Com a eleição de Bolsonaro, um amplo setor da esquerda, que inclui setores do PSOL, do PT e do PCdoB, entre outros, estão fazendo uma propaganda em favor da frente ampla.
A alegação é que seria necessário e desejável a aliança com setores da burguesia supostamente democráticos para combater o fascismo bolsonarista.
O primeiro problema é que esses setores não são democráticos. PSDB, DEM, MDB, foram os articuladores do golpe de 2016, além de serem herdeiros dos partidos oficiais da ditadura militar.
A frente ampla é, assim, a tentativa de reorganização da frente popular, anteriormente capitaneada pelo PT, mas sobre bases mais direitistas.
Mais direitista porque embora tenha uma política oportunista e burguesa de modo geral, o PT tem uma ampla base popular e operária, em especial o setor lulista. Basta ver que uma das principais bases petistas é a Central Única dos Trabalhadores, que reúne alguns dos principais sindicatos operários do país.
Independentemente da vontade do PT, essa base exerce uma pressão muito grande sobre o partido e a burguesia precisa levar isso em consideração ao colocar o PT no governo.
Com a frente ampla, o que a burguesia está procurando fazer é uma frente popular que exclua o seu setor socialmente importante, colocando setores da esquerda que, pela falta de lastro social, são muito mais fáceis de manipular.
Com o golpe e a polarização, a burguesia perdeu parte de sua base, em uma medida para a direita e em outra para a esquerda, esvaziando o centro.
O que procuram agora é reconstituir esse centro que foi espatifado pela pressão política.
Além de ser uma operação muito complexa, há um grande obstáculo, que é o ex-presidente Lula. Ao cassar seus direitos políticos, esse centro conseguiu certa margem de manobra. Em 2018 acabaram por apoiar Bolsonaro e agora, contando que Lula permanecerá sem direitos, tentarão emplacar um candidato postiço.
Essa manobra é feita geralmente com o truque do espantalho, em que um candidato impopular é eleito porque tem maiores chances de ganhar contra outro candidato muito direitista e, assim, agrupa o eleitorado mais democrático.
A frente ampla tem como objetivo levar a esquerda a apoiar o candidato “menos direitista”. A esquerda compactuar com tal manobra é uma verdadeira vergonha. Deslocar o eleitorado não é um fenômeno puramente eleitoral. Isso provoca efetivamente um deslocamento à direita, uma evolução política direitista. Se o eleitorado é convencido e concorda em votar em um elemento da burguesia, como Ciro Gomes ou Bruno Covas, com a consideração de que o oponente é uma opção pior, ele já está elaborando uma política que inclui esse setor e sua política direitista.
Muitos setores ignoram isso quando elaboram a política do voto útil. Trata-se de um voto de compromisso, que confunde e promove uma “direitização” na base da esquerda. Esse é efeito da política de frente ampla.