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Os tentáculos imperialistas

Exclusivo: o NED financia a frente ampla no Brasil

Fundo do governo dos EUA, agência de fachada da CIA envia dinheiro para projetos políticos encabeçados pela direita golpista

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─ Por Eduardo Vasco

A série de reportagens do Diário Causa Operária revelou as ligações concretas entre Guilherme Boulos (PSOL) e setores da direita e mesmo da extrema-direita golpistas, bem como do próprio imperialismo norte-americano.

Essa ligação se dá por meio do Instituto para a Reforma das Relações entre Empresa e Estado (IREE), no qual Boulos trabalha como colunista e professor. Esse instituto é presidido pelo empresário Walfrido Warde, amigo íntimo de Boulos e seu articulador político. Os principais diretores desse instituto são Leandro Daiello (ex-chefe da Polícia Federal durante o golpe), Raul Jungmann (ex-ministro da Defesa de Michel Temer) e o general bolsonarista Sergio Etchegoyen (ex-chefe do GSI no governo Temer).

O IREE é parceiro de um think tank norte-americano chamado Global Americans, cujo objetivo principal é fornecer análises “para promover mudança no sentido de uma relação mais próspera entre a América Latina e os EUA”.

Levando em conta que todos os que trabalham ou colaboram com o Global Americans são ou foram funcionários do governo dos EUA, fica claro que essa “relação mais próspera entre a América Latina e os EUA” significa, na verdade, a completa submissão da América Latina ao governo e aos capitalistas dos EUA.

Mas não é só isso. O Global Americans não apenas agrupa integrantes do establishment norte-americano, como também é financiado pela principal agência responsável por aplicar a política externa do governo dos EUA mundo afora: o NED.

Como recordamos na última reportagem, o National Endowment for Democracy (NED) é um fundo pertencente ao governo dos EUA que financia ONGs, think tanks e movimentos pelo mundo sob uma fachada democrática, liberal e identitária, para executar golpes de Estado principalmente nos países oprimidos. É vastamente documentado o papel do NED nas “mudanças de regime” no leste europeu, Oriente Médio e América Latina.

“Muito do que fazemos hoje era feito de modo encoberto pela CIA 25 anos atrás”, disse, em 1991, o cofundador do NED, Allen Weinstein. “Seria terrível para grupos democráticos em todo o mundo serem vistos como subsidiados pela CIA. Nós vimos isso na década de 1960, e por isso foi encerrado. Nós não temos a capacidade de fazer isso [financiar diretamente pela CIA], por isso o fundo [NED] foi criado.”

A Fundação Fernando Henrique Cardoso

Em sua página na Internet, o NED expõe publicamente algumas informações sobre os seus gastos pelo mundo. No Brasil, o fundo despejou dinheiro em dez projetos diferentes no ano de 2020.

Um desses projetos é o “Fura Bolha”, da Fundação Fernando Henrique Cardoso. Esse projeto recebeu 77.300,00 dólares em 2020 do NED e já havia recebido 60.000,00 dólares em 2019.

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O “Fura Bolha”, segundo o NED, tem o foco em promover “ideias e valores democráticos”. Seu objetivo: “promover a cultura democrática e o valor do diálogo político no Brasil. A organização vai levar adiante uma série de discussões com personalidades públicas de alto nível no Brasil com diferentes visões. Os debates serão gravados e transmitidos em meios tradicionais, e compartilhados nas redes sociais. As conversas jogarão luz sobre soluções políticas para questões proeminentes de interesse público e contrastar diferentes ideias de uma maneira construtiva e civilizada.”

No sítio da Fundação Fernando Henrique Cardoso, o “Fura Bolha” é apresentado como “uma série de conversas entre pessoas conhecidas na sociedade brasileira por pensarem diferente. O resultado tem sido um diálogo produtivo e essencial para a democracia.”

Participaram das conversas, gravadas, editadas e postadas no Youtube, algumas das mais notáveis figuras políticas da famigerada frente ampla, tais como: o próprio FHC, Ciro Gomes, Rodrigo Maia, Luciano Huck, Tabata Amaral, Eduardo Leite, Joice Hasselmann, Randolfe Rodrigues, Major Olímpio, Kátia Abreu, Aldo Rebelo, Flávio Dino, Fernando Haddad, Paulo Teixeira e o sinistro Sérgio Etchegoyen.

Os vídeos das conversas foram reproduzidos pelo canal Quebrando o Tabu e alguns viralizaram, como as conversas entre Sâmia Bomfim e Kim Kataguiri e entre Marcelo Freixo e Janaína Paschoal.

