Nessa quinta-feira (08), a rainha Elizabeth II (ou Isabel, em português), faleceu aos 96 anos no Castelo de Balmoral, em Aberdeenshire, na Escócia. Isabel entrou para a história como a monarca mais longeva de toda a história do Reino Unido, tendo governado por 70 anos. Durante este tempo, ela presenciou – e participou – dos principais acontecimentos políticos da segunda metade do século XX e das primeiras duas décadas do século XXI.
Como ocorre com qualquer figura notável, logo após sua morte, a imprensa internacional iniciou uma série de artigos e reportagens rememorando a vida da rainha e, principalmente, o seu reinado. Em decorrência de seu viés político, esses veículos criam a imagem de que a vida de Isabel foi louvável, um motivo de grande saudosismo.
Todavia, sua história diz justamente o contrário e mostra que, na realidade, Isabel II foi uma das chefes de Estado mais violentas de todos os tempos. Afinal, atuou ativamente nos piores feitos do imperialismo das últimas décadas, dando carta branca às maiores atrocidades já cometidas contra o povo trabalhador inglês e internacional.
Os poderes da rainha
Antes de mais nada, é preciso definir claramente quais são os poderes da rainha do Reino Unido, ou seja, até onde vai a sua capacidade e a sua influência no que diz respeito às medidas tomadas pelo governo britânico. Seria ela, como tornou-se popular, apenas um enfeite do regime inglês? Muito pelo contrário.
Diferente da brasileira, a Inglaterra não possui uma constituição “codificada”. Ou seja, é composta por uma série de documentos que, cada um, definem leis e regras relativas a diferentes assuntos e áreas do aparato estatal inglês. Mais especificamente, provém de 6 fontes, estando entre elas as chamadas Prerrogativas Reais.
Vale ressaltar que a maioria desses documentos representa um vestígio de outros tipos de regimes arcaicos. Um dos principais marcos que contribui para a formulação do que é hoje conhecida como a Constituição Inglesa Não-Codificada, por exemplo, foi a Declaração de Direitos de 1689, baseada, principalmente, nos ideais iluministas da época. Fica claro, portanto, que se trata de um modelo democrático extremamente ultrapassado que se apoia sobre bases do século XVII. O tratamento relativo à monarquia apenas reforça isso.
Segundo o direito inglês, a rainha é considerada Chefe de Estado. Como tal, possui um peso muito grande no governo: todas as decisões do Primeiro-Ministro devem passar por ela, incluindo a declaração de guerras. Isso é feito por meio de recomendações, provenientes do Parlamento, as quais ela pode, ou não, acatar. Na prática, é difícil a rainha ir contrária à decisão das casas parlamentares o que, na realidade, demonstra o alinhamento desses setores em relação à política que deve ser levada pelo Reino Unido.
Logo, a rainha tem, legalmente, o direito de governar o país conforme os seus próprios interesses. Ela pode, também, dissolver o Parlamento e destituir o Primeiro-Ministro, tudo conforme “recomendações” que podem, inclusive, serem secretas e não podem ser questionadas por nenhum tribunal.
Ou seja, toda e qualquer decisão tomada durante o seu reinado é de direta responsabilidade da rainha. Caso quisesse impedir algum abuso ou, como veremos adiante, políticas genocidas, o faria.
Invasão, guerra, golpes e fome
Ao longo de seus 70 anos no poder, Isabel levou adiante, principalmente ao começo de seu mandato, por volta da década de 50 e 60, uma política de invasão digna do caráter sanguinolento do imperialismo. Vejamos alguns destaques.
Em 1952, Churchill afirmou que as terras férteis do Quênia deveriam ser reservadas para pessoas brancas e, então, aprovou – com assinatura da rainha – a remoção forçada da população local. Em seguida, centenas de milhares de quenianos foram obrigados a ingressar em campos de concentração.
Já no dia 30 de janeiro de 1972, o regimento de paraquedistas do Exército Britânico assassinou 14 civis que manifestavam pacificamente no dia que ficou conhecido como Domingo Sangrento. Em seguida, os britânicos fabricaram calúnias contra as vítimas.
