| ─ Não, não prestamos qualquer apoio ao Governo do PT e não entramos na histeria de golpe.
Era 2 de abril de 2016. Eduardo Cunha já havia aberto o processo de impeachment de Dilma Rousseff no final do ano anterior. Duas semanas depois da famigerada frase, a Câmara dos Deputados aprovava o mesmo impeachment. Cinco grandes manifestações de rua convocadas pela direita já haviam ocorrido.
PCO, PT, PCdoB e mesmo setores do PSOL falavam que era um golpe. O PCO denunciava a manobra golpista desde 2012. Era muito óbvio.
Tardiamente, a CUT havia formado a Frente Brasil Popular a fim de organizar a resistência contra esse golpe. Manifestações públicas de trabalhadores respondiam aos infames “coxinhatos” patrocinados pela FIESP e divulgados pela Rede Globo.
A postagem de Jones Manoel no Facebook se referia ao ato de 31 de março na Praça da Sé, quando cerca de 50 mil pessoas se posicionaram em São Paulo contra o golpe. Manoel e seu partido, o PCB, participaram do ato. Não para defender o governo de esquerda ─ apoiado pelas organizações de massas da classe trabalhadora, dos camponeses e da juventude, como CUT, MST e UNE ─ mas sim para “disputar as ruas” com esse governo, como disse o próprio youtuber ─ à época, já com alguma influência nas redes sociais.
Cosplayer do velho Partidão, este PCB imitava a política de Terceiro Período imposta por Stálin no final dos anos 20. Mas agora, não por estar a reboque do stalinismo, e sim da pequena burguesia universitária sem nenhum contato com as massas. Este PCB se assemelha mais a um observatório de política pertencente ao departamento de Ciência Política de alguma universidade do que a um partido que se pretende comunista. Por seu papel absolutamente inoperante na vida política das massas, ficou carinhosamente conhecido como PCBarrichello (pobre Rubinho!).
Não era só a política de Terceiro Período que vinha com atraso ─ de quase 90 anos! Era tudo. O PCB não se posicionava (e continua não se posicionando) sobre nada. Quando, tarde demais, emitia uma opinião, era para expressar a completa falta de realidade de seus dirigentes.
O PCBarrichello dizia, em 21 de março de 2016, que “não estamos diante de um golpe” mas sim “de uma acirrada disputa no campo interburguês” blá, blá, blá. O palavreado pseudomarxista, ao contrário de expressar (como gostariam os dirigentes pcbistas) sua análise materialista da conjuntura nacional, nada mais era do que uma cascata sob a qual os covardes pedantes buscavam se esconder da realidade, com a qual procuravam lavar as mãos porque, em uma “disputa no campo interburguês”, a classe operária nada tinha de se meter.
Manezinho, então começando a esboçar análises mirabolantes a fim de se qualificar para a cátedra universitária, seguindo os passos dos dirigentes de seu partido, não considerava nem o PT nem o governo Dilma de esquerda. Por isso não era um golpe aquilo de que estavam sendo vítimas. E, portanto, não deveriam ser defendidos.
─ Não considero a ofensiva em curso como golpe!, reforçava o intelectual de Facebook em 18 de março de 2016.
A 12 de maio, Dilma era afastada da Presidência da República. Em 31 de agosto, o golpe era sacramentado, com o mandato de Dilma cassado pelo plenário do Senado.
O PCBarrichello e seu hoje garoto da Rede Globo preferiam atacar o governo Dilma e o PT ao invés de defendê-lo da direita. Não fazia uma frente única sob o princípio de “golpear juntos, marchar separados” com o PT, mas sim com a direita.
─ O processo de impeachment (…) não visa resolver nenhum dos graves problemas que afligem o povo brasileiro ─ dizia o PCB em dezembro de 2015. Meus Deus, como é que eu não descobri isso antes! ─ O processo de impeachment em nada favorece os trabalhadores, seja qual for o resultado (grifo meu), completava outra nota do mesmo período.
Ou seja: para o PCBarrichello, tanto faz como tanto fez.
A quem essa política favorecia, objetivamente? Aos trabalhadores, em luta contra o golpe, ou aos golpistas? Bom, basta vermos o resultado: houve o golpe e hoje os direitos trabalhistas que a classe operária havia conquistado até aquele momento transformam-se em pó. Temos um fascista no governo e mais de 600 mil vidas ficaram no caminho por causa da destruição do SUS ─ profundamente acelerada após a queda do PT.