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Janaína Paschoal e Marcelo Freixo no “Fura Bolha”
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Sâmia Bomfim e Kim Kataguiri no “Fura Bolha”

Fernando Henrique Cardoso foi peça-chave na articulação política e na ponte entre os Estados Unidos e o Brasil para assegurar o golpe de 2016. Desde então, ele tem sido um dos condutores da política de frente ampla e da terceira via para as eleições de 2022, tendo organizado uma série de iniciativas para agrupar os setores golpistas e levar uma parte da esquerda a reboque desse bloco, como o fórum Direitos Já.

FHC tem uma história antiga com o NED e os serviços de inteligência dos EUA. Em 2004, ele teve o prazer de inaugurar, na embaixada do Canadá em Washington, o Seymour Martin Lipset Palestra sobre Democracia no Mundo, um fórum criado pelo NED para a discussão da “democracia e o progresso pelo mundo”.

Já na década de 1960, quando ainda era um intelectual de esquerda, estudioso do marxismo, Cardoso foi financiado pela Fundação Ford, que lhe concedeu R$145 mil para criar o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), relatou a jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni no livro “Fernando Henrique Cardoso: o Brasil do possível”. Como foi revelado mais tarde pela escritora britânica Frances Stonor Saunders, em “Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura”, a Fundação Ford sempre foi uma fachada pela qual a CIA bancava operações de maneira disfarçada.

Mas FHC é ligado até hoje com a Fundação Ford (CIA). Sua fundação é associada ao Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), que tem como apoiador institucional justamente a Fundação Ford, dentre outras 160 organizações associadas como a Open Society, Fundação Lemann, Fundação Roberto Marinho, SITAWI Finanças do Bem, TV Globo e uma série de bancos como Itaú, Santander e o J.P. Morgan.

O Conselho de Governança do GIFE é formado, por exemplo, por Adriana Barbosa (Feira Preta), Atila Roque (Fundação Ford), Gilberto Costa (JP Morgan), Mônica Pinto (Fundação Roberto Marinho) e Virgílio Viana (Fundação Amazonas Sustentável).

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FHC, portanto, é financiado pela CIA há mais de 50 anos. Primeiro, através da Fundação Ford; agora, através do NED. O NED também tem, desde 2012, uma parceria com a Fundação Fernando Henrique Cardoso para a publicação em língua portuguesa do Journal of Democracy, órgão oficial do NED fundado em 1990 e para o qual o ex-presidente já contribuiu.

O Pacto pela Democracia

Outro empreendimento financiado pelo NED no Brasil é o Pacto pela Democracia. Tanto em 2020 como em 2019, a iniciativa recebeu 67.000,00 dólares do fundo norte-americano.

Segundo o NED, o objetivo desse investimento é “promover a cultura democrática e o valor do diálogo, tolerância e o engajamento cidadão para fortalecer a capacidade da sociedade civil para defender os processos e princípios democráticos no Brasil. A organização [SITAWI Finanças do Bem, a beneficiada que também é associada ao GIFE] vai apoiar a iniciativa Pacto pela Democracia, uma plataforma da sociedade civil que inclui um grupo plural e diverso de atores políticos e da sociedade civil. A coalizão vai desenvolver um mecanismo de monitoramento do processo democrático [grifo nosso], organizar diálogos públicos sobre tópicos chave da democracia com painéis plurais, e expandir seu quadro de membros pelo país”.

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O Pacto pela Democracia foi lançado oficialmente em 13 de junho de 2018, em São Paulo. O evento contou com a presença de representantes do PSDB, Novo, PPS (atual Cidadania), Rede, PV, PDT, PSOL (Sâmia Bomfim) e PT (Eduardo Suplicy) e ganhou apoio da Folha de S.Paulo, com reportagem e coluna especial de Neca Setúbal (herdeira do Itaú).

Participa do Pacto pela Democracia uma vasta gama de ONGs, tais como: o GIFE, Fundação Tide Setúbal, Geledés, Greenpeace, Instituto Ethos, Instituto Sou da Paz, Oxfam Brasil, Politize, portal Diálogos do Sul, Educafro e o projeto Neoliberais (cujo slogan é “Implantando o projeto neoliberal no Brasil”). Mas destacam-se algumas instituições mais conhecidas, como o Raiz – Movimento Cidadanista (fundado por Luiza Erundina em 2016), o Renova BR, Agora, Acredito e o Instituto Marielle Franco. Além do Raiz e do Instituto Marielle Franco, há outras instituições ligadas ao PSOL no Pacto pela Democracia, como a Bancada Ativista e o Ocupa Política (que aglutina as deputadas federais Sâmia Bomfim, Talíria Petrone, Fernanda Melchionna e Áurea Carolina, além de estaduais e vereadoras, todas do PSOL com exceção de duas ─ da Rede e do PDT).

