Com o envio de tropas russas para a região do Donbass, a esquerda pequeno-burguesa brasileira adotou uma política muito próxima à política dos monopólios de comunicação e da grande burguesia nacional. A UP, o PCB, o PSTU e o PSOL atacaram o governo de Vladimir Putin e a ação militar, alegando que se trataria de uma ação “imperialista da Rússia” e do início de uma guerra “interimperialista” – posicionamento parecido com o da imprensa burguesa, como o Estadão, que acusou da maneira mais cínica possível a Rússia de ser imperialista.
Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que a Rússia não é um país imperialista, mas sim um país atrasado e uma potência regional. Apontar a Rússia como se ela fosse imperialista é uma desculpa muito esfarrapada para, na realidade, defender o imperialismo.
Esse mesmo setor da esquerda, em 2021, atacou com toda a força o Talibã, que levou a cabo a libertação nacional do Afeganistão, alegando toda sorte de argumentos identitários para esconder o apoio aos Estados Unidos. Fato é que, ao atacar o Talibã, esse setor da esquerda defendeu o Joe Biden; agora, ao alegar que a Rússia seria imperialista para se manter neutra numa guerra de libertação nacional, a esquerda, novamente, vai às trincheiras de Biden.
Um marxista deve apoiar a autodeterminação dos povos; e a primeira pré-condição para que um povo possa legislar a si mesmo é que este esteja livre do imperialismo, afinal o imperialismo busca subordinar toda economia (indústrias, bancos, setor petrolífero, etc.) e toda política (o Estado de conjunto) a seus interesses. O básico desta reivindicação democrática, que os marxistas sempre apoiaram, é entender que toda guerra entre um país atrasado e um país imperialista é uma guerra em que o país atrasado trava buscando a sua libertação.
Ao ignorar esta doutrina básica do marxismo, a esquerda tem ficado a reboque dos maiores inimigos do povo. Boa parte da esquerda atacou o Talibã, ataca Putin, ataca o Hamas; o PSTU, por exemplo, ataca Maduro, ataca Cuba, atacou Dilma, etc. A esquerda pequeno-burguesa tem se tornado, no que concerne à política exterior, mero capacho dos EUA, mero satélite de sua política. Mudam-se os argumentos (tal hora, quem luta contra os EUA é machista; tal hora, o país oprimido vira “imperialista”), mas se mantém a política de defender os Estados Unidos e o imperialismo.
São os Estados Unidos que saqueiam todos os países atrasados do mundo, que impõe ditaduras e governos nazistas – como fizeram, aliás, na Ucrânia – através de golpe de Estado, são eles que dominam sua indústria. Não sendo o bastante, ainda massacram a classe trabalhadora de seu próprio país. Ou seja, os verdadeiros inimigos da humanidade são os Estados Unidos e o imperialismo; contra eles, todo país deve ser apoiado, afinal trava uma luta por sua própria libertação. Portanto, a Rússia precisa ser incondicionalmente apoiada, afinal está levando adiante um combate contra as forças da OTAN e do imperialismo no leste europeu.
O governo ucraniano é um governo neonazista, diretamente controlado pelos Estados Unidos. A esquerda buscar a adoção de neutralidade ou atacar Putin apenas indica um alinhamento político da própria esquerda aos maiores inimigos do povo. Um marxista, pelo contrário, não pode se deixar levar pela corrente da opinião pública – que é fomentada pela burguesia – , mas deve defender um programa político de defesa de todos os oprimidos e explorados ao redor do mundo; isto é, deve defender a classe operária contra seus maiores inimigos, portanto, contra a burguesia imperialista. É preciso denunciar essa atitude de “neutralidade” por parte de setores da esquerda e defender, ao contrário, o apoio incondicional à Rússia e ao Talibã contra o imperialismo!