É preciso ficar bem claro. O PCB e seu influencer (sim, em inglês, ele merece) apoiaram o golpe. Não dava para ficar em cima do muro naquele então. Ou era o apoio (mesmo que crítico) ao governo contra a direita, ou era o apoio objetivo à direita contra o governo. O PCB recusou-se publicamente a participar de vários atos contra o golpe e preferiu marchar junto com o PSTU e setores do PSOL em manifestações isoladas e divisionistas “contra o ajuste fiscal” e por “Fora Todos”.
Mas antes que os incautos pensem que essa posição provinha de um pensamento inocente, não se enganem. Ninguém é inocente em política. Como um apêndice do PSOL que ele é, o PCB achava que, derrubado e destruído o PT, seus espólios seriam aproveitados para o erguimento de uma nova esquerda no Brasil. Isso fica muito claro nas notas oficiais lançadas pelo partido durante o longo calvário do golpe. Queria ocupar uma parcela do espaço do PT dentro do movimento operário e da juventude. Ignorava, porém, que o golpe não era apenas contra o PT, mas contra toda a esquerda e os trabalhadores.
Hoje, cinco anos e meio após o golpe, vemos o PT ainda de pé e representando um enorme perigo para a burguesia. Lula é o homem mais popular do País.
E onde está o PCBarrichello?
“Mais rápido do que uma bala. Mais possante do que uma locomotiva. Capaz de chegar ao topo de um edifício com um simples pulo!”
─ Olhem, lá no céu!
─ É um pássaro?
─ É um avião?
─ Não, é o
─ Jones Manoel! ─ diria o próprio, antecipando-se a qualquer referência a alguém que possa fazê-lo sombra.
Enquanto que, envergonhado, finalmente o PCBarrichello reconhece que foi golpe (embora diga que não o apoiou… haha hilário, não consigo segurar o riso enquanto escrevo). Bem, enquanto isso nosso super-homem-bomba (calma, ele condena os talibãs porque são machistas) deixa muito claro que aqueles objetivos mesquinhos ainda existem.
─ Lula ou Jones. Só pode um. Escolhe quem?
A modéstia mandou lembranças. Mas o problema não é esse. Afinal, tal “dilema” foi levado tão a sério quanto seria levada a comparação entre Chico Buarque e Manu Gavassi ─ com o perdão do meu querido companheiro Heinrick, fã da cantora.
O objetivo dessa esquerda golpista e antipetista continua sendo o mesmo: substituir o PT.
Mané, hoje um homem crescido à base de Whey, lançou-se pré-candidato ao Governo de Pernambuco ─ de onde saiu em direção a São Paulo, como cabo-eleitoral de Boulos em 2020, a fim de desbancar na esquerda o candidato petista Jilmar Tatto.
Em entrevista recente, o Stálin da Borborema (como ficou conhecido em Recife) deixou muito claro que a missão para a qual foi escalado anos atrás foi renovada.
─ Ao que tudo indica, o PT não vai ter candidato aqui em Pernambuco, então estamos chamando os militantes petistas insatisfeitos com um acordo com o PSB para se somar à nossa pré-candidatura, para construir esse programa socialista, radical e popular para Pernambuco.
Isto é, o PCBarrichello até reconheceu que foi golpe. Mas não passou disso. O fez por pressão, porque estava muito feio negá-lo.
─ Vejam o destino do PSTU, não podemos terminar na sarjeta como eles, após uma vida inteira de dependência às drogas mais pesadas ─ pode ter dito algum pcbista mais esperto.
Mas como não são marxistas e não buscam intervir na luta política, fazem uso apenas de inócuas notas de repúdio e ridículas frases de efeito, ainda para tentar esconder sua inoperância e colaboração com os golpistas.
Para os grandes revolucionários comunistas do PCB, não se trata de derrotar o golpe. Não se trata de derrubar Bolsonaro. Não se trata de realizar uma campanha nacional que mobilize a classe operária por um governo dos trabalhadores. Trata-se de ajudar a direita a assassinar o PT para comer os seus restos, tal como um abutre.
Justamente aqueles que tanto condenam o PT por “pensar apenas em eleições”…