Sob a administração Blair, o Reino Unido invadiu o Iraque e, em conjunto com as forças armadas de outros países, matou mais de 1 milhão de pessoas. Ademais, outros milhões foram deslocados de seus territórios, trazendo um sofrimento imenso para o povo iraquiano.
Além disso, entre 1962 e 1970, o governo britânico levou adiante uma guerra secreta no Iêmen que matou cerca de 200.000 pessoas. Hoje em dia, o exército britânico aconselha e supervisiona o bombardeio da Arábia Saudita contra o Iêmen.
Entre 1950 e 1953, mais de 80.000 soldados britânicos foram até as Coreias para auxiliar os Estados Unidos na morte de mais de 4 milhões de pessoas. Sem contar na guerra que o Reino Unido travou contra a Malásia para pilhar borracha e estanho de 1948 até 1960. Na ocasião, espalharam um agente químico nas plantações como parte de sua “campanha de fome”, a qual foi alvo de inspiração do governo americano para sua guerra no Vietnã.
Outra campanha muito famosa foi a chamada Guerra das Malvinas, onde o governo de Margaret Thatcher travou uma guerra contra o território argentino para garantir o seu poder sobre a América do Sul.
Por fim, em 1953, o governo Churchill ordenou um golpe contra a Guiana Inglesa para pôr um fim ao seu programa nacionalista, bem como contra o governo iraniano.
O pior de tudo: o neoliberalismo
Apesar de todos esses acontecimentos grotescos, merece especial destaque o longo período em que Margaret Thatcher ficou no poder. Conhecida como “Dama de Ferro”, Thatcher foi uma das fundadoras do neoliberalismo econômico, a doutrina política mais destrutiva e sanguinária de toda a história da humanidade.
Em linhas gerais, o neoliberalismo serviu para dar uma sobrevida ao imperialismo que, em meio a uma crise gigantesca, estava à beira da falência no final do século passado. Para tal, promoveu uma política de devastação econômica idêntica, senão pior, ao que ocorreu nas grandes guerras mundiais. Isso por meio da privatização desenfreada ou, em outras palavras, da entrega de todo o patrimônio nacional ao capital financeiro.
Afinal, era preciso destruir completamente a economia para que fosse possível investir nela novamente de modo a impedir que o mercado entrasse em estagnação e quebrasse completamente, como o que ocorreu em 1929.
O resultado dessa política não pode ser resumido como simples miséria. Foi, e é, um dos maiores projetos de extermínio em massa já vistos. Algo que, apesar de inicialmente se restringir à Inglaterra, se espalhou para todos os países do mundo, principalmente os atrasados que faziam parte da Commonwealth. Tudo sob a anuência de Isabel.
Uma ligação histórica com o fascismo puro-sangue
Até aqui, é evidente que a rainha Isabel II, como Chefe de Estado, foi até mesmo mais fascista que Hitler, Mussolini e Bolsonaro juntos. Todavia, não para por aí! Sua família, e ela própria, possuía ligações profundas com os fascistas citados, laços, aquém de ideológicos, materiais.
Em 2015, o tablóide The Sun publicou uma reportagem exclusiva que, como capa, revelava uma fotografia da década de 30 que mostrava Isabel, então criança, fazendo a saudação nazista com sua família.
“É uma imagem fascinante. Não só porque tem Eduardo VIII que tornou-se rei em 1936. E em 1937 ele foi para a Alemanha. E em 1940 houve uma conspiração para levá-lo de volta ao trono. E ele se matou em 1970 dizendo que Hitler não foi um mau sujeito na Segunda Guerra Mundial”, afirmou, Stig Abell, editor executivo do jornal.
Todavia, além de uma foto, o tio de Isabel, Eduardo VIII, era nazista de corpo e alma. Após assumir o trono, em 1937, foi convidado por Hitler para visitar o III Reich, efetivamente viajando para uma estadia no chalé do líder alemão nos Alpes.
Ademais, o monarca era um admirador seu, e via o fascismo como uma forma da burguesia de combater o comunismo, chegando a afirmar que Hitler “era uma pessoa boa”, que fez” um ótimo trabalho na Alemanha”. Por fim, acreditava que as críticas que lhe dirigiam eram “calúnias inventadas por judeus”.