Guilherme Boulos é um infiltrado na esquerda a serviço da direita. A campanha eleitoral escancarou esse fato. Se antes ele poderia passar um perfume cor-de-rosa para fingir seu esquerdismo, agora jogou às claras toda a podridão de sua política.
Quando o PCO denunciava o psolista por desempenhar um papel de total colaboração com a direita golpista e com o imperialismo, muitos nos acusaram de ter desavenças pessoais com Boulos. Obviamente que não se trata disso. Sempre fizemos colocações políticas, mas em troca fomos caluniados – aí sim – com ataques pessoais e morais, infantis, até mesmo pelo próprio Boulos. Ataques tipicamente bolsonaristas, de quem não encontra – porque não tem – argumentos para sustentar sua posição política.
Mas vejamos o que Boulos revelou nessa campanha eleitoral.
Um governo dos banqueiros e especuladores
Acompanhei a campanha de Boulos pelas redes sociais, diariamente. Não vi praticamente nenhuma menção ao MTST, movimento do qual foi o principal expoente. Boulos simplesmente abandonou os sem teto. O mínimo que é esperado de um suposto líder popular é que ele utilize a campanha eleitoral para fazer propaganda da organização em que atua, dando protagonismo a seus membros – no caso, os sem teto. Mas o que o oportunista pequeno-burguês fez foi o contrário.
No final de outubro, Boulos foi recebido como um amigo na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a “casa do liberalismo”, como disse um dos anfitriões. Lá, ele afirmou aos empresários: “não esperem de mim demonização do setor privado.” Ouviu, também, de outro anfitrião: “seu discurso é tão redondo, parece até candidato de direita (grifo nosso).”
Um mês depois, na reta final da campanha, Boulos recebeu um manifesto assinado por “empresários e agentes do mercado financeiro”, como noticiou a imprensa. Entre os signatários que declararam voto em Boulos estão o ex-banqueiro que fez campanha pelo impeachment, Eduardo Moreira, e do empresário do agronegócio Luis Rheingantz.
Boulos fez cinco encontros com capitalistas desde agosto e o último contou com a presença de 50 pessoas. Isso mesmo, Boulos conseguiu reunir 50 capitalistas em uma sala! (me diga o que você faria com 50 capitalistas em uma sala – eu atearia fogo e trancava a sala!).
Um dos capitalistas amigos de Boulos é João Paulo Pacífico, CEO do grupo de securitização imobiliária Gaia, um tucano com 20 anos de mercado financeiro. Ele disse que “não o vi sendo contra a iniciativa privada. Boulos fala que o Estado precisa da iniciativa privada para que a cidade prospere”. O especulador imobiliário ainda afirmou à agência Folhapress que Boulos é um político confiável para os capitalistas: “um cara de mercado financeiro não é alguém que vai apoiar o comunismo. Eu jamais apoiaria a estatização da minha empresa.”
Marcel Fukuyama, empresário que apoiou Marina Silva em 2018, tem a mesma avaliação de que “a aproximação do Boulos com o mercado está ampliando a confiança” da burguesia no psolista.
À mesma reportagem, Boulos afirmou que “é evidente que uma cidade como São Paulo necessita do investimento privado” e que “ao conhecer o candidato, muitos desses setores não só mudaram sua visão sobre ele, como também passaram a apoiá-lo ativamente (grifo nosso)”.
Paula Lavigne, que vem articulando a destruição da esquerda há tempos, reconhece que Boulos é adepto das Parcerias Público-Privadas (PPPs) e das Organizações Sociais (OSs) – eufemismos para PRIVATIZAÇÃO. “Já lidei com muitos políticos, e talvez ele seja o menos radical de todos (grifo nosso)”, revelou.
Se tudo isso já não fosse suficiente, na semana passada descobriu-se que a maior doadora individual da campanha de Boulos é Marília Andrade, nada menos do que a herdeira da empreiteira Andrade Gutiérrez. Ela desembolsou R$ 100 mil em Boulos.
Na época em que liderou o movimento “Não vai ter Copa” (junto com a direita golpista, que já buscava derrubar Dilma), Boulos acusava, de maneira demagógica como descobrimos agora, a ex-presidenta de receber dinheiro de empreiteiras para se eleger. Logicamente que isso é uma contradição para qualquer um que se diz de esquerda. Mas no caso de Boulos é ainda mais bizarro: ele se tornou conhecido justamente por ser a figura pública do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Teoricamente o MTST e os sem teto seriam os inimigos número 1 de uma empreiteira. Mas Boulos é amigão da Andrade Gutiérrez e, como visto acima, também da especulação imobiliária, que impedem o povo de ter moradia. Se formos lógicos, veremos que um amigo do seu inimigo também é seu inimigo! De fato, na prática, Boulos tirou definitivamente a máscara: é um inimigo dos sem teto, não um líder!