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Algumas das codeputadas da Bancada Ativista
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“Mandatas” federais da Ocupa Política

Em 2020, o Pacto pela Democracia realizou um evento do tipo idealizado pelo NED, chamado Diálogos Democráticos. Participaram, dentre outros, os deputados Tabata Amaral (PDT), Orlando Silva (PCdoB), Lidice da Mata (PSB), Marcelo Calero (Cidadania) e Fabio Ostermann (Novo), além de Douglas Belchior (Coalizão Negra por Direitos).

Financiando a “despolarização” e o identitarismo

Tanto a Fundação Fernando Henrique Cardoso como o Pacto pela Democracia ─ ambas financiadas pelo NED e associadas com instituições norte-americanas ─ têm como principal função a integração entre setores da direita e da esquerda (indo desde Etchegoyen até o PSOL e a ala direita do PT). Suas iniciativas de “diálogo” entre esses setores são direta e explicitamente dirigidas para a formação de uma “frente ampla pela democracia” contra os “extremos” ─ isto é, Lula e Bolsonaro ─ e por isso promovem nomes e políticas de “centro”. Esse é justamente o objetivo da burguesia e do imperialismo diante da crise do golpe de Estado que levou à intensificação da polarização política no País: garantir um mínimo de estabilidade para assegurar a dominação imperialista no Brasil, o que só pode ser conseguido neutralizando os dois polos.

De fato, os principais setores que compõem a frente ampla ─ ou, em termos eleitorais atuais, a “terceira via” ─ são tradicionalmente ligados ao capital internacional, tais como partidos, instituições, empresas e meios de comunicação (representantes desses setores constam tanto no “Fura Bolha” da Fundação FHC como no Pacto pela Democracia).

O “diálogo”, “pluralidade” e, principalmente, o identitarismo, são ferramentas ─ algumas retóricas, outras práticas ─ do imperialismo para moldar e controlar as posições e ações políticas no Brasil e em todo o mundo através de suas ONGs e think tanks. Todas essas organizações têm como política a promoção desses “valores democráticos”.

Tendo em vista o financiamento do NED à Fundação Fernando Henrique Cardoso e ao Pacto pela Democracia (do qual FHC, o PSDB e/ou seus apêndices diretos são integrantes), é fácil deduzir que FHC centraliza a “distribuição” dos investimentos do NED ─ ainda não comprovadamente através de envio direto de recursos financeiros, mas ao menos por meio da promoção dessas iniciativas idealizadas pelo NED ─ através da parceria com os institutos citados anteriormente.

Estão associados à Fundação FHC e ao Pacto pela Democracia alguns dos principais responsáveis pelo golpe de 2016 e pela própria eleição de Bolsonaro. Ao mesmo tempo, a promoção de ideias e práticas identitárias por parte dessas instituições possibilita o vínculo institucional ideológico e político direto com importantes setores da esquerda brasileira, mais notadamente o PSOL ─ vínculo esse necessário para dar um tom “esquerdista” à penetração do imperialismo no Brasil.

Chama a atenção o protagonismo notório do PSOL nessa frente de organizações que participam do Pacto pela Democracia, financiado pelo NED. E não se trata genericamente de pessoas ligadas ao PSOL que compõem esses grupos, mas sim de deputados federais e dirigentes do partido. O mesmo partido de Guilherme Boulos, cujo instituto (IREE) é indiretamente financiado pelo NED. Aqui, principalmente com o Pacto pela Democracia, a situação não é exatamente da mesma natureza mas é tão ou mais grave quanto, pois o NED financia diretamente o Pacto pela Democracia, do qual participam alguns dos principais membros do PSOL.

Não é de se estranhar, analisando quais as iniciativas que o NED financia, o porquê de a esquerda brasileira pregar o “diálogo”, a “pluralidade” e o identitarismo. Ela está associada e depende cada vez mais justamente de uma frente ampla composta por grupos financiados pelo governo dos Estados Unidos. Em muitos casos, essa mesma esquerda é financiada, ao menos indiretamente, pelo governo dos EUA ─ como Guilherme Boulos e as deputadas do PSOL.

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