golpista.
Nesse sentido, nossa candidatura é a expressão da luta contra o golpe e nós chamamos todos os companheiros da esquerda combativa e classista a se somarem em uma perspectiva de independência de classe no apoio ao PCO e na defesa da candidatura do ex-presidente Lula.
DCO: No passado, o Partido teve todo um conjunto de arbitrariedades feitas contra ele, com dezenas de candidaturas impugnadas. Agora, com a ditadura do STF cada vez mais agressiva, vocês esperam o mesmo para esse ano?
AC: O regime político em crise aprofundou suas características antidemocráticas e, ao contrário das ilusões de muitos setores da esquerda, devemos ter as eleições mais manipuladas e com todo tipo de golpe e fraude, mais do que nos últimos anos. Isso porque a burguesia não deu o golpe de 2016 e estabeleceu todo o regime de entrega para, agora, aceitar que a situação possa ser revertida, minimamente, em um processo eleitoral. Para nós do PCO, estamos diante de uma nova etapa do golpe, na qual não faltaram ataques contra toda a esquerda. Os ataques ao PCO, que ja começaram antes das eleições, com o inédito e ilegal bloqueio de nossas redes sociais pelo ministro Alexandre de Moraes, é um sinal do que está por vir, contra o PCO, contra a esquerda e contra os direitos democráticos de todo o povo brasileiro.
DCO: Vai ser nas conferências estaduais que vão ser ratificadas as candidaturas neste próximo final de semana, certo?
AC: As Conferências Estaduais do nosso Partido, que acontecem nos próximos dias 30 e 31, são um momento importante no sentido de organizar uma ampla campanha política nas eleições e além delas.
Além de fazer o debate sobre essa situação e sobre a campanha em defesa dos direitos democrático, além de preparar o conjunto da campanha eleitoral do Partido sobre a base de uma discussão da situação política nacional e internacional; elas vão deliberar um processo que já vem sendo realizado nas organizações partidárias há algum tempo, que é a indicação das candidaturas operárias que o partido vai apresentar em todo o País.
Então, com certeza, vai ser um marco na mobilização da militância no sentido de não só aprovar candidaturas, mas discutir os eixos dessa mobilização em nível estadual, constituindo também um avanço na perspectiva de uma mobilização independente.
DCO: E depois disso, quais os planos do Partido?
AC: Na sequência, o Partido estará se mobilizando para a realização de seu 11° Congresso Nacional, reunindo delegados de todo o País e das células partidárias do exterior.
Pela primeira vez, as delegações do Partido vão ser representativas de toda a base militante do Partido, dos filiados e militantes ativos organizados pelo Partido em nível Nacional, expressando o crescimento do Partido nos últimos anos como parte de sua presença política na luta contra o golpe, pela liberdade de Lula etc.
Vamos fazer também, em torno deste congresso, um debate sobre a nova conjuntura internacional, com o agravamento da crise capitalista e das tendências a uma etapa com características revolucionárias no próximo período. É um momento político muito importante para um Partido operário revolucionário e, por isso, é preciso fazer uma avaliação de conjunto dessa situação. Bem como uma discussão acerca de sua perspectiva de desenvolvimento e fortalecimento de sua atividade em nosso País e em todo o mundo.
DCO: Faz alguns anos que o PCO não realiza um Congresso, certo? Qual é a importância de realizar sua XI edição neste momento?
AC: O PCO é um Partido profundamente democrático e que realiza um amplo debate de suas posições junto à sua militância e inclusive de maneira pública, junto a outros setores do movimento operário. Vamos realizar nosso 11 congresso em pouco mais de 40 anos de existência e, para tomarmos como exemplo, o PT realizou 7 congressos em um período de existência semelhantes, e o PCdoB, que reivindica seus 100 anos de existência, teria realizado 15 congressos nacionais.
O Congresso, nesse momento, tem uma importância muito grande justamente porque é o momento de avaliar o programa político do partido à luz da evolução dos acontecimentos, da realidade, da situação internacional e nacional e do próprio balanço de atividades do Partido. O último período desde o 10° Congresso, que realizamos em 2018, é marcado por uma intensa luta e um grande crescimento político e organizativo do Partido da Causa Operária.
Então, nós vemos com uma importância muito grande no sentido de não só consolidar toda essa compreensão política e o fortalecimento da organização, mas como apontar no sentido do desenvolvimento dessa perspectiva de crescimento da construção de um partido operário revolucionário e de se posicionar diante das grandes mudanças que estão se verificando na situação política internacional, bem como no agravamento da crise no País.
Além disso, como é normal no Congresso, o Partido vai eleger uma nova Direção Nacional – seu Comitê Central – para se colocar à frente dessa nova etapa que, com certeza, vai ser uma etapa de enorme desenvolvimento do PCO e de intensas lutas políticas da classe operária e do conjunto da classe trabalhadora em nosso País e no mundo todo.