A imprensa golpista apoia Boulos
A aliança do líder fake dos sem teto com a burguesia golpista já era evidente por um motivo bem claro. Enquanto Lula, Dilma e o PT continuam sendo violentamente atacados pela imprensa capitalista, Boulos é bajulado por ela.
Nem preciso falar que a Folha de S.Paulo (a quem Boulos prestou serviço como colunista durante o golpe) adotou o ex-candidato do PSOL como seu mascote. Manchetes, reportagens, entrevistas, artigos de opinião foram publicados extensamente em homenagem a Boulos. Até mesmo matérias sobre Jilmar Tatto – então candidato petista em São Paulo – davam destaque a Boulos. O objetivo? Tirar votos de Titto e dar a Boulos, no que a imprensa foi bem-sucedida. A coluna de Mônica Bergamo foi um lugar especial para Boulos, onde ele desfrutava de um carinho sem precedentes para alguém de esquerda.
Tudo bem, alguns esquerdistas pequeno-burgueses vão me dizer que a Folha – que apoiou o golpe de 64, o golpe de 2016 e a prisão de Lula – até que é mais imparcial, neutra, democrática ou mesmo progressista (!). Mas o que dizer do apoio que Boulos tem de outros veículos que não escondem seu reacionarismo, como Globo, Veja e Jovem Pan?
Como as matérias acima provam, Boulos está sendo propagandeado pela mentirosa imprensa capitalista brasileira. Reinaldo Azevedo, o mesmo que inventou o termo “petralha” (para comparar os petistas com os Irmãos Metralha) e cuspia fogo em todos os lugares em que escrevia (como na Veja), era visto (Rede TV!) ou ouvido (Jovem Pan) contra a esquerda e os trabalhadores, agora elogia “o maior vitorioso desta eleição”, Guilherme Boulos. O canalha reacionário escreveu, em sua coluna no UOL, que vimos nessa eleição a formação de uma “onda Boulos”.
Algo parecido foi comentado pelo articulista da Época (principal revista do Grupo Globo), Luiz Fernando Vianna: as eleições viram nascer a “Boulosmania”! O Globo e a Veja (precisa explicar quem são essas publicações?) já levantam a hipótese de Boulos ser “o maior fenômeno eleitoral de 2020” e um “Lula 4.0 no futuro”. Na verdade, essas matérias expressam um sonho antigo da burguesia e da direita: não conseguiram eternizar o “Lulinha Paz & Amor”, tiveram que derrubar seu partido do governo, prendê-lo, cassar seus direitos políticos, impedi-lo de concorrer à presidência e mesmo assim são assombrados pelo seu fantasma, todas as noites. Agora, restou fabricar um “Boulinhos Paz & Amor”.
Esse sonho, que fica expressado de maneira sutil em O Globo e Veja, é escancarado na Jovem Pan. Álvaro Alves de Faria escreveu: “O problema maior [para o PT] é que Boulos está tirando o lugar de Lula na liderança da esquerda brasileira. Lula ainda não percebeu que seu tempo passou e Boulos vai conquistando seu lugar.” Quem não é de São Paulo talvez tenha sido abençoado por Deus por não precisar ouvir a JP todos os dias no trânsito. A rádio foi apelidada de “Jovem Klan” (em alusão à Ku Klux Klan) não à toa. Além de toda a campanha suja, mentirosa e criminosa pela derrubada de Dilma, prisão de Lula e eleição de Bolsonaro, ainda hoje a Klan se refere a Lula não como “ex-presidente” mas sim como “ex-presidiário” e chama o coronavírus de “vírus chinês”. Trata-se da mais profunda e fedida rede de esgoto da imprensa brasileira, um antro de nazistas. Mas incentiva a candidatura de Boulos. Por que será?
A imprensa, que expressa a opinião da burguesia, quer destruir o PT há muito tempo. Por isso deu o golpe. Mas não foi o suficiente. Não conseguindo, até o momento, destruir o Partido dos Trabalhadores, ela opera para minar o seu prestígio entre a esquerda e as massas, alavancado por sua ala esquerda encabeçada por Lula. Colocando essa ala para escanteio, a direita conseguirá anular o PT e, por conseguinte, toda a esquerda. Parte fundamental dessa estratégia é substituir o PT, principalmente a ala lulista, por alguém que não tenha ligação com o movimento operário, que não seja passível de pressão dos trabalhadores e que, portanto, seja facilmente domesticável pela burguesia. Esse alguém é Guilherme Boulos.
Aliado do imperialismo contra Cuba e Venezuela
Um divisor de águas para delimitar a esquerda e a direita é a defesa de Cuba e da Venezuela. Se você é uma pessoa de esquerda, não vai pensar duas vezes em defender esses dois países. Mas Boulos demonstrou sua covardia e acordo com a direita. Em entrevista à Rádio CBN, afirmou: “para mim, nem Cuba nem Venezuela são modelos de democracia.”
É para escancarar o caráter direitista da política de Boulos. Em rede nacional, qualquer político de esquerda, qualquer militante progressista deveria aproveitar a oportunidade para denunciar os ataques da direita e do imperialismo contra nossos irmãos cubanos e venezuelanos e, ao mesmo tempo, advogar as conquistas alcançadas para os povos dessas duas nações. Mas Boulos fez o contrário: ecoou a propaganda reacionária e mentirosa da direita e do imperialismo, que chamam Cuba e Venezuela de ditaduras.
Ora, se não é uma democracia, então é uma ditadura. Quais serão os modelos de democracia de Guilherme Boulos? Os EUA que jogaram duas bombas atômicas no Japão? A França de Macron? A Alemanha de Merkel? Ah, talvez os países escandinavos, refúgio da esquerda mais centrista e liberal, uma esquerda capitalista.
Defender, incondicionalmente, Cuba e Venezuela – ainda mais em uma situação na qual os dois países são os mais ameaçados pelo imperialismo no hemisfério – é uma obrigação, um princípio inviolável, um dever para quem se diz de esquerda.
Mas, infelizmente, nós também temos no Brasil uma esquerda pró-imperialista. Boulos não foi o primeiro. Em 2018, Fernando Haddad fez exatamente como Boulos: disse que Venezuela e Nicarágua (governada pelos sandinistas) não poderiam ser caracterizadas como democracias. Quando a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, foi à posse de Nicolás Maduro no início de 2019, Haddad questionou: “não sei o que levou Gleisi a Caracas”, porque “o ambiente lá não é democrático”.
Cuba e Venezuela são um termômetro para medir o grau de compromisso da esquerda com o imperialismo ou com os povos oprimidos. Defendê-las é defender os povos oprimidos contra o imperialismo. Mas a esquerda pequeno-burguesa, pressionada pela direita, a fim de se mostrar de confiança para a burguesia, procurando permissão para administrar o Estado burguês, entra na onda da propaganda reacionária e começa a atacar esses países. Trata-se de uma mensagem enviada ao imperialismo: “não defendo Cuba nem Venezuela, estou com você, Tio Sam. Pode me colocar no governo, vou me aliar ao senhor, não a essas ditaduras.” Não é muito diferente do que fez Ciro Gomes há pouco tempo, rastejando na frente de Joe Biden quando este se saiu vencedor das eleições norte-americanas.
A esquerda que se alia a Boulos, se alia à direita
Apesar de todas essas demonstrações de que, na verdade, é um infiltrado na esquerda (sequer falei do apoio à PM e à GCM, por exemplo), Boulos recebeu ainda mais apoio de setores supostamente “revolucionários”.
Logo de início, Boulos teve a UP (legenda de aluguel do PSOL) e o PCB (apêndice do PSOL) como partícipes da fraude que é sua chapa. Obviamente, todos os grupelhos pseudorrevolucionários que integram o zoológico que é o PSOL também o apoiaram. Alguns deles, que se autointitulam trotskistas, como a Esquerda Marxista e o MRT. A mais nova aquisição de Boulos foi o PSTU, que declarou “apoio crítico” à sua candidatura no 2º turno. Bom, pelo menos o PSTU está sendo bem coerente, uma vez que apoiou o golpe e ataca Cuba e Venezuela.
Essa esquerda caminha a passos largos para o abismo. Mesmo dizendo-se revolucionária, embarcou de cabeça na política de frente ampla representada por Boulos, para colocar o movimento operário à reboque de seus algozes. São entusiastas da colaboração de classes, mesmo que, num passado não tão remoto, tenham se recusado a lutar contra o golpe justamente porque o PT praticou a colaboração de classes. Mas eu não me esqueço: quando o PT vivia uma lua de mel com a direita, eles estavam lá, junto com o PT, apesar da colaboração de classes… Foi só a direita dar um pé na bunda do PT que eles abandonaram o PT e fizeram coro com a direita pelo golpe!
A esquerda abandonou completamente a independência de classe. Se prostituiu para a burguesia. É preciso combater essa traição escabrosa. Àqueles que não concordam com tamanha baixaria política, conclamamos a se organizar e lutar para construir um verdadeiro partido de esquerda, operário, independente da burguesia, anti-imperialista. Somente a organização independente da classe operária será capaz de reverter a situação que a esquerda pequeno-burguesa oportunista está levando às massas populares. Somente essa organização independente pode fechar as portas do abatedouro da burguesia que a esquerda pequeno-burguesa abriu para jogar os trabalhadores.